6 - Colocar as cartas na mesa

72 4 0
                                    

Harry aproveitou meus poucos segundos de distração para saltar sobre mim, agarrar minha mão que segurava a pistola arrancando-a de mim e jogando-a para longe. Assim que o fez, pude ouvir gemidos dele, que provavelmente foram soltos por conta da ferida na lateral do seu corpo. Mas mesmo com o talho me dando uma oportunidade de derrubá-lo, Harry é mais ágil e forte. Ele joga meu corpo sobre o sofá, caindo sobre mim e senta-se sobre minhas pernas. Ele imobiliza as minhas mãos com as suas.
Arfamos os dois. Nossas respirações entrecortadas, o peito de cada um batendo forte.
- Me... solta! - grito entredentes. - Você não sabe quem eu sou.
Mesmo diante da situação, Harry dá um sorriso - o que faz meu coração acelerar mais ainda. Ele abaixa o rosto até nossos narizes quase se tocarem. Sacudo meu corpo sob o dele.
- Eu quero conhecê-la, mademoiselle - diz e seu hálito bate em meu rosto. - Quero muito conhecê-la.
Ele me beija. No começo faço de tudo para que Harry tire sua língua da minha boca, mas depois de um tempo, quando me permito sentir a sensação extraordinária que me invade, eu me aquieto. Permito a mim mesma saboreá-lo. É até difícil descrever o que sinto, mas se pudesse diria que é como se eu estivesse mergulhando de cima de um arranha-céu sem paraquedas. Tipo um pulo para a morte, mas antes de perder os sentidos, posso sentir todas as emoções ao mesmo tempo, causando assim, uma sensação de êxtase.
Ele se afasta com os olhos fechados e um sorriso sexy no rosto.
- Quer mesmo que eu vá embora?
- Meus pais são os Presidentes da Unidade Militar - eu digo sem pensar.
Ele sai de cima de mim com urgência, mas quando olho para ele não vejo nada parecido com medo ou preocupação. Vejo somente ódio.
- Diga que é só uma brincadeira para me fazer ir embora - diz Harry impaciente.
Balanço a cabeça em negativa.
- Muito pelo contrário. É a mais pura verdade - eu sento no sofá. - E é por isso que quero que saia daqui. Se eles o virem, irão matá-lo.
Harry balança a cabeça, incrédulo.
- Eu não posso sair por aí, estou sendo procurado. E... - ele volta seu olhar para mim - ... e eu não queiro deixá-la.
- Por que escolheu justamente a minha casa?
- Não sei. Só precisava de um lugar para passar a noite, aí eu vi sua garagem e a arrombei. Não no sentido literal da palavra, claro.
Contraio os lábios e tento imaginar como ele conseguiu arrombar o portão da garagem sem deixar qualquer resquício do ato.
Agá-S, a palavra surge em minha mente.
- Você é o líder Gangster, Agá-S, não é?
Harry dá um sorriso triunfante e senta-se na mesinha. Ele segura minhas mãos entre as suas e diz:
- Harry Styles. H-S - ele me encara e ri. - Menina prodígio, você é tão inteligente.
Permito-me dar uma risada.
- Em que eu fui me meter - digo a mim mesma. - O que vamos fazer? Eu não posso simplesmente trair meus pais, mas também não posso entregá-lo a eles.
De repente Harry fica sério, como se eu tivesse falado algo que ele não queria ouvir. Ele solta minhas mãos e desvia o olhar, distante.
- Quer mesmo que eu vá embora?
Penso sobre a pergunta. É meio confuso porque o conheço há tão pouco tempo, e sinto que não posso me acostumar a ideia de deixá-lo ir. Mas ao mesmo tempo, não tenho direito de ficar indecisa, pois fazemos parte de realidades diferentes. Ele é um Gangster, um inimigo mortal dos Crescentes e até mesmo dos Decrescentes.
Contudo, sinto-me submissa a ideia de que sou dele.
- Eu não sei - respondo por fim. - Não sei o que fazer. Preciso pensar sobre isso, porque enquanto não consigo decidir nada, nós dois corremos risco.
Ele olha para mim com os olhos verdes brilhando intensamente, e por alguns segundos revivo o momento do beijo. Respiro profundamente.
- Vou para o meu quarto e, se quiser, pode dormir no sofá.
- Pensei que já pudéssemos dormir na mesma cama. Afinal, já declaramos nossos votos - diz de forma provocativa.
- Foi só um beijo. E roubado.
- Sem permissão é melhor.
- Preciso pensar no que farei - eu digo. - E com você na mesma cama que eu, isso jamais vai acontecer.
Harry ri e passa sua mão por trás da minha cabeça, aproximando sua boca do meu ouvido.
- Já foi no céu alguma vez? - ele sussurra. - Prometo te levar as nuvens se deixar.
Eu me arrepio e desvencilho-me de Harry, a fim de subir para o meu quarto o quanto antes.
- Se não se preocupa, eu preciso disso por garantia - abaixo-me para pegar minha pistola no chão. - Não quero ser incomodada por um certo Gangster que permeia por minha casa...
- Prometo ser bonzinho. Por hoje.
Dou um sorriso quando pego minha bolsa na mesinha de canto. Quando ponho o pé no primeiro degrau da escada, viro para ele e digo:
- Obrigada. Por colocar as cartas na mesa e revelar tudo. Você é atrevido, sabia?
Não espero a resposta.

Sem RegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora