Capítulo 15 - Chamado

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Capítulo 15

Manuela

"— Manuela! — uma voz grita de longe. Eu caminho entre as árvores, na neblina intensa. — Manuela! — toco as árvores e sinto suas cascas grossas.

É como se eu já tivesse passado por esse lugar muito tempo atrás. Mas onde é aqui?

— Ei, gorda! — reconheço a voz, é o Enzo. — Cuidado!

— Manuela! — agora é a voz do Daniel. — Toma cuidado!

— Do quê? — dou uma volta, procurando pelos donos das vozes.

— Daniel? Enzo? Onde vocês estão? — começo a correr entre as árvores. Meu pé se enrosca numa raiz e eu caio de cara no chão. Me sento e observo tudo. — Cadê vocês?

— Filha! — meu corpo se arrepia por completo.

— Papai! Onde você está? — sua sombra aparece e eu corro para abraça-lo. Ele some, caio no chão.

— Manu! Manu!

— Han?

— Manu!"

— Manuela!

— Aaah! — caio da cama. Sentada no chão, olho para cima. Enzo me olha com aquele sorriso debochado de sempre.

Ao menos dessa vez não foi com um balde d'água.

— Sabia que é falta de educação acordar por último na casa de outra pessoa? — meu rosto esquenta.

— Deixasse seu irmão me acordar.

— O Daniel já foi para a academia. E a mãe foi pra loja. Sobrou pra mim acordar a feia-adormecida para ir pra escola.

Franzo as sobrancelhas.

— Você é tão criativo quando o assunto é apelidos idiotas.

— Obrigado, gorda. Se troca, rápido caso queira comer alguma coisa. — Levanto do chão. — Jesus! Amassou o chão! — Reviro meus olhos.

— Não use nome Santo em vão. — começo empurrar ele para fora do quarto. — Sai daqui, preciso me trocar.

— Se troca na minha frente. Não vou sentir atração alguma por uma...

— Preta e Gorda. Não precisa concluir. Só sai logo, Enzo! — bato a porta na sua cara.

Coloco meu uniforme e prendo meu cabelo num coque alto. Pego minha mochila, depois de ir ao banheiro e fazer minha higiene, vou ate a cozinha e vejo Enzo comendo pão com creme de avelãs.

Resolvo comer o mesmo, apenas um pedaço. Mas claro, eu pedaço não é nada para matar a minha fome. Dou um longo suspiro. Vou arrumar um emprego e comprar minha própria comida, não posso dar prejuízo para a tia Mira.

Enquanto tomo meu copo de leite, Enzo não para de me olhar.

— Que foi?

— Estou apenas admirando uma baleia em seu habitat se alimentando. O que será que ela fará a seguir? — imita a voz de um narrador.

Idiota.

Ignora, Manu.

Terminada a refeição, escov os dentes e saímos juntos. Não faço a menor ideia de como chegar na escola por aqui, então só me resta seguir Enzo por aí. O que é horrível! Ele pode estar planejando me deixar perdida por essas ruas.

Socorro.

Quando chegamos no portão da escola, a diretora está lá, conferindo o uniforme dos alunos. Penso que irei passar de boa, mas ela me para junto de Enzo.

— Vocês dois, na biblioteca na hora do intervalo.

Diz e faz sinal para seguirmos.

Entendo que ela quer que cumprirmos o castigo de cuidar da biblioteca. Seria divertido, se não fosse ao lado do Enzo.

— Manu! — a voz do meu irmão me desperta. Olho para o moleque moreno claro, me olhando, todo suado. Parece que veio correndo até a escola.

Percebo que Enzo já sumiu.

— O que você quer? — ele suspira.

— É que... — abre a mochila e tira de lá um punhado de dinheiro. — A mamãe me deu a sua mesada, tá aqui. — coloca na minha mão. — E pode ficar com a minha. Você vai precisar mais do que. — fico surpresa. Toco o rosto de Gustavo.

— Obrigada.

— Quando você vai voltar pra casa e comer todo estoque de comida, gorda?

— Não sei, pau de virar tripa. Eu vou indo. Te amo, irmãozinho. — lhe dou um beijo na testa.

Já na sala de aula, sento ao lado de Edu e Marcos. Conto para eles tudo que aconteceu e não consigo conter algumas lágrimas.

Eles me abraçam e dizem que tudo vai ficar bem. São ótimos amigos.

Mais tarde, encaro o Enzo, ambos parados em frente à biblioteca. Ele me analisa a cada mínimo detalhe.

— Vamos acabar com isso de uma vez.

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