Não sabia quanto tempo ficamos isolados do restante dos participantes, mas foi bem legal. Os caras eram simpáticos, mas haviam se fechado entre si e não me deram muita chance de me aproximar, por isso acabei passando a maior parte do tempo com Ju e Viih. Elas duas ficaram muito amigas, eu estava achando a amizade delas bem verdadeira até então.
No dia que nos deixaram entrar na casa, eu entrei com um sorriso enorme para o lugar onde moraria pelos próximos três meses se assim me fosse permitido. Sorria feito boba olhando cada detalhe daquele lugar e cumprimentando animada cada pessoa que veio nos receber. A metade do dia se passou e eu me senti bem conectada a Sarah, Gil, Camilla, Lucas e João. Gil era super engraçado, e os outros eram tranquilos e tinham um papo divertido.
Quase no fim do dia Rodolffo propôs que fizéssemos uma rodinha para nos apresentar e nos conhecer melhor, já que eles não haviam feito nesses primeiros dias porque desconfiaram que outras pessoas entrariam. Obviamente todo mundo topou, e a brincadeira seguiu com a maioria das pessoas dizendo seus nomes, idades, de onde vem, sua profissão, sua orientação sexual e um fato curioso sobre os mesmos.
Então quando chegou minha vez decidi fazer o mesmo.
– Eu me chamo S/N Moraes, sou do Rio de Janeiro, tenho 20 anos. – Ri quando a maioria do pessoal me chamou de caçulinha. – No momento sou atendente de lanchonete para ajudar a bancar as coisas da faculdade de artes visuais que estou fazendo, sou lésbica e um fato extremamente curioso sobre mim é que nasci com quimerismo. – Pausei para escutar os burburinhos confusos, sorri e voltei a explicar. – Pois então, eu nasci com dois tipos de DNA diferentes, o que me fez que eu nascesse com heterocromia. – Apontei para os meus olhos. – E uma condição que é conhecida como intersexualidade, o que basicamente me fez nascer com uma genitália masculina. – Me encolhi um pouco quando vi alguns olhares estranhos em minha direção, e ia voltar a falar quando uma voz feminina me interrompeu.
– Como tem um pênis e diz que é lésbica? Isso é um desserviço a população LGBTQIA+ – Lumena andava em minha direção indignada, com o dedo em riste enquanto eu ficava cada vez mais sem graça com seu claro ataque. – Lésbicas são mulheres que ficam com mulheres, não um homem disfarçado. – Senti meus olhos marejarem com suas palavras, e confesso que me esforcei muito para não começar a chorar ali mesmo.
Não imaginava ser atacada assim no meu primeiro dia, nem nos meus piores pesadelos imaginava uma humilhação como essa.
– Eu sou uma mulher, só tenho uma condição que me torna diferente de você. Mas eu sou registrada como mulher e tenho todas as características físicas, e além disso você está invalidando mulheres trans. Elas também tem direito de intitular lésbicas, mesmo que não haja uma cirurgia pra resignação de sexo. – Retruquei, tentando controlar o tremor na minha voz. Eu queria muito chorar, mas não deixaria que ela passasse uma desinformação como essa em rede nacional sem ser corrigida.
Minha comunidade merece melhor do que isso.
Vendo que a maioria dos homens me encaravam com nojo, eu entrei para dentro da casa e me enfiei na cama mais próxima do quarto cordel, não me segurando mais e começando a chorar copiosamente.
– S/N? – Thaís me chamou depois de alguns minutos, sentando ao meu lado. A esse ponto eu soluçava, completamente afetada pelo que Lumena havia dito. Muitas pessoas devem estar achando frescura, mas só quem vive o preconceito e a discriminação de perto sabe como é.
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Amor de Reality - Juliette x G!P S/N
Fiksi PenggemarO maior Reality Show do Brasil entrou em sua vigésima primeira edição, e S/N de apenas 20 anos decide se inscrever por um motivo inusitado; trazer visibilidade a sua condição rara. O que ela não esperava é que sua participação seria cercada de preco...