Capítulo 1

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Cecília e eu nós conhecemos quando tínhamos uns treze anos, eu era o garoto novo na escola que estava tímido até para dizer um "bom dia" à alguém, Cecília não era muito diferente em relação à timidez, porém, ela se aproximou de mim e perguntou meu nome, não precisamos nem de dez minutos para já estarmos nós considerando os melhores amigos. Julgo que a partir daí tudo foi assim conosco, rápido demais, o amor fraterno logo estava virando uma paixão platônica.

Tive medo, temia que ela me odiasse se eu contasse o que sentia, éramos novos demais, eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Por que queria minha melhor amiga mais perto de mim? Por que tinha vontade de tocá-la? Por que sentia ciúmes dela perto de qualquer outro amigo? Por que me sentia envergonhado quando ela me abraçava? Por que meu coração estava batendo tão rápido?

Dois anos se passaram, guardei aquilo para mim, aguentei todos aqueles sentimentos sozinho, preferia que fosse assim, tinha medo da reação dela afinal, porém, em uma tarde ensolarada, enquanto fugíamos da aula de educação física, um beijo rápido acabou acontecendo, naquele momento tive certeza de que o que eu sentia por Cecília seria duradouro.

Os últimos anos do colégio se passaram, somente os amigos mais próximos sabiam de nosso envolvimento, ainda temíamos o que nossas famílias achariam ao saber que namorávamos, mas a formatura chegou, aquela etapa de nossas vidas tinham chegado ao fim, agora teríamos que caminhar sozinhos. A vida adulta estava batendo em nossa porta, trazendo consigo responsabilidades e a maturidade.

Criamos coragem e contamos a todos, assumimos, e para nossa felicidade e surpresa, fomos muito bem acolhidos por nossos pais, claro que não foi todos da família que reagiram bem, porém, não se abatemos com isso, as pessoas que realmente nós importava estavam do nosso lado e nós entendia.

Fomos morar juntos no primeiro ano de faculdade, em um apartamento que ficava perto do campus, quase dois anos depois, Cecília me pediu em casamento e não precisei pensar duas vezes para lhe responder um "sim". Tudo parecia estar dando certo, mas a vida não é um mar de rosas, nada é sempre perfeito, as discussões começaram, eram coisas tão bobas e fúteis, mesmo assim nós fazíamos gritar um com o outro e bater portas com força. Eu não queria aquilo, tinha medo de que nossa relação desmoronasse, logo estaríamos concluindo nossos cursos, e se depois de formados cada um seguisse para um lado? Não poderíamos terminar assim, eu a amo demais, pode parecer clichê e realmente é, mas não consigo ver minha vida sem Cecília Santos.

Talvez noite passada estivéssemos cansados demais, com muitas coisas bagunçando nossas mentes, o estresse acumulado nos fez explodir um com o outro, frases carregadas de sarcasmo e raiva saiam de minha boca quase sem permissão.

Ela me devolvia palavras no mesmo teor, e uma fala interpretada errada a fez sair pela porta da frente e entrar naquele carro. Eu devia ter engolido todo o meu orgulho e pedido desculpas, deveria a ter segurado pelo braço e dito para não sair, ter falado como estava me sentindo e não julgado suas ações. Se tivesse feito, talvez eu não estaria numa sala de espera do hospital agora, talvez a mulher que eu amo não estaria sobre uma mesa de cirurgia correndo risco de vida nesse minuto, talvez a sensação de culpa não estaria me corroendo como está no momento.

Eu deveria ter a impedido.

Depois que Cecília saiu de casa, fui idiota o suficiente para não ir atrás dela, fiquei acordado durante toda a noite, preocupado demais para conseguir pegar no sono. Cecília não voltou para nosso apartamento, cheguei a imaginar que tinha ido para a casa de sua mãe, infelizmente esse não foi o destino dela. Às três da madrugada alguém me liga perguntando se eu a conhecia, assim que respondi que "sim" tive uma das notícias mais dolorosas de toda a minha vida. Cecília havia capotado seu carro e estava sendo encaminhada até a unidade hospitalar mais próxima, eu tinha a sensação de estar a beira de um precipício, pronto para pular.

Meu coração parecia estar afundando, era como se uma ferida se abrisse em meu peito. Não conseguia acreditar que isso estava acontecendo conosco.

Alex: Gustavo, você tem que se acalmar. — minha irmã dizia enquanto me olhava andar de um lado para o outro na sala de espera do hospital. Eu não conseguia ficar sentado em uma cadeira dura e desconfortável, está entrando em desespero.

Gustavo: Como quer que eu me acalme? Ela pode... — não consegui concluir minha fala, pois, fui cortado por minhas próprias lágrimas.

Alex: Vem aqui. — Alex falou se aproximando e me puxando para um abraço, meu choro se intensificou, a dor em meu peito só aumentava.

Ninguém dava notícias sobre ela, sabíamos que estava passando por uma cirurgia nesse momento, mas precisávamos de mais respostas. Sua mãe e uma das nossas melhores amigas estavam aqui, tão aflitas quanto eu, estava com a sensação de que iria perde-la.

Se ela realmente se for? As últimas palavras que disse a ela, foram insultos, como poderia viver daqui pra frente sabendo que não consegui dize-lhe um último eu te amo? Como seria acordar e não a ter mais ao meu lado? Eu não iria suportar isso, só de imaginar comecei a derramar mais e mais lágrimas.

Um dos médicos se aproxima de todos.

— Parentes de Cecília Santos? — um médico se aproximaperguntando.

— Somos nós. — minha sogra responde com a voz embargada.—Como está minha filha?

— Ela respondeu bem aos medicamentos e a cirurgia foi um sucesso.— o médico nos deu a boa notícia, me fazendo suspirar aliviada. — Mas aindatemos o risco de sequelas, a pancada foi muito forte.

Gustavo: Q-que sequelas? — pergunto com a voz falha pelonervosismo.

— Bem, infelizmente só saberemos quando ela acordar, maspodem ir vê-la agora, um de cada vez, por favor. — o doutor indica o caminhopara o quarto em que minha noiva está repousando.

Fiquei dividido entre a alegria de saber que ela não corriamais riscos de vida, e a tristeza por saber que ela pode vir a ter sequelas,mas não importa o que for, vou ficar ao lado dela como Cecília sempre esteve aomeu, isso será apenas mais uma adversidade que vamos vencer juntos, tudo vaificar bem. Espero.

Tive que voltar para casa a muito contragosto, mas Alexdisse que eu precisava descansar um pouco, dava para perceber o quão exausto euestava, mas não demorou muito para me ligarem dizendo que Cecília haviaacordado, praticamente voei de dentro de casa até o hospital, precisavaurgentemente ver ela, ter a certeza de que tudo está bem.

Sabe quando você sente que algo de ruim vai acontecer?Quando seu peito aperta e um medo te invade? Foi assim que me senti enquantogirava a maçaneta para entrar no quarto em que minha noiva estava, minhas veiasdos braços pulsavam com mais rapidez, sentia meu coração bater cada segundo commais força, assim que abri a porta finalmente, me deparei com a imagem deladeitada sobre aquela cama, sua mãe estava ao seu lado.

You're My SushineOnde histórias criam vida. Descubra agora