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Robby passou o caminho inteiro do tribunal ao reformatório pensando em quão importante seria não se meter em confusões e repetindo isso como um mantra. A verdade é que tinha esse hábito de se culpar por tudo, desde o abandono do pai ao vício da mãe, e também acabava se culpando por cada briga que havia tido. E prometeu a si mesmo que não ia deixar isso acontecer de novo e que nada o impediria de sair logo desse lugar com um comportamento impecável. A fantasia durou pouco mais de uma hora. Robby devia ter sabido que não seria tão fácil, nunca era.

A verdade é que sempre reagia quando via algo que achava injusto. Foi assim quando Miguel foi agressivo com Sam na praia, quando Hawk atacou Demetri no shopping, quando Johnny atacou Daniel ao descobrir que ele estava treinando seu filho, quando Trey e Cruz tentaram roubar Daniel... e no seu bendito primeiro dia nesse inferno, Shawn e os amigos dele resolveram agredir esse garoto latino, do nada. E se Robby fosse um pouco menos impulsivo, teria visto que se meter apenas o tornaria um novo alvo, mas quando percebeu, já estava perto encarando os três e perguntando ao coitado se ele estava bem depois de ter a cabeça batida contra a mesa.

Não queria começar briga nenhuma e se manteria fiel aos princípios do Miyagi-Do que mudaram sua vida, apesar de não ser mais bem-vindo entre eles. Seu karatê ainda era apenas para defesa, isso era importante para ele e não iria abrir mão. Depois de todos aqueles golpes, caído no chão e segurando as costelas doloridas enquanto mal podia respirar, Robby pensou que não poderia ficar pior. Se teve algum otimismo quanto à sua estada nesse lugar, ele havia desaparecido quase instantaneamente.

Foi à enfermaria para ter certeza que nenhum osso estava quebrado e depois ao setor responsável para descobrir como seria o serviço comunitário que faria. Já sabia que metade ou mais seria no hospital, mas acabou por descobrir que o restante seria servindo ou cozinhando num centro de doações. Era um trabalho importante e ele gostava de cozinhar, então talvez não fosse tão ruim assim. Isso foi o que achou por algumas horas, até chegar a hora de ser levado ao local e descobrir que estava no mesmo grupo de Shawn e seus amigos. Honestamente, ele não sabia quem ele tinha enfurecido. Isso era karma? Ou só era a pessoa mais sem sorte do mundo?

Na primeira noite, não conseguiu dormir nada. O corpo ainda estava todo dolorido e não conseguia achar uma posição confortável. Conseguiu um livro interessante pra ler e se deu por satisfeito, afinal era melhor que ficar morrendo de tédio o dia todo. Sentava sozinho e lia, comia sozinho e evitava interagir com quem quer que fosse. Não queria acabar causando outra briga sem querer, acabaria ficando marcado pelos funcionários e sua diminuição de sentença iria pelos ares.

Lá pelo quarto ou quinto dia, já estava cansado de passar tanto tempo sozinho. Sempre tinha sido uma pessoa quieta, mas até ele sentia falta de ter alguém com quem conversar. Quando o guarda chamou os nomes de quem receberiam visitas e ele estava na lista, se surpreendeu. Mais ainda quando soube que seu visitante seria Johnny. Não queria de modo algum cultivar esperanças, mas não pôde evitar o sorriso. Saber que não havia sido simplesmente esquecido ali dentro era um alívio. Dormiu melhor naquela noite e acordou com mais energia. Tomou banho, escovou os dentes e aguardou a hora da visita.

Johnny não estava lá. Mas o pastor amigo dele estava e Robby se sentou com ele para esperar o pai. Se ele tinha se dado ao trabalho de combinar com Bobby, ele realmente ia aparecer, certo? Quinze minutos se passaram e Robby começou a mostrar sinais de ansiedade, torcendo as mãos, estalando os dedos, mordendo os lábios, balançando as pernas. Meia hora depois se sentiu revivendo os momentos na infância em que esperava que Johnny aparecesse para comemorar o aniversário ou o Natal com ele, ou aguardava em vão ao lado do telefone esperando uma ligação que nunca chegava. Se levantou, disse que sabia que ele não viria e foi embora antes que perdesse a compostura ali mesmo. Bobby não merecia, tinha sido muito atencioso. Devia ter sabido, a culpa era sua por ser tão burro. Quantas vezes tinha passado exatamente pela mesma situação? Quantas outras chances ele ia dar para ser decepcionado de novo?

Reparação e Desejo (Kiaz/Robbyguel)Onde histórias criam vida. Descubra agora