Keith and The Dad

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Me virei na cama, pegando meu celular. Não passava das seis da manhã ainda. Não sabia se havia dormido naquela noite ou não. Sentia que não, pois meu corpo estava cansado e minha mente mais ainda, sem parar de pensar por nem um segundo sequer na burrada que havia feito. Não conseguia decidir se me odiava mais por ter beijado Mike ou por ter saído correndo, e isso estava me matando aos poucos. Não contente em me botar nessa situação toda, também estava sendo ridiculamente frio com ele, mas nem sabia como o encararia. Não teria coragem.

Rolei para fora da cama e fui direto para a cozinha, sem me incomodar em parar no banheiro. Não queria ver meu reflexo no espelho. Caminhei até o sofá e me joguei nele, me encolhendo o máximo que conseguisse, as luzes todas ainda apagadas. Não tinha intenção nem de mudar isso em nenhum momento, a escuridão do lugar me fazia sentir um pouco menos sozinho, como se não pudesse ver que eu era a única pessoa ali. Na verdade gostava de estar sozinho, mas não tinha nada pior do que me sentir solitário, como se ninguém no mundo se importasse... E agora mais do que nunca me sentia terrivelmente solitário, talvez ainda mais sabendo que meu pai estaria chegando para ficar uns dias comigo.

Só que pensar que ele estaria ali o dia todo fazia minha pele arrepiar completamente, e o pior de tudo, a pessoa que eu mais pensava em conversar para fugir do ambiente de casa não era uma possibilidade no momento. Suspirei alto, olhava pelas frestas da cortina mas sem realmente enxergar nada, apenas perdido em meus pensamentos cada vez mais profundos, já quase formando um abismo em minha mente. Um abismo muito difícil de fugir.

Fiquei deitado pelo que pareceram horas, apenas me culpando, sem nem meu celular para me ocupar. Não tinha coragem de mandar mensagens para a única pessoa que eu gostaria de falar e puramente porque era um covarde que não conseguia aceitar que realmente gostava de um garoto. E como gostava... Mesmo que tecnicamente tivesse sido apenas um selinho, para mim era muito mais. Nunca havia beijado ninguém, nunca havia me interessado em ninguém e ninguém nunca havia se interessado assim por mim. Não que eu soubesse que ele estava interessado em mim, mas era a impressão que tinha e a esse ponto já não me importava de me iludir pensando aquilo, já estava completamente cego com meus sentimentos. Mas mesmo assim não tinha a capacidade de tomar uma iniciativa concreta e o afastava quando ele tentava.

Quando voltei aos meus pensamentos, notei que havia se passado apenas duas horas, e apesar do sol já ter nascido, ainda era cedo demais para alguém que estava de férias estar acordado. Naqueles momentos não sabia o que fazer, porque não importava realmente o que fizesse, minha mente nunca conseguiria se focar. Caminhar nunca havia sido muito meu tipo de passatempo e provavelmente nunca seria, mas para organizar os pensamentos era ótimo, e era isso que eu precisava fazer para entender o que eu estava sentindo. Então foi isso que fiz.

Peguei as chaves no balcão da cozinha e saí de casa rapidamente, me cobrindo da chuva apenas com meu casaco antes de entrar no carro. Não queria nem pensar muito no que estava fazendo, já que se pensasse minha mente viraria uma fossa. Realmente não queria estar fazendo aquilo e daria provavelmente um rim para nunca mais ter que fazer aquilo, mas era hora. Girei a chave e comecei a dirigir vagarosamente pelas ruas do meu bairro, já pensando na tortura que seria ter meu pai comigo em casa pelas próximas semanas.

Sem pensar duas vezes liguei meu rádio e aumentei o volume no máximo para ouvir Bottle Rocket do Briston Maroney, me controlando um pouco para não berrar a letra, mesmo que ninguém fosse ouvir. Precisava extravasar um pouco do nervosismo que sentia naquele momento, e nada melhor do que uma batida forte para encher meus ouvidos e ocupar minha mente. Não queria pensar em nada, pelo menos não até chegar no aeroporto.

Mike, Keith and the...Onde histórias criam vida. Descubra agora