Capitulo nove - Embrulho

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 Marie acordou com um salto do sofá. Seguiu ao banheiro e logo após verificou se seus filhos já haviam saído, como esperado; estava sozinha. Direcionou-se ao relógio e assustou-se ao acordar em meados das onze horas. Há muito tempo não passava das nove horas. Por incrível que parecesse estava sem fome. Era dia 7 de novembro; dia de receber à aposentadoria. Enquanto se arrumava lembrara-se do suposto sonho. Parecera tão real, que lhe custava a acreditar que pudesse ser apenas um pesadelo.

   Após receber sua aposentadoria. Marie voltou à sua casa. Jonas estava para chegar a qualquer momento, ela submeteu-se a limpar a casa. Após isso se lavou e vestiu-se. Sentou-se ao sofá e esperou o detetive chegar. A cada momento olhava novamente ao seu relógio. Minutos minuciosos passando-lhes em segundos indeterminados. Ele estava atrasado.

  Houve três batidas na porta. Marie pulou do sofá e rapidamente foi à porta. Abriu-a, contudo, diferente do que era o esperado, ela encontrou um adolescente desconhecido à sua frente.

  -Um homem mandou entregar isso – ele ergueu um pacote com as mãos.

  -Quem?

  -Ele não disse o nome, apenas disse que era pra eu entregar somente à senhora. Ele também disse pára eu passar um recado...

  -Que recado? – pergunta Marie.

  -Que está chegando a hora – o rosto do garoto tornou-se negro em um relance e em seguida voltou ao normal.

  Antes de Marie dizer algo, ele entregou o pacote e correu dali.

  Ela procurou alguma etiqueta, mas não havia. Estava embrulhado em um papel marrom. Ela fechou a porta e voltou ao sofá. Sentou-se e vagarosamente desembrulhou-o.

  Dentro havia uma espécie de sacola negra, e ao abri-la deixou cair ao chão e ficou paralisada. Seus olhos perderam a cor. Sua expressão ficou inerte. Foi como se o pacote cai-se em câmera lenta. Chegou ao chão com um ruído ensurdecedor e Marie tapou os ouvidos com um grito agonizante.

***

Abriu os olhos e encontrou-se em um lugar escuro. Deitada em panos velhos. Um ambiente de quatro paredes estreitas. Estava gélido. O ambiente lhe dava arrepios. Não havia moveis e nada além dos panos, apenas uma velha lâmpada amarelada que pouco clareava.

   -Confusa? – não existia um lugar de onde a voz poderia vir. E a voz não era humana, ela sentia isso. Era aterrorizante e grave. Com ecos sobre-humanos. Ela sentiu seu corpo encolher – Não fique. Você será acolhida, logo chegará sua vez. Será igualmente induzida ao caminho de seus entes falecidos – em seguida uma risada – a sua alma, é só isso que eu peço de você.

  Marie ouviu a risada novamente em um tom ainda mais grave, seu corpo pareceu recostar e fundirem-se as quatro paredes em respeito à voz. Antes de ela sentir o baque em sua cabeça, escutou um miado felino esganiçado; como se o animal estivesse sendo dilacerado.

***

   Novamente abriu seus olhos vagarosamente, mas agora em relutância. Porem, ao abri-lhos viu-se em sua casa. Deitada em sua cama. Ao seu lado direito estava Pether, e ao esquerdo encontrava-se Joseph e Jonas.

  -Como você se sente? – pergunta Joseph aproximando-se de sua mãe.

  -Eu estou bem – ela ajeita-se em sua cama.

  -Você ficou desmaiada por mais de três horas, quer dizer, três horas desde que ele encontrou-a caída na sala – diz Pether – o que aconteceu?

  -O embrulho, onde esta? – pergunta Marie.

  -Que embrulho? – pergunta Jonas.

  -A sacola preta que estava comigo.

  -Marie, é melhor você descansar. Quando eu cheguei aqui não havia nenhuma sacola com você, mas não se preocupe com isso. Descanse e eu a procuro para você.

  Ela tinha certeza de que derrubara a sacola a sua frente, como poderia ter sumido? Alguém a pegara antes de Jonas chegar. Alguém estivera em sua casa antes de Jonas chegar, mas quem?

  E a pergunta que mais a intrigava, quem mandaria um coração ainda batendo embrulhado em uma sacola em anonimato para uma senhora?

O relógio de bolsoOnde histórias criam vida. Descubra agora