Sou Índia

2 1 0
                                    



Dos pássaros o canto

Me diz: Sou Jaci!

E os animais bebem água no leito do rio

Sorri as palavras, sussurram meus lábios:

- Sou índia, sou ela, filha de Tupã!"


"Meus olhos são claros, igual a estes astros

Tem a luz das estrelas meigas a brilhar

Esboçam as nuvens em seus sonhos tão belos

Sua luzes cintilam nas ondas do mar!"


"É moreno o meu rosto com suas pinturas tribais

da cor quente da brasa da árvore em cruz

Do negrume das mechas, esvoaçam em luz

O meu cabelo sedoso, igual ao véu dos florais."


"Do sol do deserto, da flor de cajá

O fruto do seio, coração a amar

Na beleza do corpo, e no brilho de Arumã

Que se revela singela antes do novo dia acordar."


"Tão leveeve e solta, nas cachoeiras vou mergulhar

flutuando nas águas igual a misteriosa iara

E nas gramas, ligeira, com os pés vou andar

silenciosa, em dança, igual a ave tingá."


"Os braços da palmeira, dançando nua no ar

Dourada na pele com a luz do sol a banhar

Cheirosa como as mil flores da amada mãe Yaci!

Sou Índia, sou bela, filha de Tupã!"


" Na natureza me encontro, sou uma com ela

Meu arco, minha flecha, é um raio de sol

Meu corpo, minha alma, é o canto do sabiá

Meu olhos, o favo de mel a inebriar

Meus lábios, o beijo do pássaro na flor

Meu seio, o fruto adocicado do cajá

Minhas mãos são a flauta, e meus pés o tambor

Minha forma é a dança, sou inteira Jaci

A Luz que abraça o Sol a amar

Sem começo, sem fim, estou sempre a dançar

O que diz essa dança, que me envolve e abraça!?"


"Sou índia

                    sou ela

                              filha de Tupã e a Yaci!

brilho no meio das trevas

                             entre as nuvens, meu corpo desvela

                                                                                     toda nua e bela

Eu sou Jaci!



Tupã - deus supremo

Arumã - noite

Tingá - branca

Yaci ou Yacy, ou ainda Cy - mãe sagrada (mãe terra)

A Nova PoéticaOnde histórias criam vida. Descubra agora