Capítulo 12: Relações complicadas

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Acordo com o som do despertador, acho que não durmo tão bem há dias, sem ninguém interrompendo meu sono antes na hora ou virar a noite trabalhando, exceto por um detalhe, a mulher que adormeceu em meus braços não está na cama.

Infantil é o mínimo para sua atitude se eu estiver correto em meu julgamento!

Conforme caminho pelo apartamento percebo que estou, não há sequer a droga de um bilhete, uma mensagem, nada. Tento ligar mas o telefone está desligado, ótimo, geme meu nome a noite inteira e agora quer me evitar.

Começo o dia irritado, e é óbvio que a atitude da deputada causou isso, não foi lá a melhor das ideias da brasileira, mas o que realmente me frustra é que o único motivo de eu estar dessa maneira é ter expectativas demais. Quais eram exatamente eu não sei, eu sabia que ao final ela voltaria para o noivo, talvez eu só quisesse ter mais tempo com ela.

Cazzo! Estou sendo ridículo!

Passei todo o dia nessa luta interna de "tenho razão" ou "sou um babaca emocionado" e no tempo que sobrava, entre isso e o trabalho, eu tentava contato com a fujona que continuava a me ignorar. No fim da tarde eu perco a paciência e saio da agência com destino certo.

O condomínio onde Agatha mora não é algo luxuoso, é simples na verdade e bem familiar, não foi difícil convencer o porteiro a me liberar, apenas provar minha profissão. A casa da delegada é uma das últimas de sua rua, e antes mesmo de tocar a campainha a porta se abre com uma loira que ainda não conheço, os cabelos platinados eram curtos e raspados nas laterais

— Desculpe, ia conferir a correspondência, — sorri simpática, imagino que seja a esposa de Agatha — Posso ajudá-lo?

Antes que eu consiga responder, a deputada surge usando um short curto e blusa de alças, nem sinal do vestido de ontem a noite, ao me ver arregala os olhos e paralisa em seu lugar

— O você está fazendo aqui?

— Por que fugiu?

A mulher que me atendeu divide o olhar entre nós e raspa a garganta

— Entendi... Acho que você precisam conversar — diz para Camila que morde o lábio negando — faça o certo Cami — sussurra, mas consigo ouvir

— Obrigada, Ana

Por algum tempo nos encaramos, a mulher à minha frente era a mesma que vi na agência pela primeira vez, embora as roupas fossem diferentes aquela era a deputada, elegante, implacável, à prova de fraquezas. Essa postura já me dizia o teor da conversa, só não consigo entender quando passei para inimigo.

— Por que fugiu? — Repito e ela suspira

— Porque foi um ato impensado, eu precisei colocar a cabeça no lugar e avaliar o quanto esse tesão mal resolvido afetaria minha vida — Seu tom é frio, como se tivesse falando de tropeçar na rua

Eu reconheço o quanto essa cobra gostosa me envolve, mas não sou idiota à esse ponto, vi a decepção em seus olhos quando eu quis afastá-la, seu sorriso bonito durante chamadas de vídeo, as milhares de mensagens sobre nosso dia e trabalho... Essa merda não é só tesão de jeito nenhum!

— Tesão mal resolvido? — Questiono erguendo uma das sobrancelhas

Ela esfrega os olhos parecendo cansada e gesticula para que eu entre, mas nego

— Logo Agatha vai chegar com meus afilhados, e eu não quero que presenciem essa conversa, Enrico, então, por favor

Ela caminha até um jardim nos fundos da casa e dessa vez a sigo, todo o corredor que nos leva até lá é repleto de fotos e desenhos da família, em algumas fotografias Camila também está, vê-la sorrindo ao lado das crianças me dá saudade de ter essa versão leve ao meu lado também.

— Sejamos claros, o que fizemos foi um erro, — solta assim que paro em sua frente — Que não vai se repetir, eu sou noiva, amo o Guilherme e o que aconteceu foi movido à uma tensão sexual momentânea

Rio sem evitar o deboche assim que ela fala, a quem ela quer enganar?

— Eu vi o seu amor pelo médico ontem

Surpresa com meu tom ela dá um passo para trás cruzando os braços

— Não venha me tratar como uma vagabunda à essa altura! — Quase rosna irritada

— Não estou, você está! Quer que eu acredite que transou comigo mesmo amando seu noivo? O cara que te deixou sozinha numa festa onde foi envenenada, que nem mesmo te enviou uma mensagem para saber se chegou bem, deixou você na companhia de um homem que conheceu à um mês? Jura? Esse homem?

Seu olhar encontra o meu, gritando mentira à cada palavra que sai da sua boca, mas ela mantém a postura, se é assim que quer então não vou insistir, viro as costas para ela a fim de sair mas posso ao ouvi-la

— É dele que eu preciso, — Responde incisiva — esse envolvimento poderia acabar com a minha imagem, Guilherme é o homem perfeito para minha carreira, uma relação duradoura com um médico de família estruturada.  As vezes o amor é irrelevante

Sequer me viro para olhar em seus olhos, seu tom de desprezo é o suficiente para me fazer sair dali à passos rápidos, de relance vejo Agatha com duas crianças na cozinha, aceno brevemente e saio dali direto para um supermercado.

Entro no elevador com sacolas cheias, mais bebidas do que consigo consumir em um mês, mas hoje eu preciso disso.

— Estou ouvindo o tilintar do vidro daqui, — Evellyn é quem comenta ao entrar no elevador comigo — e olha que já te vi em muitos dias ruins, mas dessa vez tá na fossa hein?

A encaro com um sorriso de canto, devo estar deplorável, mas sei que é temporário, uma boa noite de sono e estarei novo

— Promete não dizer eu te avisei? — O elevador abre assim que digo e pela expressão, sei que ela imagina do que se trata

— Se não me der bronca eu prometo — Seu olhar é de criança que aprontou e apenas aguardo que continue — Saí com um cara

Franzi as sobrancelhas sem entender porque eu acharia ruim

— Nunca fomos exclusivos

Ela assente evitando me olhar

— Estou falando de Nikolay — fala rápido e baixo como quem tira um curativo

Paraliso observando-a, pela forma que ela fala não é um sexo casual, e Cazzo, ele mora em outro país além de ser um assassino

— Não me olha assim, ele foi tão fofo, estava lindo, me levou pra jantar, mesmo falando pouco me ouvia com tanta atenção, e no final fez questão de pegar um lanche pra que eu trouxesse pro meu filho, nem mesmo dormimos juntos, Rico, e olha que ele merecia uma sentada depois de tudo isso — Ri

Entramos no apartamento enquanto ela fala e deixo as bebidas sobre a mesa de centro

— Você sabe que ele... Não é exatamente um dos mocinhos né?

Eve deu de ombros abrindo uma garrafa

— Não é como se tivéssemos algo sério, só falei que saí com ele — A encaro erguendo uma das sobrancelhas — Ok, então acho que nós dois precisamos dessas bebidas

Se joga no meu sofá bebendo direto da garrafa e pego uma para mim também, seguindo seu péssimo exemplo

— Daremos um jeito — bato de leve minha garrafa na dela e também bebo sem o auxílio de copo

— Me conta, essa bebedeira é porque se apaixonou pela mulher do médico, porque transou com ela ou a mulher escolheu ele?

Deito em suas pernas e rio da minha própria desgraça

— Todas as opções?

— Puta merda, Enrico!

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DIGO O MESMO EVE 🤡
ÚNICO CASAL NORMAL NESSE LIVRO É A DELEGADA E A ESPOSA KKKKK

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