Vamos andar de mãos dadas para sempre

04. Refúgio em um abraço

Enquanto estuda para a última prova, Arthur escuta vozes do lado de fora e possuído pela curiosidade, ele espia pela janela e repara que é Carlos, seu melhor amigo e com alguns benefícios, e sua irmã gêmea Carla, que parecem estar brincando de algo que ele não consegue entender o que é direito, mas que, automaticamente, abre um sorriso em seu rosto. Arthur acha muito fofa a cumplicidade que Carlos tem com sua irmã, eles se provocam bastante e se amam na mesma intensidade, a sincronia é incrível, talvez porque os dois são gêmeos e é comum que sejam tão unidos assim. Vendo os gêmeos, ele pensa que se tivesse um irmão ou irmã a relação seria parecida com a do seu amigo. Na verdade, o estudante de Direito sente inveja do seu melhor amigo e da família dele, em razão de que são bem unidos e se amam de verdade, não há nada forçado entre eles e são muito compreensíveis, eles se respeitam bastante.

Já com Arthur, ele só consegue ter uma relação ótima com sua mãe, em razão de que ela o apoia em tudo, dando o suporte necessário, obviamente, ainda assim, são muito próximos e há muito amor envolvido entre os dois. A situação muda quando se trata de seu pai, porque seu progenitor se sente envergonhado em ter um filho homossexual e alega que isso vai atrapalhar a família e manchar a reputação que todo membro precisa zelar, ele até apontou na cara de Arthur dizendo que quebrou a tradição quando decidiu ser assim. Sim, decidiu ser.

Há ocasiões em que seu pai chega a ser menos arrogante e tóxico, porém, faz isso apresentando moças muito bonitas para seu filho e diz que ele deveria se casar com alguma delas, em outras palavras, seu progenitor finge que seu único filho não chegou contando que gosta de rapazes e os dois discutem feio quando o futuro advogado se recusa a conhecer a moça que seu pai trouxe exclusivamente para convertê-lo a heterossexualidade e reforça de que só gosta de rapazes, resultando em um pai extremamente irritado e com nojo do próprio filho.

A mãe já conversou com seu pai para que ele parasse com isso, mas era o mesmo que falar com uma porta e, por fim, ela desistiu e Arthur também, embora, involuntariamente, tenha aquela pequena expectativa que um dia seu pai vai acordar e perceber que tem sido um grande idiota e que vai parar de ser assim, que irá melhorar e que terão uma relação de pai e filho. Por mais que seja uma expectativa minúscula, o impacto seria enorme.

Carlos costuma brincar dizendo que Arthur deveria deixá-lo xingar e com a quantidade perfeita de intensidade, talvez faça com que seu pai acorde para a vida. A dupla dá risada, no entanto, não estendem o assunto, porque Carlos se desdobra por inteiro para ver seu melhor amigo de bom humor novamente, fazê-lo se esquecer dos problemas.

Em todas as vezes que vai à casa de seu amigo e vê como seu pai o protege e o ama, sente um aperto insuportável no coração e muita vontade de chorar, por achar lindo e por não ter isso mais em sua vida. Arthur se esforça muito para essa inveja não atrapalhar sua amizade com Carlos, porque isso o deixará ainda mais solitário e deprimido, como se voltasse ao que era antes de conhecer o estudante de Publicidade e Propaganda. Carlos, sem sombra de dúvidas, surgiu em sua vida como um anjo para salvá-lo do nada que estava se tornando conforme vivia seus dias. Ele não esperava que essa mudança repentina de cidade traria um resultado maravilhoso em sua vida e é como se Carlos fosse a peça que faltava em sua vida.

Arthur ouve seu pai entrar no seu quarto, falando de algo que não deu nem cinco segundos de atenção, porque está ocupado demais vendo um Carlinhos todo alegre com sua irmã, nem parece que são dois adultos e estão terminando seus respectivos cursos na faculdade e com futuros muito promissores por serem tão inteligentes, responsáveis e competentes. Ele se assusta quando vê o corpo de seu pai tão próximo do dele, observando também a janela.

— Ah, você está olhando os vizinhos da casa da frente. — Seu pai enuncia, vendo também os irmãos gêmeos — Aquela moça é muito bonita, Arthur, certeza que tem a sua idade. Por que não aproveita que está próximo do rapaz e pergunta sobre a irmã dele? Quem sabe ele não te ajuda com isso, a menos que você já tenha corrido atrás e está trocando mensagens com ela. Já estão planejando um encontro também? Não se esqueça que sua mãe e eu precisamos conhecê-la. Não a engravide tão cedo, por favor, vocês são jovens demais.