Segredos de amigas

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Era muito antes de sua mãe sair da cidade, muito antes de ter abandonado seus amigos em Santo Áre, Karlene ainda fugia de seus vizinhos, a menina tímida se escondia na lavora para não ter que interagir com aquelas crianças. Ficava as olhando de longe, passando vontade de ter aquela felicidade.
Mas sua mãe não gostava que ficasse na janela, falava que não devia ficar se doendo e que se fosse vista pelos outros seria taxada de estranha.

Com o tempo Karlene foi crescendo, tanto em sua altura quanto em cabeça. Aos dezesseis já alcançava os 1,72m, nesse tempo começou a ouvir de suas mãe como iriam embora, iriam fugir daquele fim de mundo e chegar na cidade.
Ao inicio a ideia martelava em sua cabeça com uma certa esperança, as imagens da capital piscavam em sua mente sempre que a tal era mencionada, grandes gigantes de concreto rodeados pelas ruas cheias da vida rápida, entretanto, mesmo com todas as seduções do mundo urbano havia algo que a fazia ficar um passo atrás.

Havia conhecido uma menina, a cidade era tão pequena que não poderia evitar de encontra-la, aos meios dos trabalhos rurais. Era Dorotéia, seu cabelo longo e cacheado fluía pela céu quando corria pelo vento, sua pele bronzeada brilhava no sol da tarde, seus olhos escuros brilhavam no tom de mel ao ficarem perto de uma chama. Usada na época para ler livros a noite, uma hora proibida.

Foram se aproximando e se aproximando, seu rosto ficava cada vez mais perto toda vez que se encontravam. Karlene as vezes sentia a respiração de Dorotéia em seu pescoço, minando em seu rosto um tom avermelhado ao meio da pele negra.

Karlene estava se estranhando, não conseguia manter a feição fria nem perto de seus outros vizinhos, ao conversar com Dorotéia soltava a tempos um sorriso inconsciente.
Tentava controlar-se, mas era impossível. A charmosidade da mais nova na roça chamava mais que apenas atenção, chamava interesse e talvez, chamasse até amor.

No último dia antes da saída de Karlene, a mesma foi a casa de Dorotéia, para visitar ela justificava.
Saiu de casa tarde, mas cedo o suficiente para aproveitar a luz do sol, planejava voltar na caída da noite sem que sua mãe perceber.

Chegou lá no silêncio, já perguntando a Dona Marta onde estava Dorotéia. Nem esperando-a responder, já foi indo a porta velha do quarto da menina.

Fechou a porta atrás de si. Conversou com ela que iria embora, que não sabia quando ia voltar, que ia para a cidade procurar uma vida melhor.

Mas o que aconteceu depois não se pode contar, afinal era um segredo de amigas, que só as duas sabiam.
Talvez realmente seria um sonho.

Acordou com o som do cantar dos pássaros que tanto odiava, o achava irritante, entretanto, naquele dia em particular não sentiu-se tão ruim.
As cores pareciam estar mais vibrantes, mas apenas pareciam.

Levantou-se e tomou o café mal coado que assombrava seu cotidiano, mas naquele dia, o sabor amargo não era tão ruim.
Saiu cedo desta vez, dizendo a sua mãe que iria voltar a hora do almoço e saiu, apreciou o calor que emanava da terra alaranjada que ficava entre sua casa e a da Dorotéia, que tentavam a convencer de chamar de estrada.

Chamou no portão de madeira por Dona Marta, que cuidava de seu deslumbrante jardim, tão bonito que todos da cidade se perguntavam onde achava tantos tipos de semente.
A mulher que na época ainda não demostrava as consequências da idade, mas já com a pele manchada de sol.
- Ela está na dentro com Edmilson. - O nome do garoto na época ainda era amargo, muito antes de se reencontrarem na faculdade.

Por conta disso, entrou mais alerta. Andou com passos mais leves, chegou na porta e se impediu de bater, estava sentindo um ar estranho, que não conseguia descrever. Suas pupilas se dilataram em horror ao perceber o que as duas figuras estavam fazendo, tentando fugir daquela realidade deu um passo para trás sem o cuidado de antes. 

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