Brilho cavalesco

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Assunstado com o barulho, Edmilson quase que de imeadiato voltou a cama, seria mal visto se o pegassem mechendo onde não devia.
- Pode entrar. - Sua voz ainda ríspida por ter acabado de acordar.
Tímida Dorotéia abriu a porta, seu olhos negros brilharam ao ver que o seu moço estava bem. Saltitou feliz até o lado dele, se rastejando até o lado da cama.

Sentada no canto direito, chegou com sua boca cada vez mais perto da orelha de Edmilson, que por sua vez aos poucos se afastava como reação normal de desconforto.
- Não conta para mãe que eu te disse, mas tenta não comer o que ela mandar.

Uma frase de aviso assim assustaria qualquer um, mas vinda dos lábios de Dorotéia era de alguma forma pior. Provavelmente percebendo o pequeno choque no rapaz, ela foi se explicar.
- Eu vejo as vezes ela derrubando umas gotas do meu remédio ba comida, eu não sei por que ela está assim. - A moça se afastou um pouco - Deve ser a velhice.

- Dorinha! Minha filha, para de enjoar o Edmilson, ele deve estar cansado!

A entrada repentina da moça assustava, mesmo com sua estatura pequena ela exalava um ar de superioridade sobre a menina.
- Mã-mãe! - ela se assusta e sente seu coração palpitar, de vergonha, ou com medo de sua mãe ter percebido, correu de lá o mais rápido possível.

Como se estivesse a seguindo, Edmilson se levantou e foi até a porta, sendo barrado apenas pelo braço de Dona Marta.
- Você vai sair sem comer nada?

- É melhor eu não comer por agora. - Fugiu dos braços da velha, correndo educadamente da casa em direção a...rua?
A verdade é que ele não tinha muito para onde ir, pensou em voltar para seu casarão, mas havia passado tanto tempo entre aquelas paredes que estava se tornando parte delas.

Correu então para o centro, não era um centro comum, apenas uma estranha formação que as casas pareciam fazer naturalmente ao redor de uma grande árvore. Não é como se fosse planejado, como se as próprias casas estivessem crescendo, muito expandir.
Mas expandir era impossível para Santo Aré. A estagnação eterna, era o único destino possível.

No seu estado inacabado de confusão, ficou rodando envolta da grande árvore no centro do centro da cidadezinha. Quando tinha por volta de 7 anos, seus vizinhos espalharam alguns rumores sobre a árvore, ele se lembrava bem, que o próprio Aré estava nela.
Preso para sempre em suas raízes.

Mas assim como os supostos crimes de seu pai, são apenas rumores.

Depois de tanto olhar pra a madeira estranhamente escura, começou a perceber alguns estranhos reflexos que vinham do material.
Sua curiosidade tomou o melhor de si, sem antes olhar para os lados, só para confirmar que ninguém estava o vendo, decidiu chegar mais perto do estranho galho de onde vinha o brilho.

Uma câmera? Ele pensou, chegando cada vez mais perto os detalhes do aparelho iam se formando na sua visão.
Até que finalmente conseguiu a tecnologia em seus dedos. Agora tão perto ficava claro o que era, uma pequena câmera, similar a aquelas que seu pai usava em seus cofres. Edmilson gostava de brincar com elas, mesmo com sua qualidade duvidosa, tanto de imagem, tanto do próprio aparelho, achava seu tamanho engraçado.

A aqueles que não conhecem seu pai, uma câmera escondida na árvore do centro de uma cidade tão pequena parece no mínimo estranho. Mas para os próximos a o homem extremamente protetor de seus projetos e riquezas, não era a simples presença do objeto que o estranhava.
Mas sim sua condição quase perfeita, sem riscos, rachaduras ou outros defeitos, era claro que para algo de qualidade tão ruim como aquela estar tão bom, a única explicação era o fato dele ser novo. No máximo três semanas de uso.

Entretanto, havia um problema, havia muito mais que três semanas que seu pai, ou qualquer outro de seus funcionários lembraram de circular nas ruas de terra.
Mesmo assim, decidiu acalmar sua mente, era difícil imagianr que qualquer um dos moradores conseguiriam utilizar, muito menos instalar, aparelhos de tanta complexidade. Seu pai provavelmente teria esquecido de documentar a entrada e saída de funcionários na cidade, mesmo que, com sua personalidade controladora, era algo estranho.

Tão perto, tão longe. Do outro lado da rua Karlene esperava o mais calmamente que conseguia pela caída da tarde.

Não estava planejado nenhum evento específico.
Apenas queria confirmar algumas teorias que se formavam em sua mente. Curiosa e confiante ela procurava as roupas mais escuras que tinha.  Negava a intenção de parecer suspeita, desde o bilhete que leu na sua igrejinha pensou em fugir daquele lugar e nunca mais lembrar de tal. Mas o sumiço de Edmilson deu um atraso em seu plano.

Nunca esperou pelos outros, mas nessa vez decidiu abrir uma excessão. Karlene odiava esperar, mais tempo parada, mais tempo perdido.
Por isso, decidiu que não havia necessidade de esperar. Colocou uma blusa de manga longa preta, e um short escuro comum. Anos de escola de moda sendo desperdiçados, ela pensava toda vez que usava aquela combinação.

Saiu nas escondidas pela porta de trás, que dava para o pequeno jardim da finada Camila, agora cheio de plantas mortas e graminhas.
Karlene vazou pelo pequeno portão de madeira que separava o jardim em decomposição da rua.
Andou procurando a tal lagoa, incrível o quão facilmente Karlene havia esquecido a organização se sua cidade natal. Mas não foi difícil de achar, a grande água quase passada diretamente atrás da casa de dona Marta, rodeada por algumas árvores.
- Mas o bilhete mencionava a árvore..? E ainda assim há varias delas. - disse ela a si mesma

Karlene foi escondida, sentou atrás de uma das árvores, aquela que a dava a maior visão da margem da lagoa, e ao mesmo tempo a mantinha escondida.
E então, ela esperou.

E esperou.

E esperou.

Isso estava cansativo, a moça não iria esperar a vida inteira, já havia perdido pelo menos seis minutos!
Quando estava prestes a levantar, uma figura finalmente a chamou atenção, ou melhor, um cavalo. O mesmo cavalo que encontrará na igreja.

Por mais que um cavalo não fosse realmente o que esperava, observa-lo parecia ser melhor do que esperar.
O animal calmamente se sentou no gramado que havia nas margems, permaneceu com a cabeça erguida ao observar o horizonte.

Mas derrepente, ele brilhou.
Uma luz, que parecia vir do próprio interior do animal, brilhou, se tornando cada vez mais forte. O incômodo da luz fez com que Karlene não visse a transformação por completa.

A verdade era que, nesse aspecto, Karlene era bem curiosa. A menina já ouvia da habilidade que algumas pessoas tinham o poder de se transformar em cavalos, sobre ser um processo doloroso e longo até atingir a primeira transformação.
Pensava que era difícil encontrar pessoas que fazem esses procedimentos, muito menos alguém que estivesse disposto a passar por aquilo. Mas vendo que havia um desses naquele canto do fim do mundo, talvez ela estava errada.

Se escondeu, certificando que o cavalo...ou ex-cavalo, não a visse.
A luz vindo da transformação foi aos poucos sumindo, os barulhos estranhos de carne se reconstruindo pararam.

O corpo do agora ser humano era escondido por ums poucos arbustos, que bloqueavam como uma parede entre ela e seu alvo.
Ele ficou alguns segundos deitados até que se levantou. Seu cabelo cacheado parecia de longe um pouco familiar.
Familiar demais.

- Juninho...? - Ela sussurou, baixo o suficiente para que só ela ouvisse.

Não, não podia ser. Juninho havia morrido há muito tempo, era impossível, talvez ela estava se lembrando errado de seu rosto, tinha tanto tempo que não o via.
Voltou a encostar no toco, tentando receber a informação.

Todavia, seu pensamento foi interrompido pelo  antes natural som de passos s grama. Pensando que ele estava vindo cada vez mais perto, Karlene decidiu correr.
Foi de volta a rua ,olhando em volta para confirmar que não tinha sido seguida.
- Karlene! Que coincidência!

- Dorotéia...?

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