amores são eternos

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Já senti essa dor antes, só que agora ela é ainda pior, porque agora eu não tenho nenhum de vocês dois, e nada no mundo e universo vai trazer vocês de volta.
Dói saber que não vou mais ouvir suas histórias, as mesmas que eu já ouvi centenas de vezes, dói saber que não vou mais ver você de avental na cozinha, falando do almoço, bolos e gelatinas que fez, dilacera a alma saber que aquela casa nunca mais vai ter o mesmo significado, que nunca mais vou ver vocês brigando na cozinha.
É tão doído ter consciência de tudo o que aconteceu. Porque mal se foram três anos, e vocês dois já foram embora.
Nunca vou me acostumar a isso, não suporto o peso de entrar naquela casa, ver ela tão vazia, tão sem vida.
Vocês eram a luz daquela casa, os dois, juntos, aquela casa era pura alegria, mesmo com as suas brigas, na verdade elas eram engraçadas, eu achava graça toda vez que o vô brigava com você só por implicância, só por graça, para fazer a gente rir.
Eu ainda consigo ouvir o assovio dele naquele corredor, os passos, a cantoria no sábado de manhã, com o rádio tocando Roberto Carlos, ainda posso visualizar ele sentado ao lado do rádio todas as manhãs ouvindo a missa.
Ainda posso te ouvir, organizando os eventos em família, aniversários e natal, com uma bandeja na mão oferecendo pão para todo mundo. Ainda te vejo, passando batom, creme e base em frente ao espelho do banheiro, consigo ver nitidamente você penteando o cabelo, com aquele pente rosa.
Só que agora eu tenho consciência que você não está aqui, nenhum de vocês está aqui, a ficha finalmente caiu, mas a verdade é que eu preferia viver uma vida toda sem que ela caísse. Porque a partir do momento que ela caí, não tem mais volta.
Nesse quase um mês, toda vez que eu pensava em ti as lembranças eram "palpáveis", sempre usei essa palavra, porque acho que nenhuma outra representa tão bem o que eu sentia.
Eu conseguia lembrar de um jeito tão único, como se eu tivesse acabado de te ver, mas ontem, quando eu pensei em ti de novo, tudo estava diferente, as lembranças já não eram "palpáveis", elas estavam distantes, como se tivessem acontecido a muito tempo. Elas se tornaram apenas isso, lembranças.
E foi aí que a ficha caiu, que tudo o que eu tranquei e escondi veio a tona, como uma bomba explodindo bem na minha frente, e eu não fui capaz de esconder o estrago. Porque quando algo explode dentro da gente é praticamente impossível conter.
Foi tão rápido.
Chega a ser uma dor física, que para mim é humanamente impossível de explicar.
Quando o vô foi embora meu chão caiu, e eu lembro de todas as madrugadas que eu chorei escondida, lembro de cada lugar que eu chorei, e de como eu não queria nunca mais sentir aquela dor de novo.
Só que a dor de agora é pior, porque agora vocês dois foram embora. E por mais que eu saiba que tudo o que você queria era ele de novo, e que agora vocês estão finalmente juntos de novo, dói, é dói demais.
Eu cresci com vocês, naquela casa, morei com vocês, e mesmo quando eu não morava eu passava dias praticamente inteiros lá. E cada momento naquela casa com vocês dois foi único, foi sublime, mesmo com todas as brigas, puxões de orelhas, gritarias de manhã cedo, mesmo com tudo isso e mais um pouco, foi simplesmente perfeito.
E vai continuar doendo, pelo resto da minha vida, e eu vou sempre lembrar de cada momento, cada mínimo detalhe. Natais e fins de ano com o vô cantando voz e violão, da senhora levando um monte de comida para lage para ceia, de cada vez que o vô mandou meus primos e eu pararmos de correr no bar, cada vez que a gente chegou na sua casa e tinha uma mesa cheia de comida para o almoço de domingo (a senhora nunca esperava a gente chegar para te ajudar, sempre queria fazer tudo sozinha), e cada bolo que você fez no meu aniversário.
Eu posso não lembrar de muita coisa da minha infância, mas eu lembro de cada momento com vocês dois. E eu amei cada um deles.

Delírios Insanos De Uma Mente PerturbadaOnde histórias criam vida. Descubra agora