CAPÍTULO VII

11.5K 1.3K 301
                                    

COM UM RANGIDO seguido de um novo tranco, o compartimento ascendente estancou, a súbita mudança tirou Thomas de sua posição encolhida e o jogou sobre o chão duro. Quando conseguiu se levantar, sentiu que o lugar balançava cada vez menos, até que finalmente parou. Tudo mergulhou no silêncio.

Um minuto se passou. Dois. Ele olhava em todas as direções, mas via apenas a escuridão; apalpou as paredes de novo, procurando um jeito de sair. Porém não havia nada, apenas o metal frio. Gemeu de frustração; o eco de sua voz amplificou-se no vazio, como o lamento fantasmagórico da morte. Os ruídos foram sumindo aos poucos e o silêncio retornou.

Ele gritou, clamou por socorro, esmurrou as paredes.

Nada.

-Alguém... me... ajude! -gritou, cada palavra rasgando-lhe a garganta.

Um rangido estridente acima da sua cabeça o sobressaltou e, engolindo em seco assustado, olhou para cima. Uma linha reta de luz apareceu no teto do compartimento, e Thomas ficou observando enquanto ela se alargava. Um som pesado e desagradável revelou portas duplas de correr sendo abertas à força. Depois de tanto tempo na escuridão, a luz feria-lhe os olhos; ele desviou o olhar, cobrindo o rosto com as mãos.

Ouvia ruídos acima − vozes −, e o medo comprimiu-lhe o peito.

-Veja só aquele trolho.

-Quantos anos será que ele tem?

-Parece mais um plong de camiseta.

-Plong é você, cara de mértila.

-Meu, que cheiro de chulé lá embaixo!

-Tomara que tenha gostado do passeio só de vinda, Fedelho.

-Não tem passagem de volta, meu chapa.

Thomas foi tomado por uma onda de confusão, dominado pelo pânico. As vozes eram estranhas, como se tivessem eco; algumas palavras eram totalmente desconhecidas, outras pareciam familiares. De olhos semicerrados, fez um esforço para enxergar na direção da luz e daqueles que falavam. A princípio só conseguiu ver sombras se movendo, mas elas logo ganharam a forma de corpos, pessoas inclinadas sobre a abertura no teto, olhando para baixo na sua direção e apontando.

E então, como se as lentes de uma câmera tivessem encontrado o foco, as faces tornaram-se nítidas. Eram garotos, todos eles − alguns mais novos, outros mais velhos. Thomas não sabia o que esperar, mas ver aqueles rostos o confundiu. Eram apenas adolescentes. Meninos. Alguns dos seus temores desapareceram, porém não o bastante para acalmar o coração acelerado.

Alguém jogou uma corda lá de cima, a extremidade amarrada em um grande laço. Thomas hesitou, depois enfiou o pé direito no laço e agarrou-se à corda enquanto era içado. Mãos estenderam-se para baixo, uma porção delas, alcançando-o, agarrando-o pelas roupas, puxando-o para cima. O mundo pareceu girar, uma névoa rodopiante de rostos, cores e luz. Uma tempestade de emoções fez seu estômago se contrair, contorcer, revirar; ele queria gritar, chorar, vomitar. Quando o puxaram pela borda áspera da caixa escura o coro de vozes silenciou, mas alguém falou. E Thomas teve certeza de que nunca esqueceria aquelas palavras.

-Bem-vindo à Clareira, novato. -Um garoto loiro diante de Thomas sorriu, cruzando os braços.

Thomas se levantou e sacudiu a poeira da camisa e da calça. Ainda atordoado pela claridade, hesitou um pouco. Estava morrendo de curiosidade, mas sentia-se muito enjoado para observar o local mais atentamente. Seus novos companheiros não disseram nada quando girou a cabeça de um lado para o outro, tentando assimilar tudo.

Enquanto dava uma volta em torno de si mesmo, os outros garotos riam dele e o encaravam; alguns estenderam a mão e cutucaram-no com o dedo. Deviam ser pelo menos uns cinquenta ao todo, as roupas sujas e amassadas, como se tivessem interrompido algum trabalho pesado, um garoto diferente do outro, de vários tamanhos e raças, os cabelos de comprimentos variados. De repente, Thomas sentiu-se atordoado, os olhos indo e voltando dos garotos para aquele lugar bizarro em que se encontrava.

REMENBER ME, maze runnerOnde histórias criam vida. Descubra agora