Capítulo 36

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Polo

Sento-me na poltrona de frente para a porta da garagem e Lua suspira ao ver o machucado em meus dedos.
A verdade é que essa garota, embora sua presença seja um incômodo pra mim, ela é a única que neste momento não está me ignorando ou simplesmente esqueceu da minha existência. Talvez seja por obrigação, aliás ela é paga pra isso. Mas não me importo, me sinto confortável com esse pouco.

— Pelo visto a conversa não foi tão legal, foi? — pergunta

— Vim falar sobre a Pérola, não quero falar sobre mim

Ela suspira e a todo instante eu evito olhá-la

— Fui até o quarto dela, mas ela não quis me atender. Isso nunca aconteceu, Lua — finalmente a olho — Eu preciso que me ajude a chegar até ela, a Pérola é tudo que eu tenho de mais precioso

Ela coça a cabeça, pensativa. É bem provável que Pérola já lhe disse que as chances dela voltar a falar comigo é quase zero. Mas eu ainda tenho fé naquele um porcento que possa ter sobrado

— Parece que falta um pedaço de mim. E mesmo que não acredite, se arrependimento matasse, eu estaria morto nesse momento

Após alguns segundos me encarando, ela respira fundo e começa a falar:

— Da última vez que pediu perdão a ela, você lhe deu uma cesta de chocolates, e a Diamante, porém agora, eu não vejo presentes como uma saída, e sim você ser sincero com ela, ter uma conversa sincera

— Conversa sincera… — reviro os olhos e ela vai pegar algo no armário — Eu nem fiz nada com ela, é uma grande porcaria ter que me redimir

— Você traiu uma garota, Polo. E quando algum homem trai uma mulher, todas nós nos sentimos um pouco traídas, principalmente quando a traição vem de alguém que amamos — diz e se agacha na minha frente com uma caixa de primeiros socorros — Socar paredes não vai te fazer fugir dessa situação

Eu suspiro e observo ela gentilmente tirar alguns curativos da caixa e os grudar nos meus arranhões.

— Acha que devo pedir ao mentor para o acompanhar vinte quatro horas por dia, afim de evitar isso? — ela pergunta e eu nego compulsivamente

O mentor é tudo o que eu nunca quis, um velho filho da mãe que foi o responsável por me criar com uma educação digna de escola militar. Eu odeio aquele velho insuportável.

— Estou bem com você — digo e ela ergue uma sobrancelha

— Você mente muito bem, Polo. — fala guardando os materiais — Contudo, já que não tem nenhuma atividade real hoje, o que quer fazer? Meu trabalho são os gêmeos e se vocês estão parados, eu também estou

— Não é bom ganhar sem trabalhar? — ironizo

— Comecei a trabalhar desde cedo para ajudar sustentar a casa, então pra mim é normal trabalhar para ganhar. Me sinto um parasita fazendo o contrário

— Chegou aos meus ouvidos que eu tenho esse apelido — digo e ela sorri envergonhada tentando disfarçar

— Vamos lá, Polo. Diga-me o que quer fazer hoje

Penso por um momento

— Quero ir a comunidade, ver as pessoas de perto, e comer em algum lugar vagabundo

Ela começa a gargalhar e então ao perceber que falo sério ela engole em seco

— Algo possível pra mim por favor — pede — Eu preciso de uma autorização para tirar algum de vocês do castelo. E também de uma escolta para evitar tumultos, ou seja, deveria ter me avisado com antecedência desse seu… desejo

Princesa, Por Legado - TRILOGIA PRINCESAOnde histórias criam vida. Descubra agora