Keith and The Guilt

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Tirei o clarinete da boca, respirando fundo para que pudesse recuperar meu fôlego.

— Acho que isso encerra nosso ensaio de hoje. — a professora comentou fechando sua apostila.

Olhando em volta, podia notar que todos estavam cansados, mas todos com pressa de guardar seus instrumentos para sair de lá o mais rápido possível. Fiz o mesmo, guardando Clarry com cuidado enquanto alguns de meus colegas já saíam pela porta e alguns ainda conversavam entre si. Achei que teria paz e poderia chegar logo em casa, mas senti um cutucão em minhas costas, me fazendo virar apenas para ver Austin com a capa de seu violino no seu colo.

— A gente pode conversar? — o olhei inexpressivo por alguns segundos, pensando no quanto eu queria ir para casa logo. — Vai ser rapidinho, juro.

Suspirei.

— Tá bom, mas vamos indo pro estacionamento que eu não quero perder tempo não... — falei fechando a capa do clarinete.

— Ensaio sexta é um porre né? — ele riu desajeitado, como se não estivesse acostumado a falar daquele jeito.

Caminhamos por um tempo pelo corredor, e quando parecia não haver ninguém por perto, pude ver que ele buscava a coragem para falar algo, então suspirei fundo e me parei de frente para ele, o que o surpreendeu, o fazendo parar também. O olhei sem falar nada, o incentivando a desembuchar o que tinha para falar, mas mesmo assim as palavras não pareciam querer sair.

— Tu não tinha algo pra me dizer?

— Eh... Eu queria te perguntar uma coisa na verdade. — ele mexia suas mãos de forma nervosa, o que me irritava um pouco no momento.

— Manda bala. — tinha quase certeza que dava para ouvir a impaciência em minha voz.

— Tu e o Mike... Ai quer saber, deixa pra lá.

— O que tem nós? — desconfiei tentando não parecer defensivo, mas curioso demais para deixar aquilo passar em branco.

— Não importa acho... — o encarei frustrado, suspirando alto. — Tá, é que vocês são mega próximos né... Eu queria saber se vocês tão tipo... Juntos.

O encarei por alguns segundos, minha expressão inabalada, tentando não ser óbvio demais mas com minha mente a mil, correndo para processar a informação logo. Desviei o olhar, pensando se talvez Mike tivesse comentado algo, mas ao mesmo tempo sabia que ele definitivamente não falaria para Austin, e também nós tentávamos ser discretos em volta das pessoas que não sabiam. O olhei de novo, ele não me olhava mais e parecia nervoso como se tivesse falado algo absurdo. O que não deixava de ser verdade.

— De onde tu tirou isso?

— Eu não sei, eu só notei que vocês são bem próximos, tu sempre fala dele, principalmente com a Diana, e também pelo jeito que vocês se olham... Notei no dia do teu aniversário que ele não parava de te encarar.

— A gente é amigo, ué, nunca viu dois homens que são amigos? — falei sem notar que estava defensivo demais.

— Sim, já, claro... Eu só tava curioso porque... Deixa.

— Para de começar a falar as coisas e depois dizer "deixa"! — falei bem mais irritado do que gostaria, suspirando fundo para me acalmar. — Desculpa, não sei o que deu em mim... Mas pode falar.

— Hmm... Tá. Mas promete que não vai ficar bravo, eu só tô curioso. Tu gosta dele? Ou de homens no geral.

Nunca havia pensado tanto nisso, até porque o assunto me deixava levemente nervoso e eu não queria ficar inseguro sobre nenhuma parte de meu relacionamento. Não sabia ainda me definir e até que estava tranquilo com isso, sem necessidade nenhuma de me rotular. Eu apenas gostava de Mike.

Mike, Keith and the...Onde histórias criam vida. Descubra agora