Lobo

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Já estava entardecendo, os escravos estavam retornando para a Senzala, porém Antônio percebia que havia algo de errado com Dominique. 

-Há algo de errado, Dominique? - questionou Antônio. 

-Nada, não há nada de mais - respondeu Dominique de forma ríspida.

-Acordou mal humorado Dominique? Não precisa descontar a sua raiva em mim - disse Antônio, ainda preocupado. Dominique estava extremamente com raiva, desde do começo da manhã e Antônio não entendia isso e queria conversar com Dominique.

-Eu preciso ir para outro canto - disse Dominique - E não me procure e não peça para ninguém me procurar.

-Onde você irá? - questionou Antônio.

-Não te interessa - respondeu Dominique. 

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Já era de noite, todos os escravos estavam dormindo. Antônio acorda e percebe que Dominique não estava lá ainda. Então, Antônio se levanta para procurar Dominique; ele tenta tomar o maior cuidado para não acordar ninguém. Assim que Antônio sai da Senzala, ele não pega nenhuma fonte de luz para procurar Dominique para não chamar a atenção de nenhum capataz do Senhor Costa e também nenhum guarda da real, pois caso alguém achassem ele, Dominique ou até mesmo os dois, as consequências seriam piores que poderiam levar a morte.

~Onde você tá, Dominique? - sussurrou Antônio. 

Assim que ele percebe que um andar de cavalo, Antônio rapidamente se esconde atrás de uma árvore para não ser encontrado. 

~Dominique se eu te achar, eu vou te dar tanto soco que você vai trabalhar de olho roxo na lavoura - sussurrou Antônio mais uma vez. 

Quando de repente, ouve-se um uivo. 

Deve ser algum cachorro, pensou Antônio. 

E mais um uivo foi ouvido.  Logo, foi ouvido uma série de disparo e logo depois gritos de alguém. 

Em nome de Exu, que porra tá acontecendo? , pensou Antônio. 

Logo Antônio se depara com um lobo de cor preta, Antônio fica paralisado com ele devido ao medo que consumia o seu medo. 

-Não falaram para mim que tinha lobo aqui nessas Terras - disse Antônio, ainda com medo ao ver o lobo

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-Não falaram para mim que tinha lobo aqui nessas Terras - disse Antônio, ainda com medo ao ver o lobo.

Antônio pega uma pedra e atira a pedra para afastar o lobo. 

-Vai para lá lobo - disse Antônio, o mesmo pega mais uma outra pedra para tentar afastar o lobo - Vai para onde os lobos moram. 

Parece que o lobo tinha o ouvido e vai embora. Antônio se ajoelha no chão. 

-Exu - disse Antônio, ele estava ofegante. Era como se aquela toda situação tinha o tirado todo o ar que existia ao redor dele - Muito obrigado, seja lá o que é que tenha sido. 

Antes mesmo que Antônio voltasse para a sua procura de Dominique, ouve-se um grito masculino. 

~Era só isso que me faltava. Dominique se eu te achar, eu vou te matar - sussurrou Antônio.

Antônio percebe uma certa movimentação de outros guardas que estavam ao redor para verem o que havia acontecido. Antônio já estava desesperado. Se algum guarda visse ele, automaticamente, seria culpado e sentenciado a morte, mesmo sabendo que Antônio não tinha feito nada.

~Em nome de Exu - sussurrou Antônio - O que acontecendo? É maldição de quem?

Antônio não tinha opção de correr para bem longe, pois os guardas já estavam fazendo uma averiguação ao redor. Antônio, então subiu na árvore com muito cuidado para não se machucar e muito menos chamar a atenção dos guardas. Uma única vantagem que Antônio podia ter por estar encima de uma árvore era poder observar de forma privilegiada do que estava acontecendo ao redor.

-Pelo que parece o corpo foi atacado por algum bicho - disse um dos guardas.

-Mas que tipo de animal poderia atacar um guarda que estava armado? - questionou um outro guarda.

-Em nome de Deus - disse mais um outro guarda, que estava com o medo - Será que é algum demônio que atacou ele?

Antônio logo viu o corpo, o corpo estava com muitas marcas de mordidas e muito desfigurado, aquela cena deixou Antônio em choque. Parecia que algo que o próprio destino tinha planejado. Primeiro Dominique desaparece sem nenhuma explicação, depois disso um lobo aparece na frente de Antônio e agora um corpo de guarda havia sido achado sem vida.

-Vamos ficar de vigias aqui - disse um quarto guarda - E também vamos garantir que também a imprensa não saiba dessa notícia, se não o pânico irá se espalhar pela comunidade. 

~Ótimo - sussurrou Antônio - Vou ter que passar a noite aqui, pendurado numa árvore. Se eu achar o Dominique eu vou dar tanta surra, mais tanta surra que ele nem vai saber quem ele é. 

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O dia já havia ficado claro, Antônio claramente estava cansado, ele havia virado a noite pendurado numa árvore sem poder nenhum movimento para chamar a atenção dos guardas. Logo começou uma movimentação de muitas pessoas. Jornalistas, pessoas curiosas para saber o que estava acontecendo. Era uma oportunidade perfeita para fugir sem ser percebido.
Antônio desce com o mesmo cuidado que ele havia subido. Enquanto isso, os jornalistas estavam fazendo inúmeras perguntas para os guardas que estavam presentes, até porque era a morte de um guarda ligado a Coroa Portuguesa.

-Já sabem quem é o suspeito? - perguntou um jornalista.

-Os senhores já consideram esse crime como traição a Coroa? - perguntou outro jornalista.

-Será que os senhores podem se afastar - respondeu um guarda. - Não é de interesse de vocês.

-Mas já sabem que se pode ser algum crime de vingança contra o guarda? - perguntou um terceiro jornalista.

Enquanto questionamentos e teorias conspiratórias estavam sendo elaboradas, Antônio já havia descido da árvore e já estava voltando para a Fazenda sem o Senhor Costa ou nenhum capataz perceber ele.

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Já era mais de 10 horas da manhã, pela posição do sol.

-Onde está Antônio? - questionou um senhor que aparentemente tinha 80 anos.

-Não sei - questionou outro escravo que era 40 anos mais novo que o primeiro.

-Aqui estou eu - disse Antônio, ofegante devido o fato de correr para ninguém o ver - Por acaso alguém viu o Dominique?

-O que foi, Antônio - disse Dominique, olhando para Antônio como se nada tivesse acontecido.

Filho da Puta, onde você estava seu desgraçado?, pensou Antônio com muito raiva.

-Dominique, depois do trabalho, podemos conversar - disse Antônio, com muita raiva mas querendo disfarçar a raiva que estava o consumindo.

O Beijo da Noite (Filhos da Noite)Onde histórias criam vida. Descubra agora