Santo álcool

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Para acompanhar Edmilson, Karlene entrou em casa, mas muito mais calmamente, é claro. Subiu as escadas degrau por degrau e foi lentamente até o quarto onde o outro estava.
- Karlene, você também viu, não foi?

Ela não respondeu.

- Na janela, você viu, eu sei que você viu.
- Sim, eu vi. - Ela mentiu, não tinha visto nada, bem sabia do que o amigo estava falando.
- Bom....vamos dormir nesse quarto hoje.

- Se te ajuda.

O terceiro dia, três sempre foi um número da sorte para Edmilson, não chegava a ser seu número favorito, mas chegava perto.
Mesmo assim, decidiu permanecer fora da sociedade aquele dia. Pensou que talvez o pesadelo que o fazia de bobo aparecia quando estivesse pensando que não havia ninguém na residência.
Surpreender surpreendentemente aquele que antes o surpreendia.

Por esse motivo ignorou as chamadas repetitivas de Karlene, que querendo sentir um pouco de ar fresco, talvez pelo primeira vez na semana, saiu pelas ruas.
A menina foi pelo portão sem destino específico, mas a fim decidiu ir à igrejinha que enfeitava a ponta da cidade.

Perto do centro, se pudesse o chamar disto, a pequena igreja barroca fincava forte como havia permanecido a muito tempo. As paredes grossas rebocadas com uma massa estranha e branca eram detalhadas nas pontas com uma forte cor azul.
A construção parecia parada, ignorando algumas sujeiras aqui e ali, marcas de bola de futebol e da natural erosão, a igrejinha quase que brilhava no resto da paisagem.

Karlene entrou envergonhada, devagarinho ela se aproximava do altar. No centro dele havia apenas uma coisa, um pedestal.
Emcima dele estava a estátua de madeira de Santo Aré. Ou pelo menos o que haviam a convencido que era Santo Aré.

A estátua era tão desgastada, e foi assim desde que a havia visto pela primeira vez, que o rosto do homem não era mais mostrado.
A maioria das características da estátua também estava raspada, a pintura descascava e as partes pequenas como a orelha e uma das flores que o Santo segurava já haviam sumido.

Observava a escultura por alguns segundos, sentiu vontade de quebrar-la. Mas rapidamente desistiu.
Quando virou-se para sair da Igreja. E por um segundo, duvidou de seus próprios olhos.
Tinha certeza que alguém estava a observando pelas portas de madeira da pequena catedral.

Mas sua mente não teve tempo de pensar. Seus reflexos agiram rápido o suficiente para parar a  estátua no curso para o piso.
E quanto pôs seus dedos envolta do pequeno Santo, sentiu algo estranho. O objeto era muito mais leve do que pensaria que era.

Era um santo do pau oco.

A base tinha uma estranha tampa que revelava um interessante "buraco" no centro da estátua. Balançou ela um pouco, e do vácuo saiu um papel amassado.
Um barulho alto vindo do lado de fora a impediu de ler o papel no mesmo momento, colocando ele no bolso, Karlene saiu para investigar a origem do som.

- Um...cavalo? -  o animal parecia ter aparecido do ar. De onde ele veio? Não parecia ter pegadas de cavalo na terra envolta da igreja. A presença do animal acompanhada da incrivelmente desconfortável de estar sendo observada estava implorando para ir embora.

Decidiu ler o papel em casa, com mais calma, sem a presença do cavalo, que agora te encarava. 
Andando cada vez mais rápido na direção do que agora havia se tornado sua casa temporariamente.
Mas o sentimento desconfortável permanecia.

Olhou para trás e percebeu que o cavalo parecia ficar cada vez mais perto. Mesmo que parecesse irracional no momento, a reação de seu corpo foi correr como se não houvesse amanhã.
Não sabia se o animal estar lhe seguindo era apenas de sua cabeça, mas preferiu não pensar sobre isso.

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