5 - Gangster

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Depois de levar os gêmeos para a casa dos meus pais, eu volto para a minha. Fico parada por alguns minutos diante a porta, perguntando-me o que irei encontrar. Talvez a casa inteiramente vazia, porque hospedei um cara que provavelmente é ladrão.
Estremecia cada vez que via cartazes com o esboço de um cara que dizia:
PROCURA-SE VIVO OU MORTO
MOTIVO: LÍDER GANGSTER
NOME: AGÁ-S
RECOMPENSA: R$1.000.000
Tentava não pensar que se tratava de Harry.
Respiro fundo e encaixo a chave na fechadura, imaginando que quando abrir a porta eu irei dar de cara com um grande vazio. Mas tudo está exatamente como deixei - inclusive o cara lindo e sensual sentado no sofá da sala assistindo tevê.
- Cheguei - aviso.
- Eu sei. O carro faz barulho, casa ainda não saiba.
Jogo a bolsa e as chaves do carro sobre uma mesa de canto e sento na extremidade do sofá oposta a que Harry está. Pego o controle remoto e desligo o aparelho.
- Vejo que o sol afetou seus sensores educacionais - resmunga ele se ajeitando.
- Ok. Qual é a sua?
Harry me examina por um instante, como se tentasse descobrir o que quero saber, exatamente. Ele olha para o lado e em seguida, volta a me encarar, dobrando um joelho sobre o sofá, ao que parece, sentindo-se extremamente à vontade.
- Poderia ser mais específica? - ele diz sério.
- Bem, você aparece em minha casa de repente, ferido por uma bala, não me diz nada a respeito do que aconteceu e espera que eu não me preocupe com sua presença ameaçadora?
Ele dá um sorriso, as covinhas surgem de repente.
- Acha que sou ameaçador, mademoiselle?
- Chega de gracinhas. Quero respostas. - Digo decidida.
Harry fica sério de uma forma que me faz questionar se ele é confiável para deixá-lo sob o mesmo teto que eu. Seus olhos passeiam pelo meu corpo, sua boca se curvando num sorriso tentador. Meu peito começa a bater descompassado.
- Vejo que o sol a faz muito bem.
Eu bufo.
- Coopere, por favor, Sr. Styles.
- Tudo bem. O que quer saber?
Olho para ele com as sobrancelhas erguidas, como se perguntando "Sério mesmo que perguntou isso?". E então, como ele não diz mais nada, eu digo:
- Tudo. Desde como foi baleado ao que o levou a pensar que eu permitiria sua presença em minha casa.
Harry se debruça e pega um punhado de pipoca num pote que está sobre a mesinha de centro, depois toma um gole de suco. Como alguém pode ser tão folgado?
- Eu estava no meio de um protesto quando a Unidade Militar apareceu. Foi um caos total. Eles começaram a atirar sem qualquer cerimônia e muitos de nós morremos.
- Muitos de nós?
Ele revira os olhos e resmunga algo, como se reclamasse por ter que explicar mais detalhadamente as coisas. E então se levanta e sai sem dizer nada. Fico calada seguindo Harry com olhar. Ele some pela porta que leva a garagem, quando volta, há uma mochila preta pendendo no braço esquerdo. Um chapéu preto de material meio aveludado está meio inclinado sobre sua cabeça.
Percebo pela primeira vez que ele usa apenas preto.
Harry senta-se no sofá novamente, mas dessa vez mais perto de mim. Ele abre a mochila e tira de dentro algumas armas e roupas. Há também uma medalha em formato de G maiúsculo, mais ou menos do tamanho da palma de sua mão. Fico olhando horrorizada para o emblema.
- E-estavam protestando contra o quê, exatamente? - pergunto receosa.
- Sabíamos sobre o comunicado dos Presidentes da Unidade Militar na noite passada. Queríamos evitar.
Minha cabeça começa girar. Eu não posso deixar esse cara na minha casa. Ele não pode fazer parte da minha vida. Eu não o quero em minha vida, nem posso pensar em querê-lo.
Levanto do sofá de supetão, apavorada com a possibilidade de meus pais o descobrirem em minha casa. Seria o pior dos meus pesadelos, pois como Harry, eu também teria que ser abatida. E pior, por meus próprios pais. E por mais que eu queira não acreditar que eles me encheriam de balas, a ideia parece patética, pois se há uma coisa a qual meu pai é fiel, é a Lei de Costa Universal.
Minha mãe titubearia.
Meu pai não.
- Você é um Gangster! - digo enojada. - Mas o que você veio fazer aqui? Por que minha casa?
Harry também se levanta confuso. Ele faz sinal de calma com as mãos, tentando manter a própria calma, mas seus olhos estão atentos a qualquer movimento meu.
- Fique calma, Lexie - ele diz. - Não vou fazer nada com você.
- Claro que não!
Eu puxo a pistola da minha cintura e miro Harry, que congela a expressão.
- Saia da minha casa. Agora!
- Você não quer fazer isso - ele diz seguro de si.
Meus braços esticados tremem diante dos meus olhos. Odeio que ele tenha razão, mas não hesitarei em apertar o gatilho da minha pisto e lançar um raio elétrico nele que, instantaneamente, fará seu coração parar de bater.
- Não só quero como vou, se não se mandar - murmuro.
- Se quisesse mesmo fazer isso, seus olhos não estariam marejados.
Eu rapidamente recolho uma das mãos para limpar os olhos que nem sabia que estavam a ponto de despejar um mar de lágrimas. E antes que eu me toque, tudo acontece

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