Não há um segundo do seu dia que Arthur não pense em Carlos e não sinta uma vontade absurda de fugir para São Paulo e se encontrar com quem ele ama ou, apesar de ser mais triste e radical, apagar da memória de Carlos a história que tiveram juntos para que não sofra mais, pois o futuro publicitário tem o emocional cheio de cicatrizes e fragilidades e mesmo sabendo que sua família seja boa o bastante para socorrê-lo, a saudade do amor da sua vida é maior do que tudo e machuca e perfura cada uma das células do seu corpo.
Sua cabeça ainda não consegue apagar a imagem dolorosa de estar segurando seu namorado, agora ex, que por pouco não caiu no chão e atordoado por causa da bebida e da comida que sua mãe havia envenenado antes e sem saber o que estava acontecendo naquele momento horrível. Além disso, esforça-se para não pensar em Carlos lendo a carta e vendo a pulseira e o colar, porque seu coração já está muito partido e a dor assolando todo seu ser.
Um dos seus maiores medos é o que Carlos passe a odiá-lo por ter quebrado a promessa de que lutaria ao seu lado contra todas as aversões que surgissem para tentar separá-los. Contudo, ele sabe que o futuro publicitário não o odiaria por isso e compreenderia, através da carta, que ambos estavam encurralados, não havia saída, não tinha como lutar, ainda mais sozinho, já que seu parceiro estava debilitado e inconsciente. É como se seus pais soubessem que se o casal estivesse pronto, iriam lutar e possivelmente venceriam a batalha e a guerra, então, por isso, Miranda e Jorge articularam uma forma de impedir Carlos, resultando na bebida e na comida comprometidas pela substância que até hoje Arthur não sabe qual é e prefere não saber também, tendo em vista que o próprio tem bastante receio da sua reação.
Os dias estão passando e o sofrimento aumenta a cada milésimo do dia e Arthur ainda não consegue encarar seus pais direito e também não se esforça para trocar nem uma palavra sequer com os dois toda vez que dirigem a palavra para ele. Tornou-se monossílabo com todo mundo. Sua cabeça ainda tenta processar cada um dos ocorridos, desde os passados até os presentes, querendo encontrar uma pista que o mostre que foi tolo em ter acreditado nos seus progenitores. É inacreditável pensar que seus pais tiveram um grande prazer em destruir os sonhos do próprio filho e ainda ameaçar de morte, não só ele, como também uma pessoa que esse filho ama, e sempre vai amar, incondicionalmente.
Como já está amanhecendo e Arthur não consegue mais dormir, ele resolve se levantar da cama e procurar pelo seu tênis e sua bermuda, colocando na sua mente que alguns minutos de cardio fará bem, tanto para a saúde física quanto para o emocional, embora sempre pense no ex-namorado ao seu lado correndo junto e cantando alguma música da Taylor ou da Mariah ou simplesmente reclamando do horário que estão se exercitando, mais especificamente se tiver sido despertado cedo demais.
Após escovar os dentes e comer uma fruta e pegar sua garrafa de água, Arthur ajeita seus fones de ouvido e logo dá play no Rhythm Nation, álbum da cantora Janet Jackson, que será sua trilha sonora para esse cardio. Por mais que já a conhecesse somente pelo nome extremamente famoso, Arthur resolveu conhecer mais os trabalhos da Janet e se apaixonou instantaneamente e ele queria muito recomendá-la para Carlos e, automaticamente, meio que passou a idealizar escutar todos álbuns dela, em especial, o álbum The Velvet Rope ao seu lado, ver de pertinho as suas reações com cada música de um dos suprassumos do R&B e também ver algumas fotos e interações que ela tem com Mariah Carey.
Um dia, se tudo estiver ao lado dos dois, em sintonia e exalando muito mais o amor do que era antes, Janet Jackson será apresentada e se tornará a nova obsessão musical de Carlos, que passará vários dias enaltecendo a artista e celebrando todas as canções.
No parque, depois de correr por um bom tempo, Arthur se senta em um banco e tenta controlar a respiração, bebendo água em ocasiões esporádicas e ainda ouvindo a voz da Janet Jackson, mas, dessa vez, é a canção What Have You Done For Me Lately, do álbum Control, que concebe o senso de independência que Janet queria para si mesma. Correu por bastante tempo e a endorfina necessária já foi liberada, então Arthur se sente um pouco bem, embora isso não o garanta um restante de dia ótimo, porque terá que lidar com seus pais sem escrúpulos.
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Vamos andar de mãos dadas para sempre
RomanceCarlos é muito diferente de Arthur, assim como Arthur é muito diferente de Carlos e a dupla, de alguma forma, torna-se um exemplo perfeito para explicar o que é uma antítese para os alunos quando estiverem aprendendo sobre as figuras de linguagem na...