Coisinhas de menina

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- Ir as compras? - A face de Karlene era um pouco incrédula. Por que Dorotéia estava a tratando como se elas fossem melhores amigas.

- Mainha disse que você estudou roupas.

- Estilo. Eu fiz faculdade de estilo.

- Isso, isso mesmo. - Ela entrelaçou seus dedos - Eu não tenho muitas roupas boas para a festa da paróquia. Você sabe, eu tenho que o impressionar.
Karlene torceu o canto de sua boca.
- Espera aí, eu vou pegar o carro.

As duas entraram no Strada, Dorotéia se assustando um pouco com o barulho do motor. Olhou para todos os cantos do carro, havia visto carro, motos, antes, mas aquele era bem mais moderno do que os anteriores.

Foram então rodando pelas ruas de terra, pegando o caminho mais próximo de uma estrada que achava na esperança de encontrar algum lugar.
Karlene tinha dormido na vinda para Santo Aré, mas não queria admitir que estava perdida. Decidiu então usar um truque tão clássico como o próprio tempo, apenas ir cada vez mais longe da cidade.

Com pouco confiança ela ia evitando a grama alta e seca. Esperando algum tipo de cerca ou placa que indicasse que ela havia saído de lá, depois de tanto seguir em frente já começava a pensar se a cidade era infinita. Mas felizmente era apenas impressão.
- A grade, a entrada deve ser lá! - Dorotéia exclamou surpresa, talvez nem ela soubesse onde a propriedade começava e terminava.

Chegando mais perto, Karlene sentiu seu estômago revirar. Um sentinela sentava calmo perto do portão principal.
- Dorotéia, abaixa. - Empurrou a cabeça da menina de modo que não era vista pela janela.

Parou ligeiramente do homem, longe o suficiente para esconder, perto o suficiente para fingir. A expressão de seu oposto se limitou a uma afirmação com a cabeça.
Tentando não deixar perceber seu medo, Karlene calmamente foi acelerando o carro, fazendo um sinal para que Dorotéia levantasse.

- Fazia tanto tempo que não via Seu Marcos, bom saber que seu rosto ainda não tem músculos. - a menina conseguiu suspreender Karlene por, um agora incontável, número de vezes.
Finalmente, conseguiram ficar as duas sozinhas, não faltava muito tempo para as moças chegarem na cidade mais perto, rezando que ela tivesse ao mínimo uma loja de roupas. Mesmo assim, esse tempo foi o suficiente para que Dorotéia visse o que estava escondido no porta-luvas do carro.

- Ei! Tira sua mão daí! - O rosto de Karlene avermelhou ao ver nas mãos rápidas da outra a coleção de CDs antiga, indo de Roberto Carlos e Avril Lavigne, definitivamente não era o que queria ouvir agora.
- Calma, calma. - Era tarde demais, música genérica de sertanejo, provavelmente de um dos CDs velhos do pai de Edmilson. Karlene agora acelerava o carro, para que acabasse o mais rápido possível a viagem.

Algumas estradas e placas de "bem-vindo" depois, finalmente pararam na frente de um centro comercial.
Estampada na vitrine de um dos comércios, a coleção de verão posta estrategicamente logo chamou a atenção de Karlene. A outra menina, por outro lado, se interessava muito mais nos lançamentos antigos de outono.

Havia uma coisa sobre a costura delicada nos vestidos cor de terra que roubava seus olhos.
Namorou-os um pouco antes de decidiu qual provar, os diversos tecidos estavam a deixando confusa, mas pela inclinação de Karlene, decidiu em um vestido bege bebê.
Sua cor destacava na pele escura da menina, enquanto sua forma representava de uma forma fútil sua inocência. As bordas rodadas se levantavam quando a menina girava, fazendo a outra imaginar quão linda ficaria na noite da festa.

Não, tão impróprio.

Compraram o tal vestido, Karlene levando uma calça jeans simples para si, nada tão grande, nada tão pequeno.
As duas então saíram pelo centro e ficaram olhando as vitrines, ameaçavam a comprar alguns sapatos e perfumes, algumas vezes dando meia volta.

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