Eu só podia estar louca quando aceitei que Harry me guiasse pela mão até o carro. Ou é isso, ou eu finalmente deixei que seu poder sobre surtisse o efeito desejado. Bem, talvez fosse o entardecer... a noite chegando, a cidade inteira indo dormir, as luzes se acendendo. Eu não sei, só sei que agora, observando os galpões abandonados pela janela do carro, eu só quero dar meia volta e me jogar em minha cama.
Ele me trouxera para uma área afastada da cidade, onde pode me sequestrar fácil, fácil. Ele pode me usar como refém. Pode me matar como aviso a U.M. Harry pode não ser quem eu penso, ou espero que ele seja. Meu Deus, eu estou longe das luzes, numa parte abandonada, sozinha diante do que restou das antigas usinas de gás de Costa Universal com um Gangster!
- Está pronta?
Olho para Harry, mas só consigo ver um dos lados de seu rosto que está sendo iluminado pela luz da lua. Os faróis do carro estão apagados, mas ainda assim, eu consigo ver bem os galpões onde eram as antigas usinas. Eu não sei se estou preparada.
Eu não sei o que fazer, então assinto. Harry percebe meu nervosismo, pois põe a mão sobre minha perna e ri para mim. Ele diz:
- Não se preocupe, mademoiselle, porque eu não farei mal algum a você.
- Não é necessariamente você, quem me preocupa.
Em parte o que disse é verdade. Eu não estou preocupada apenas com o que ele pode fazer comigo, mas sim os outros Gangsteres, afinal, eu sou uma Crescente e eles são nossos inimigos mortais.
Harry ri e gira a chave na ignição. Os faróis se acendem, depois apagam e se acendem novamente. Depois da terceira vez, eu percebo que se trata, na verdade, de um sinal, porque mais a frente surge uma luz amarela que pisca três vezes. Harry repete o procedimento de acender e apagar os faróis até que buzina três vezes e põe o carro em movimento. Quando estamos diante dos portões, ele para.
- Identificação! - uma voz ordena, mas eu não consigo identificar de onde ela vem.
- Agá-S.
Um minuto de silêncio.
- Não acredito! Você está vivo, seu bosta!
Harry ri e dirige para dentro do galpão quando os portões se abrem. Ficamos no escuro por algum tempo, até que, com estalos, luzes começam a se acender por todas as partes. Eu cubro os olhos com o antebraço a fim de protegê-los da repentina luminosidade. Quando os reabro, pisco até se acostumarem com a iluminação amarelada. Harry abre a porta do carro e me oferece a mão, eu a dispenso.
Observo o interior do galpão, mas não há nada que possa me surpreender. Se pudesse descrevê-lo em uma só palavra, o descreveria como normal. Velhas máquinas aqui e ali, escadas pelas paredes, um teto precário, poeira por todos os cantos... e algumas pessoas.
De repente uma corda desce do teto e um garoto loiro escorrega por ela. Quando se aproxima percebo que seus olhos são azuis e suas bochechas são meio rosadas. Ele usa penas roupas pretas. Harry e o garoto se cumprimentam com olhares sérios, depois o garoto dá um abraço em Harry.
- Seu cabeça de vento - o garoto reclama. - Juro que pensei que você já estava apodrecendo em algum beco.
- Não vão se livrar de mim tão fácil! - Harry responde.
Outras pessoas seguem em nossa direção, a maioria homem. Eu os observo atentamente, não querendo perder seus movimentos. Examino suas roupas pretas esfarrapadas, seus olhares curiosos sobre mim.
Então o garoto pergunta a Harry:
- Quem é? - ele aponta com o queixo em minha direção.
Harry dá um sorrisinho para o garoto, que inicialmente fica sem expressão, mas depois ri.
- Lexie, este é Niall. Niall, esta é Lexie.
Niall olha para mim e ergue sua mão para cumprimentar-me. Mas não ouso mover um dedo sequer.
- Oi - é o que digo.
Niall recolhe sua mão, constrangido. Harry pega em seu ombro e balança a cabeça como se lamentando o fato.
- Olá pessoal - ele acena para as pessoas atrás de seu amigo e elas retribuem o gesto. Harry volta o olhar para Niall e os dois começam a andar lado a lado. Eu os sigo. - Diga-me detalhadamente o que aconteceu aqui desde o meu sumiço, Niall. Quero saber sobre cada traço de cada rascunho.
- Tentamos encontrá-lo ontem à noite e invadimos a U.M. e a mansão do Maior. Tivemos várias baixas, mas conseguimos evitar maiores estragos - lembro-me de ter me esquecido de comentar com Harry sobre os ataques. - As coisas pioraram seriamente depois do seu sumiço e do comunicado de Judith e Cal Allen. Aqueles filhos da puta fizeram com que Decrescentes desistissem de se aliar a nós.
Eu enrijeço o corpo quando Niall xinga meus pais, mas não falo nada pelo meu próprio bem. Ao invés de falar, eu apenas observo atentamente o caminho que tomamos. Já passamos por algumas portas, e nesse exato momento, estamos entrando numa espécie de elevador antigo que mais parece uma gaiola. Niall puxa uma alavanca e então, num solavanco, a coisa começa a descer em direção a um poço escuro.
Descemos vários níveis até que a luz volte a aparecer. Surpreendo-me quando percebo onde realmente estamos indo, onde Harry está me levando. Começo a suar frio quando vejo os compartimentos nas paredes, a arquitetura calculadamente distribuída por todo o poço, que permite que os Gangsteres se escondam num lugar onde jamais serão encontrados pela U.M.
Fico perplexa quando o galpão velho se mostra uma colmeia muito bem feita, onde talvez se possa ter mais de 500 pessoas.
- Ei - dou um pulo quando Harry toca em meu ombro. - Bem-vinda ao Submundo, o covil dos Gangsteres.
Saímos do elevador, e eu olho para cima até onde as luzes quadradas terminam. O tamanho do lugar é impressionante.
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Sem Regras
Fiksi PenggemarMeu nome é Lexie Allen. Tenho 18 anos e vivo sozinha numa casa afastada da de meus pais e meus irmãos gêmeos, no sul da Costa Universal. Há duas colônias; Crescente e Decrescente Eu sou uma Crescente. Há um garoto. Ele é Gangster; sem regras. Não o...