O Casamento

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Alterno meu olhar entre a janela e o relógio na parede, preocupado, com raiva, impaciente.

Duas da tarde e Roman ainda não veio para casa almoçar.

Odeio quando ele se envolve tanto no trabalho que esquece que precisa comer, não só para ter energia, mas para ter uma boa saúde.

Você faz a mesma coisa, idiota, consigo ouvir a voz dele na minha mente me retrucando.

Abro um sorriso só de pensar nisso.

Às vezes realmente não vejo a hora passar e esqueço de comer por estar cheio de documentos na minha mesa. Cuidar de um reino não é diferente de um curandeiro cuidando de seus pacientes.

E como já aconteceu comigo, e com ele várias e várias vezes, sei muito bem que ele não vai voltar para casa por agora. Está perdido demais no trabalho para se lembrar da hora passando, preocupado com um paciente ou mais de um. Então preciso fazer alguma coisa.

Decidido, dou uma passada na cozinha antes de sair de casa e caminhar em direção ao consultório do meu noivo.

Construímos o prédio para ele no começo do terreno, assim nossa casa está protegida dos olhares dos curiosos e mal intencionados, e ele pode atender todas as pessoas que precisam sem se preocupar com algum perigo. E o terreno está cheio de soldados protegendo tudo, já que sou o governante do reino. Aqui é como uma fortaleza bem protegida, mas também é o nosso lar, meu e de Roman.

O lar que construímos juntos.

Caminhando até o consultório, noto alguns soldados me seguindo. Tem sempre um grupo que me segue para todos os cantos, me protegendo, mas aqui na minha casa eles ficam alguns passos mais afastados, me dando espaço e privacidade.

Não me incomodo com isso porque já me acostumei nesse ano de reinado, e estou feliz demais para ficar me preocupando com isso.

Enquanto entro no prédio do consultório, dou um aceno cordial com a cabeça para todos os funcionários que me cumprimentam. Faxineiros, as mulheres da recepção, auxiliares e os curandeiros. Todos escolhidos a dedo por Roman — e que depois passaram por uma entrevista e pesquisa pelo capitão da guarda da família real, claro.

Esse consultório é um sonho para Roman e tomamos todo o cuidado para que fosse seguro para ele trabalhar aqui, afinal, ele faz parte da família real sendo meu noivo e é motivo de curiosidade e afeição por todos do reino.

Conheço cada canto desse lugar, estou sempre aqui atrás de Roman, e vou para o único lugar que sei que vou encontrá-lo em algum momento. Sua sala. Se ele não está em algum atendimento ou cirurgia, ele está aqui.

Então claro que fico muito feliz de encontrá-lo assim que entro na sua sala após uma batida. Ele me deu total permissão para entrar aqui quando eu quisesse, sem bater, por isso sempre faço isso.

— Ei.

Roman, perdido em um papel em suas mãos, só vira sua cabeça por alguns segundos para me olhar e me lançar seu sorriso bonito.

— Ei.

Me aproximo dele e o abraço pelas costas, depositando um beijo em seu ombro e em sua bochecha.

— Tudo bem?

— Uhum.

Ele relaxa seu corpo no meu, aconchegado, gostando do meu abraço. Ele sempre me diz que adora minha pegada em sua cintura, mesmo em um abraço carinhoso.

— Estou dando uma olhada nos relatórios de uma paciente.

— Aquela com a doença no sangue?

— Sim.

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