No domingo da semana seguinte, mamãe me convidara para um jantar em sua casa junto com a família de Kim. Mamãe e meu papai estão lindos. Meu pai usa um terno bem cortado, ao passo que minha mãe usa um vestido azul muito lindo. Eu uso uma blusa e calça jeans. Os gêmeos usam roupas da mesma cor. Já Kim, como sempre, está bem vestida e elegante e seus pais e seu irmão não ficam atrás.
- O jantar estava maravilhoso, Sra. Allen - diz Kim ao terminarmos.
- Ah, obrigada, Kim - minha mãe responde. - Você como sempre muito bem educada.
Kim sorri para minha mãe e baixa a cabeça, envergonhada. Sorrio dela, pois sempre que alguém fala algo a seu respeito, seu instinto a faz baixar a cabeça para ninguém poder ver sua face enrubescer.
- Muito bem - papai diz. - Suponho que saibam que os convidamos não apenas para saborear as delícias que minha querida esposa faz na cozinha, não é? - ele dá uma risada e aperta a mão da minha mãe.
- Não me digam que seremos os primeiros a sabermos sobre o tão preciso segredo do Governo? - o pai de Kim diz todo entusiasmado.
Meu pai assente e continua a falar.
- Sim, Marcus, vocês saberão antes de todos.
Olho de relance para Kim e arqueio as sobrancelhas como se perguntando o que está havendo, em resposta, ela franze os lábios demostrando que sabe o mesmo que eu. Seu pai e sua mãe riem com certo frenesi estampado em seus rostos.
- Como vocês são minha família e nossos amigos mais íntimos, resolvi que deviam estar aqui e saber antes de todos da Unidade Militar e, em breve, Costa Universal. Preparados? - meu pai fica de pé diante de todos. - Já faz algum tempo que Vossa Excelência, o Maior, encomendou aos Pesquisadores algo que possibilitasse seu total controle sobre os chamados Gangsteres que vem aterrorizando a população com seus ataques criminosos ultimamente. Foram necessários meses para que enfim, os Pesquisadores pudessem chegar a concluir seu trabalho com sucesso. Acreditem quando digo que eles trabalharam mais que Militantes têm trabalhado pelos últimos dez meses.
Meu pai faz uma pausa e observa cada olhar na mesa atento a ele. Um dos cantos de sua boca está erguido num sorriso triunfante, como se ele estivesse certo de que a batalha entre Crescentes e Gangsteres já tivesse sida vencida. De repente meu pai põe a mão no bolso do terno e de lá, tira uma caixinha quadrada totalmente de prata. Ele ri para si mesmo e abre a caixinha revelando alguns... fragmentos azuis brilhantes?
Ele pega com o indicador e o polegar um dos minúsculos fragmentos.
- Enquanto trabalhávamos para manter a paz, os Pesquisadores criaram o CDO, Chip Da Obediência - meu pai exibe para nós o pequeno chip que exala uma luz azul intensa. - Vocês devem estar se perguntando em que um pequeno objeto desses irá nos ajudar, certo? Pois bem, o CDO será implantado na nuca de todo Gangster capturado, fazendo assim, com que ele obedeça cegamente o Maior, pois é para isso que serve. Quando o CDO é implantado na nuca de uma pessoa, ele se conecta ao cérebro e envia imagens, palavras do Maior, tornando-o uma espécie de deus na cabeça do usuário.
Eu sou a única que fica em silêncio. Como meu pai pode falar com tanto orgulho de algo que vai tirar a liberdade mental e física de alguém? Como pode ser tão frio a ponto de aceitar uma coisa assim? E minha mãe, o que tem a dizer sobre o assunto? Olho para ela, mas percebo sua surpresa e algo me diz que ela também não sabia de nada.
E se for esse o segredo que os Gangsteres desconfiam?
- Nossa, mas... o senhor não acha isso muito... egocêntrico? - Kim fala por mim. Todos voltam seu olhar para ela.
- Como assim, Kim? - meu pai pergunta.
- Se isso ser implantado nos Gangsteres eles obedecerão apenas ao Maior, certo? Pois, é, e como isso vai ser de alguma forma, compensador a toda população de Costa Universal?
Meu pai fica em silêncio por alguns minutos e encara Kim. Percebo que ela tenta sustentar o olhar pesado dele, mas ela vacila e então, eu digo:
- Com certeza irá nos compensar, Kim - eu a cutuco por baixo da mesa. - Afinal, o Maior só quer o bem para toda população.
Dou um sorriso para Kim e ela me imita, mas ambas sabemos que são sorrisos forçados apenas para disfarçar o constrangimento.
- Isso, minha filha. Ele quer apenas nosso bem. Nós o obedecemos e se conseguirmos fazer com que eles também obedeçam a ele, Costa Universal será um paraíso.
E então, como quem não quer nada, Samuel, o irmão de Kim, ergue a mão.
- Sim - diz meu pai.
- E se o Gangster que estiver com esse negócio na nuca, conseguir tirá-lo?
Meu pai dá um sorriso e volta a se sentar. Ele examina um CDO atentamente e não olha para ninguém quando fala.
- Caso o CDO for removido, o indivíduo morrerá instantaneamente, pois todo seu cérebro irá parar de funcionar. E, vocês veem essa luzinha azul? É uma substância tóxica que se espalhará pelas suas veias e chegará até o coração, impedindo-o de pulsar sangue pelas artérias.
- É a melhor notícia recebida em séculos! - exclama a mãe de Kim, uma Atiradora profissional. - Agora sim, teremos a possibilidade de combater a todos aqueles infelizes.
- Mas, Cal - minha mãe chama a atenção do meu pai. - Como iremos implantar o chip no indivíduo?
- Os pesquisadores já estão a desenvolver uma pistola especialmente para isso. Mas enquanto ela não chega, faremos isso manualmente. O Comunicado a população sobre a obra será daqui algumas semanas.
- Ele já foi testado? - eu pergunto.
- Sim, sim. E funciona muito bem.
- Estou chateada - diz Sandra de repente. Todos nós olhamos para ela que está ao lado de Alex e de mamãe. Seus bracinhos estão cruzados e ela faz bico. - Lexie não trouxe o namorado dela.
Eu congelo.
- Ele é tão legal - completa Alex.
Percebo o olhar que meus pais lançam sobre mim. É como se eu tivesse acabado de confessar que estava morando com um Gangster e apontasse uma arma para eles enquanto falava. Sinto minhas mãos umedecerem sob a mesa e tento não parecer nervosa.
- Namorado? - minha mãe fala, questionadora.
Eu gaguejo:
- N-não. Não é bem isso. Eu só recebi um amigo em casa no domingo de manhã... só isso, mais nada.
O silêncio toma conta do ambiente e é como se todos tivessem medo de abrir a boca. Cutuco Kim novamente sob a mesa, para que ela me ajude agora. Ela coça a garganta e diz:
- Está meio tarde, né gente? Acho que devemos ir, papai.
- Sim, sim. Devemos ir.
Depois que a família de Kim vai embora e o clima muda completamente, eu me sento no sofá da casa dos meus pais e brinco um pouco com meus irmãos. Mas logo os dispenso, para poder falar a sós com o meu pai. Espero que minha mãe suba com as crianças.
- Então, pai - eu começo. - Eu queria saber se, por algum acaso, teria problemas se o senhor me emprestasse um dos seus CDOs...
Meu pai olha para mim com as sobrancelhas arqueadas. Sua mão está sob o queixo, onde esfrega os dedos pela barba rala. Sua perna está cruzada e ele inspira autoridade.
- E para que quer um?
- Estudá-lo.
- Por que o interesse, exatamente?
Procuro algo coerente que possa dizer ao meu pai que, diferente da maioria, sabe muito bem quando um indivíduo está mentindo. O pior é que nunca menti para ele e não faço a mínima ideia de como fazê-lo. Opto por falar a verdade. Ou meia verdade, como quiser.
- Não sei. Só estou interessada em conhecer melhor essa tecnologia.
Meu pai ri e se aproxima de mim, ele me abraça com força.
- Minha garota.
Afasta-se e volta a tirar o CDO do bolso, ele o entrega numa caixinha de metal reserva.
- Tome conta dele - diz. - Não o deixe cair em mãos erradas.
- Tudo bem.
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Sem Regras
FanficMeu nome é Lexie Allen. Tenho 18 anos e vivo sozinha numa casa afastada da de meus pais e meus irmãos gêmeos, no sul da Costa Universal. Há duas colônias; Crescente e Decrescente Eu sou uma Crescente. Há um garoto. Ele é Gangster; sem regras. Não o...