10 - Um vagabundo qualquer

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- Pensei que quando essa porta se abrisse fosse com um batalhão, aí fora.
Olho para Harry de sob o vão da porta com os olhos semicerrados e com um sorrisinho estampado. Ele me encara do sofá da sala, a tevê ligada num jornal.
- Talvez eu devesse mesmo fazer isso - digo sem rodeios. - Mas você ainda está ferido e não pode se proteger, e eu sou muito solidaria com as pessoas.
Ele me olha coçando o queixo e depois dá um sorriso.
- Com as pessoas, ou comigo em particular?
- Não seja convencido, Gangster.
Jogo minha bolsa em qualquer lugar e capoto no sofá ao seu lado. Harry olha para mim como se esperasse algo, ou se quisesse fazer alguma coisa. E então ele fasta, sentando-se tão perto de mim que nossos ombros se roçam.
- Harry, por favor - eu começo, mas seus lábios se aproximam dos meus. Eu viro o rosto. - Por favor, é melhor que se afaste - o empurro levemente quando seus lábios roçam os meus. - Me entenda. Eu não posso ficar com você sem ter certeza de que não está tramando algo contra mim. E não posso trair meus pais.
Ele suspira.
- Eu a entendendo, mademoiselle, mas espero que também me entenda. Eu preciso satisfazer minhas necessidades - diz meio inclinado para mim.
Pulo do sofá, indignada com suas palavras. E mais irada ainda pela forma como seus lábios estão curvados em um meio sorriso provocador.
- Então é isso? - digo. - Eu sou apenas um passatempo para um vagabundo qualquer?
Ele finge estar ofendido.
- Necessidades de homem apaixonado - diz completando. - Tenha paciência e espere que eu termine minhas frases.
Mantenho minha pose de irritação, porque se eu desfizer a armadura receio não ser tão forte a ponto de suportar seus galanteios.
- E - Harry se levanta - dê-me sua mão.
Ele estende a mão que fica alguns minutos suspensa no ar, esperando que eu a agarre. Observo sua palma grande, os dedos longos. O imagino apalpando meu corpo. Balanço a cabeça rapidamente a fim de apagar a cena.
- O que quer?
- Vou mostrar a você quem realmente são os Gangsteres.

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