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O som incessante do despertador foi o único motivo para Robby levantar da cama naquela manhã. Após desativá-lo, considerou seriamente deitar de novo e fingir que o mundo não existia. Tudo o que queria era entender o que estava acontecendo e por que Miguel estava agindo daquela forma. Talvez estivesse apenas nervoso e as coisas melhorassem quando se vissem na escola, Miguel poderia até já estar arrependido de ter recusado carona. Pensar nessa possibilidade fez Robby se arrumar com uma leve fagulha de esperança, tentando ignorar a sensação opressiva do peso no coração. Estava confuso e desolado, mas não ia desistir tão rápido. Precisava conversar com Miguel e ter certeza que não havia sido só algo dito no calor do momento, inflamado por uma crise de pânico. Ele sempre fazia isso, havia feito o mesmo no hospital, era um mecanismo de defesa. E conversar de cabeça fria ajudaria muito.

Se arrumou para ir à escola e percebeu o quanto estava adiantado, já que sempre calculava o tempo de buscar Miguel e de tomar café. Agora não tinha mais Miguel para ir buscar e também não sentia fome alguma. Queria chorar só de pensar no que havia acontecido no dia anterior e os sentimentos se misturavam de uma forma arrasadora. Confusão, tristeza, decepção, esperança, medo, raiva, culpa… dirigiu até a escola com a atenção dividida e parou bem em frente. Não se importava mais, simplesmente estava cansado de tentar se proteger e sempre acabar sendo machucado de alguma forma. Iria parar de se esconder e enfrentar o que viesse, agora que não tinha ninguém a quem proteger. Parando para pensar, nunca havia tido, era apenas uma ilusão.

Procurou por Miguel antes da aula, mas não o viu em lugar algum, acabou desistindo antes que se atrasasse. A primeira aula ele dividiria com Sam e Moon. Elas perceberam claramente sua expressão triste e preocupada, mas ele não quis dar detalhes antes de poder conversar com o namorado. Ou ex, Robby pensou. Teria aula com Miguel logo em seguida e talvez conseguisse falar com ele no corredor antes de entrarem. Se apressou a sair da sala e foi direto para a próxima, encostando na parede e aguardando a chegada do moreno.

Miguel chegou poucos minutos depois, e se Robby tinha qualquer esperança de que o que ele havia dito fosse apenas fogo de palha ou dúvida de que ele realmente queria dizer o que disse, ambas se dissiparam assim que ele avistou o outro, a expressão neutra quando o viu, como se ele não significasse nada; Hawk c ele, empurrando sua cadeira alegremente; quando eles passaram pela porta para adentrar a sala, Miguel nem se dignou a olhar para ele, apenas fingiu que não o conhecia. Hawk foi mais além e deu o típico empurrão em seu ombro que já era seu movimento característico para afrontar Robby, mas dessa vez não despertou a raiva de antes, apenas o fez sentir completamente vazio.

Entrou na sala e se sentou sozinho, observando Miguel e Hawk se juntarem a Tory, Doug, Mitch e Mike. Todos trataram o moreno como se fosse um herói voltando da guerra, e ele simplesmente aceitou a atenção, daquele jeito um pouco tímido que Robby achava tão fofo. Ele conversava com Hawk e Tory baixinho, fazendo os deveres e ignorando a existência de Robby. Era quase como se o tempo desde o acidente até a noite passada não tivesse realmente existido, fosse apenas uma alucinação da mente carente de Robby. Ele demonstrou sua vulnerabilidade e confiou demais, um erro que parecia cometer repetidas vezes, e agora seu coração estava partido. Se perguntava se um dia aprenderia ou continuaria nesse ciclo eternamente.

Não tinha mais ninguém com ele nessa aula e passou o resto do tempo espiando Miguel sem nem tentar disfarçar. O outro nem sequer olhou em sua direção, rindo e fazendo piadas com Hawk e Tory ou fazendo seus deveres, sem se distrair. Robby tinha esperança de que Miguel estivesse mentindo, mas a total falta de atenção o fez perceber que realmente fora enganado. Sentiu um aperto horrível no peito e as lágrimas queimando atrás de seus olhos, mas se recusava a perder a compostura em público. Não iria dar esse gostinho a eles.

Foi trabalhar e Amanda quase o mandou para casa, ela percebeu na hora que ele não estava bem e perguntou se ele estava doente. Ele não quis dizer a verdade ainda porque não queria que eles soubessem quem Miguel realmente era, ainda mais depois de ele ter garantido que o namorado era uma boa pessoa e havia mudado com ele. Daniel tinha razão, no final, e Robby era um idiota iludido.

Reparação e Desejo (Kiaz/Robbyguel)Onde histórias criam vida. Descubra agora