Capítulo 19 O portal

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Kagome saiu daquele mausoléu destruída, seus olhos estavam inchados, sua garganta doía por conta do inchaço, tinha traços de alguém que perdera tudo em uma guerra, mas seus olhos diziam que ela travaria quantas guerras fossem necessárias para reaver aquilo que lhe pertencia.

Sua mãe ao lhe ver levou as mãos aos lábios diante ao susto e tremeu de medo ao ver a filha perder a consciência diante de seus olhos. A exaustão de seu corpo e sua alma finalmente cobrara seu preço a levando a inconsciência.

A jovem sacerdotisa passou três dias ardendo em febre com a consciência indo e voltando a cada instante, as vezes falava com a família, mas em sua maioria eram palavras soltas sem sentido algum, mas quem ela mais chamava era a única pessoa que não poderia vê-la naquele instante, que sofria de forma intensa assim como a jovem.

Naquela manhã a chuva caia intensamente na era moderna, a morena na cama olhava sua janela e encarava a chuva caindo, ainda estava fraca e quando sua mãe apareceu na porta de seu quarto com uma bandeja com suas comidas favoritas seu estomago se revoltou e ela teve que tampar seu nariz.

– Não mamãe, esse cheiro está horrível, não quero comer isso.

– Mas meu amor é sua comida favorita.

A jovem virou a cabeça enquanto fazia careta.

– Não, não quero.

A senhora Higurashi suspirou e saiu com a bandeja do quarto e Kagome pode finalmente respirar aliviada. A senhora Higurashi olhou para a bandeja em suas mãos e suspirou, desde que acordou sua filha vinha sendo muito exigente com a comida, reclamando de temperos e do cheiro e a cada refeição que passava a mulher se preocupava mais com a filha.

Kagome sentia a cada dia que passava que sua dor iria lhe dominar, que seu corpo se renderia ao que quer que estivesse acontecendo, que precisava de seu macho para se recuperar. Até após uma semana sua mãe irrompeu pelo quarto transtornada.

— Basta Kagome, eu não criei uma menina frágil, está na hora de você se recuperar sozinha, levante-se, tome um banho e desça para o café, você tem trinta minutos para isso.

A morena encarou sua mãe como quem vê a um fantasma, sua tão composta mãe, que nunca havia levantado a voz para ninguém estava enfurecida com ela. Sem escolhas a jovem fez o que a matriarca lhe ordenara, afinal, no fundo ela concordava com a mãe. Ela não era uma menina frágil, ela deveria se reerguer e seguir seu plano em frente, precisava se fortalecer para poder voltar para a pessoa que ela amava, e já passava da hora de voltar.

Kagome sentia-se frágil e pesada ao descer pelas escadas, mas conseguiu chegar até a cozinha e desabar na cadeira. A comida tinha um cheiro maravilhoso e ela acabou por comer como alguém que passou quarenta dias perdido em meio ao deserto. Sua mãe e seu avô lhe observavam com atenção e quando por fim ela parou de mover seus hashis a mãe colocara uma caixinha de papel a sua frente e ela logo reconheceu o conteúdo.

— Mamãe?

— Faça o teste.

— Não... Não é possível.

A matriarca sorriu de canto e revirou os olhos.

— Você está casada minha criança, é claro que é possível, porque eu duvido muito que o seu marido não a tenha tocado de forma alguma durante o tempo em que estiveram juntos.

Com as mãos tremendo a jovem segurou a caixinha e enquanto lia as instruções andava até o banheiro. Sentada no vaso esperando os cinco minutos finais do teste, ela roía as unhas, exasperada.

Após cinco minutos ela encarou o palitinho e seus olhos se encheram de lagrimas ao notar que uma segunda listra se formava lentamente, suas mãos tremiam enquanto ela chorava sem saber se era de desespero ou de alegria, mais do nunca ela deveria voltar.

Tremendo dos pés á cabeça a jovem saiu do banheiro e deu de cara com sua mãe que segurava um chá de camomila e o estendeu para a sua filha. Sem dizer nada a matriarca a guiou até a sala e a acomodou no sofá.

— O resultado foi positivo, não é?

A menina pode apenas acenar em sinal positivo, ainda processava que daqui a pouquíssimo tempo seria mãe e que ainda não descobrira como fazer com que o poço come ossos voltasse a funcionar. A mais velha suspirou e acariciou o rosto desolado da filha, ela gostaria muito de poder ajudar, mas era impotente naquele momento.

— Querida, eu sei que essa situação de agora pode ser assustadora, mas você precisa manter a cabeça no lugar e pensar com calma.

Encarando os olhos de sua mãe a jovem sentiu como se toda a calma do mundo baixasse em seu ser e passou a pensar em tudo o que lhe ocorreu, em como fora mandada quinhentos anos no passado, em como o poço come ossos poderia funcionar e como ela poderia reabastecer a energia do poço para voltar ao lado da pessoa que ela amava, e ao voltar os olhos para suas próprias mãos ela encontrou a resposta e o alivio lhe bateu.

A resposta estivera sempre consigo, ela poderia voltar no momento em que quisesse, estivera presa portando a própria chave de sua cela. Por fim ela encarou a mãe e a mulher soube que sua filha estaria de partida e que desta vez seria para sempre.

As mulheres se abraçaram e correram para fazer todos os preparativos. Fotografias foram separadas e guardadas com cuidado em uma mochila, cartas escritas, abraços dados, despedidas feitas e agora Kagome estava de costas para o poço que colocara sua vida de cabeça para baixo apenas para lhe mostrar que aquele era o lado certo, e a sua frente estava a família que a tivera e cuidara de si, que lhe amara e que agora lhe via partir.

— Eu só quero que vocês saibam que eu sempre irei amar vocês, que durante esses quinhentos anos que passarei com a família que criarei eu pensarei em vocês em todos os momentos, e que não importa quanto tempo irei esperar, eu voltarei para vocês.

A senhora Higurashi enxugou as lagrimas e deu um último abraço na filha.

— Eu tenho certeza que será mais duro para você do que para nós querida, enquanto que para gente será apenas algum tempo, para você será longos anos, mas quero que viva bem, aproveite o tempo com seus filhos e seu marido, seja feliz e volte logo para nós.

O sacerdote abraçou a única neta e lhe abençoou com algum mantra sem sentido, enquanto segurava as lagrimas.

— Mande um oi para o cunhado e diga que é para ele cuidar muito bem de você, se não quando nos encontrarmos lhe forçarei a voltar para casa.

O menino abraçou a irmã enquanto queria chorar litros por estar mais uma vez se separando de sua irmã mais velha.

— Estou indo e espero que todos se cuidem. Eu amo vocês.

Os três responderam de volta e a jovem se aproximou da borda do poço e deixou que suas energias convergissem e se espalhassem por todo o poço. Uma forte luz lilás brilhou e a jovem se jogou no poço, sentindo a energia convergir e atravessar as eras, há muito tempo ela sabia que a joia de quatro almas temia seu poder e o havia selado, mas ela também passara quinze anos de sua vida com aquele objeto irradiando poder dentro de seu corpo, e se o poço funcionava a base do poder da pedra, ele também funcionaria na base do poder da jovem sacerdotisa.

Seus pés tocaram o fundo do poço, respirando fundo a moça fechou os olhos e ergueu o rosto para onde estaria o teto do mausoléu ou o céu da era feudal, nervosa ela mordeu o lábio inferior e lentamente abriu seus olhos. A felicidade lhe dominou ao ver o céu azul da era feudal, ela se agachou e por alguns minutos deixou que suas lagrimas de alivio escorresse por seu rosto.

Aliviada ela se pôs em pé, deixou que sua energia demoníaca lhe envolvesse em um único salto saiu do poço, mas ela não estava preparada para ver a paisagem que lhe aguardava.

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