Vamos andar de mãos dadas para sempre

08. Coração ferido e cheio de saudade

Aquilo não podia estar acontecendo. Não fazia sentido algo daquele tipo acontecer. Carlos teve sua bebida manipulada por uma substância desconhecida, que até poderia ser fatal dependendo do quanto sua ex-sogra havia despejado na taça, e Arthur foi ameaçado e obrigado a abandonar seu namorado para que ambos pudessem continuar vivos. A vida é cheia de surpresas e, às vezes, nenhuma delas é boa e por ser surpresa, você não sabe o que esperar, apesar de ter algumas expectativas em mente. Carlos queria tanto que isso fosse uma pegadinha e que Arthur passasse pela porta segurando uma câmera e gravando tudo, pois mesmo sendo algo ridículo de se fazer com alguém que ama, pelo menos, Arthur ainda estaria por perto e o abraçaria e o beijaria e em seguida ouviria xingamentos que nem sequer foram inventados pelo ser humano.

Sua família também compadece com a dor, as cabeças estão confusas e seus corações estão descontentes. Arthur era um rapaz tão bom e os ex-sogros viam como ele fazia bem para seu filho, viam como se amavam e achavam lindo. Carlos não costumava ser muito distante dos pais e da irmã, no entanto, nos meses em que Arthur esteve muito presente, era nítido que ele se tornou mais afetuoso e mais honesto com todos. Carla está desnorteada e triste com o que tudo que rolou com seu irmão gêmeo e ela sabe que os próximos dias serão terríveis, todavia, não irá desistir de mostrar para seu irmão que ele é uma pessoa forte.

Carlos não sabe o que fazer, então opta por ficar no chão mesmo, aproveitando o abraço consolador da sua família. Sua cabeça dói. Seu coração dói. Seu estômago está embrulhado. Seu corpo inteiro sofre por alguma coisa. Ele quer arrancar seu coração e não sentir mais nenhuma emoção, só assim para as lágrimas pararem de escorrer e ele ser capaz de viver seus dias. Não dá para simplesmente fingir que nada aconteceu, seria péssimo e desrespeitoso agir dessa forma, sem contar que resultaria em mais detritos para Carlos suportar em sua alma e em seu coração.

— Por que isso está acontecendo? O que eu fiz de tão errado que nada de bom dura comigo?

Depois de um tempo, ainda aos prantos e recebendo atenção dos pais e da irmã, ele resolve se levantar do chão e pegar uma roupa mais confortável, direcionando-se para o banheiro na intenção de tomar um banho quente para tirar as impurezas do corpo e tentar organizar a cabeça, já que está tudo revirado, uma verdadeira desordem melancólica e, possivelmente, sem pretensão de ser resolvida tão cedo assim. Seus pais estão tristes, preocupados e, de alguma forma, preparados para o que está por vir, em razão de que ninguém naquela casa quer ver Carlos regredir, voltar para os dias escuros e depressivos que causam calafrios e uma sensação ruim de que aquilo nunca terá fim.

A vida é imprevisível. Ela vai de zero a cem muito rápido. Em um momento, Carlos está cantando Nicki Minaj junto com seu namorado e se divertindo muito, depois ouvindo Arthur ler em voz alta o texto que escreveu sobre seus sentimentos e quando terminaram as trocas de beijos e carícias, retornaram a ouvir música sem fone de ouvido e cantaram um pouco mais de Nicki Minaj, de Taylor Swift, de Liam Payne, de Beyoncé e Kanye West. Em seguida, quando voltam para casa e são pegos no flagra, o silêncio e as expressões de choque matam Carlos internamente, no entanto, ele é surpreendido com seu namorado, agora ex, dizendo que os pais querem conhecê-lo e jantá-lo para darem boas-vindas a família.

Tudo parecia convidativo e alegre e após jantarem, eles vão para a sala, mantendo a conversa animada e degustando de um vinho ótimo e as coisas mudam drasticamente no instante em que Arthur sai para buscar outra garrafa de vinho e os pais oferecem dinheiro para Carlos para que ele largasse o filho dos seus sogros, não deixando de mencionar também que a mãe havia depositado uma substância duvidosa na taça em que ele tomava a bebida forte, deixando-o desnorteado e com a visão turva, desmaiando nos braços do ex-namorado que por sorte chegou a tempo para segurá-lo antes de o corpo cair no chão. Carlos não tem ideia dos acontecimentos subsequentes, só sabe que acordou no dia seguinte com dor de cabeça e com uma carta de despedida e um colar e uma pulseira da pessoa que ele mais amava.