01. Caixas de mudança e vizinhos novos

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Já na segunda xícara de café, Carlos repassa sua rotina mentalmente, concluindo que seu dia vai se resumir no estágio e na faculdade e nada mais que isso, embora há uma partícula que o faz criar uma pequena expectativa de algo acontecer para surpreendê-lo e dizer para si mesmo o quão imprevisível a vida pode ser; ele não tem ideia do que quer que aconteça, mas ele deseja algo de novo para refletir, pode ser algum prêmio de reconhecimento do trabalho e/ou da faculdade, pode ser alguém repentinamente surgir em sua vida e criar alguma marca, só algo novo para movimentar seu dia e relembrar durante a semana. Ele não aguenta mais essa monotonia e está vendo a hora que irá perder a cabeça.

— Eu acordei me sentindo uma princesa hoje. — Carla anuncia no momento em que adentra a cozinha e vê seus pais e seu irmão gêmeo já tomando café.

— Você pode ser a princesa que é envenenada? — Seu irmão gêmeo indaga, abrindo um sorriso debochado e dando uma mordida na torrada, vendo Carla tirando o sorriso no rosto e mostrando o dedo do meio para ele, que logo é repreendida pela mãe.

— Por que você tem que ser desse jeito, Carlos? — A mãe pergunta assim que se senta e começa a se servir com o café.

— Não sei. Talvez, para mim, seja uma terapia alternativa estragar os prazeres da minha irmã.

— Porque ele não gosta de saber que estou tendo momentos de felicidade. — Sua irmã fala, dando o primeiro gole no café.

— Isso não poderia ser mais verdadeiro. Realmente, não gosto de saber e nem ver que minha irmã está sendo feliz, logo quando eu sou claramente o irmão mais bonito e inteligente e com um ótimo gosto musical. — Carlos se enaltece por um tempo e nota que sua família está revirando os olhos — Podem revirar os olhos a vontade, todos nós sabemos que estou falando a verdade.

— Carlos, eu só não te mando ir tomar naquele lugar por algumas razões. A primeira é porque você gosta muito, então não tem graça. A segunda é porque está cedo demais para esse tipo de linguajar. A terceira é porque sou linda demais para continuar perdendo meu tempo com você. — Carla aponta a faca para Carlos, divertindo-se com a situação — Enfim, vamos fingir que o príncipe do Reino da Amargura não está aqui e vou explicar o motivo para eu estar me sentindo uma princesa.

— Pode contar, filha. — A mãe diz.

— Hoje eu tenho um seminário e estou me sentindo muito preparada. Como o Carlos diz, estou com sangue nos olhos.

— Se você tirar uma nota boa na apresentação, a razão para isso ter acontecido se dá pelo fato de você ser minha irmã e durante a gestação, tive a bondade de transferir um pouco de inteligência para ti. Não acredito que você ousa duvidar do meu amor por ti, irmãzinha.

Carla mostra novamente o dedo do meio para seu irmão, soltando uma risada em seguida. Ambos se implicam sem pausa, mas o amor e o companheirismo que existem entre os gêmeos são repletos de sinceridade e diversão.

Dando o último gole no café, Carlos se levanta e deixa a xícara na pia, ele se despede dos seus pais e da sua irmã em seguida. Ao sair de casa e caminhar até o ponto de ônibus, que felizmente é na frente de sua moradia, o futuro publicitário olha para o céu e sente a brisa o atingir, inspirando e expirando o ar. Espera que o dia de hoje não o consuma tanto da sua energia e nem que afete mais seu emocional que já lida com um esgotamento.

Enquanto aguarda o transporte público, Carlos posiciona seus fones em seus ouvidos e dá play na primeira música da Taylor Swift, já que é um grande fã da cantora e sente uma conexão maluca com uma mulher que nem sabe da sua existência e My Tears Ricochet é sua música preferida desde o primeiro instante que ouviu o Folklore. Sua vida mudou desde que conheceu a loirinha nos primórdios de sua carreira e não consegue se lembrar de como ela era antes de ter ouvido a primeira música da celebridade mundialmente conhecida. Sentindo-se a maior diva de todos os tempos junto com sua cantora preferida, o estudante de Publicidade e Propaganda mexe seus lábios conforme a música é reproduzida e jura para si mesmo de que está arrasando. Ele torce para estar cantando em silêncio, porque acha que sua voz é uma das piores no quesito canto e não quer se explicar para algum vizinho que chegar até ele e mandá-lo calar a boca com toda a delicadeza existente na pessoa que mora ao lado.

Vamos andar de mãos dadas para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora