- Mãos para o alto!
Meu pai grita, apontando uma pistola para Harry. Meu corpo inteiro está enrijecido, mas consigo ver pelo canto do olho que Harry não o obedeceu, pois suas mãos estão firmes ao redor do gatilho, os olhos congelados sobre meu pai.
Ele vai perder o controle! Faça alguma coisa. Agora!
Abano meus braços para o meu pai e para o batalhão de Atiradores atrás dele, não penso duas vezes antes de falar:
- Baixem suas armas! - foco em meu pai tentando parecer confiante. - É ele, pai. Meu namorado.
Meu pai processa as palavras por algum tempo, depois baixa sua arma só que seu olhar continua firme em Harry. Os dois se encaram intensamente, como se desafiando um ao outro para uma batalha que não terá fim. Eu me movo para perto de Harry e agarro seu braço pendido ao lado do corpo e com cuidado, tiro de sua mão a pistola. Mantenho minha mão entrelaçada a dele.
- Recebemos um Comunicado na U.M. de um de seus vizinhos que alega ter ouvido gritos vindos daqui - a voz de meu pai soa grossa e potente, como se para demonstrar quem manda.
- Sim. Aconteceu uma coisa - eu me afasto para o lado e puxo Harry comigo. - É, ou era Ônix.
Meu pai franze o cenho quando vê a criatura deitada sobre os degraus da escada e parece congelar por alguns segundos, mas não deixar qualquer emoção transpassar por seu rosto. Ele passa por nós e examina o Duo mais de perto, os olhos atentos e sua expressão agora indicam nojo e surpresa.
- Pai - eu digo, impassível -, eu preciso que me diga com toda sinceridade: há Duos aqui dentro dos muros?
Ele não fala nada, apenas continua encarando a criatura. A pistola pende de sua mão apontada para o chão. Então, meu pai se abaixa e cutuca o estômago do Duo com a ponta da pistola e uma de suas patas se retrai. Meu pai não se assusta.
- Como isso é possível...? - ele pergunta para si mesmo. Meu pai se vira e examina a mim e a Harry atentamente. - Como ele chegou aqui?
Dou de ombros.
- É isso que quero que o senhor me diga.
Meu pai fica de pé e esconde as mãos atrás de si, nas costas.
- Como ele chegou aqui? - ele pergunta novamente, sem paciência.
Pondero uma resposta, mas depois me dou conta de que não sei a quem meu pai está se referindo. Se a Harry ou ao Duo.
E se alguém reconhecer Harry?
- Não sei. Quando chegamos, ele já estava aqui. Era meu cão, pai. - Olho para o meu pai, depois para Harry. Eu preciso tirá-lo daqui o mais rápido possível. Um calafrio percorre meu corpo ao me dar conta de que Harry ainda está com o olhar congelado em meu pai. E eu não tinha percebido, mas ele está apertando minha mão com força, tanta que os nós de suas juntas estão brancos. - Acho melhor você ir, querido - eu digo para Harry.
- Vai deixar seu namorado sair sem apresentá-lo a mim?
As palavras de meu pai me pegam de surpresa. Sinto como se Harry fosse perder o controle no exato momento em que meu pai lança um sorriso a ele, como se debochando de seu estado de choque.
- Melhor deixar para outro dia - eu saio puxando Harry em direção à porta. - É melhor ele ir, amanhã tem que trabalhar. Deixe para outro dia, papai.
Passo por entre os Atiradores enormes arrastando Harry. Percebo que seu estado de choque se deve não somente ao fato de dar de cara com o presidente da Unidade Militar, mas também com o homem que matou seus pais. E enquanto me afasto de todos, sinto como se estivesse puxando um totem de vidro por uma corda fina que a qualquer momento pode se partir e deixar com que ele se espatife no chão.
Quando estamos a uma distância considerável de todos os soldados, eu olho para Harry. Ele ainda olha para minha casa. Os olhos verdes congelados e a sua respiração soa pesada. Giro seu rosto de modo que encare a mim.
- Ei - eu o chamo. - Preste atenção, você tem que ir agora porque a qualquer momento alguém o reconhecerá. Harry? - dou uma espécie de grito sussurrado. Ele pisca confuso.
- Seu pai...
- Isso. Ele é meu pai, por isso você tem que sair, ok? Vai embora. Não olhe para trás e não volte antes de amanhecer.
Harry balança a cabeça em sinal positivo e começa andar. Eu o observo até que dobre numa esquina e suma do meu campo de visão. Quando retorno para dentro de casa, percebo que Ônix está envolto em uma espécie de cobertor de alumínio, apenas sua cabeça do lado de fora. Os olhos azuis sem pupila vagam, examinando cada rosto que vê. O material em seu corpo é tão potente que ele não consegue nem se mover.
- Para onde irão levá-lo? - pergunto ao meu pai quando dois soldados começam carregar o Duo.
- Três dos meus Atiradores irão ajudá-la a arrumar a casa - ele diz como resposta e sai seguindo os outros atiradores.
- Papai! Por que não me responde nada?
Eu fico parada sob o vão da porta, incrédula com a frieza com que meu pai me tratou. Porém, eu vejo uma coisa que me deixa apavorada quando olho para o Duo.
Tenho quase certeza de que o Duo disse uma palavra.
Tenho quase certeza de que ele pronunciou "Socorro".
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Sem Regras
FanficMeu nome é Lexie Allen. Tenho 18 anos e vivo sozinha numa casa afastada da de meus pais e meus irmãos gêmeos, no sul da Costa Universal. Há duas colônias; Crescente e Decrescente Eu sou uma Crescente. Há um garoto. Ele é Gangster; sem regras. Não o...