A chuva que nunca passa

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Um homem, era um homem.

Uma homem sentado, olhando de um lado para o outro, com medo. Um homem que não sabia onde estava, quem estava. Se arrastando pelo feno e apenas uma toalha se recobrindo, ao notar a presença de Edmar, foi indo de encontro a parede.

Depois de muitas "calmas" saírem de sua boca, Edmar finalmente conseguiu se aproximar mais do misterioso.
- Qual seu nome?

- Eu não sei... nunca me deram um nome...

Alguma coisa conectou-se em sua cabeça uma informação que ainda não se sabe, e seguido dela, decidiu.
- Vêm comigo. - Respirou irritado.

O sem nome se levantou. E no primeiro passo,  caiu de novo. E se levantou. E caiu de novo.
- Eu... esqueci como andar.

Enquanto sua parte racional o gritava para apenas deixar o moço encharcado no chão frio de feno, mas quando se lembrou desta opção já era tarde demais.
Cobrindo seu copo sujo com uma jaqueta de ofício, Edmar já estava com o homem nos braços, deixando suas pernas fazerem o trabalho de evitar as poças de lama e goteiras na madeira, e elas fizeram tal trabalho muito bem.

Levou suas mãos ao volante, mas claro, lavou as antes com água de uma garrafa de plástico que havia comprado ainda na divisa de São Paulo. Olhou para aquele, que agora desacordado, em seu lado tentando reconhecer suas faces em profundas memórias, sabia que o conhecia, tinha que o conhecer, afinal, ele era seu.

Lembrou entretanto apenas de uma  época passada, uma visita a sua casa natal antes mesmo de terminar a faculdade de economia, mas aquelas imagens eram borradas, sem importância. Mais uma das últimas viagens que havia feito a Santo Aré. Mesmo assim,  ele parecia familiar.

 - Você trouxe o que pedi?

- Aham aham, mas antes preciso que você me ajude. - Confusa Karlene  pegou uma sombrinha e foi ao lado de fora cobrir Edmar.

Edmilson, que a esse ponto devem estar se perguntando onde se encontrava, estava no andar de cima, perdendo sua mente para a paranoia e as câmeras, das quais já havia contado a Karlene, e em resposta recebendo "eu já estou ocupada".
Queria parar por um tempo para se acalmar, afinal, por mais que não lembrasse mais, ainda estava de férias. Portanto decidiu descer para tomar um café. Os mais caros da colheita, diferente de outras vezes que havia decido aquelas escadas, estava muito mais cansado, do que animado. Mas sabemos que ele ainda não poderia descansar.

- O que você está fazendo aqui? - Um tom meio indignado acompanhava a surpresa de ver seu irmão na sala, e pior, segurando um homem desconhecido.

Edmar olhou confuso para Karlene.
- Você não contou pra ele?

- Eu ia contar, só me dá a caixa logo. - A embriagues da surpresa passou e Edmilson finalmente percebeu o homem que estava nos braços de seu irmão.

- Quem é esse cara? E por que ele está...

- Eu não sei. Não tenho tempo para isso agora.  - A resposta de Edmar irritou nosso protagonista.

-  Como assim? Você não pode aparecer do nada e trazer um desconhecido para dentro de casa.

- Esta casa é minha também.

- Ela deixou de ser sua a muito tempo. 

...

- Ele não é um desconhecido, você apenas não lembra dele. - Colocando-o no fofo sofá avermelhado no centro da sala, Edmar chamou Edmilson para vê-lo de mais perto.

- Eu já vi ele com pai, algumas vezes...Gustavo, isso.

- Gustavo? Então ele tem um nome. 

- Fazia tanto tempo que não o via...ele apareceu do nada assim?

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