Capítulo 12 - Nascer diferente

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Oie!

Tô com uma tpm daquelas e escrever está ajudando a distrair a dor maldita. Aí saiu esse capítulo!

Boa leitura!
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Capítulo 12

Manuela

Encarar Daniel nessa situação é estranho. Ele me dá um sorrisinho fofo e se senta ao meu lado.

— O que fez uma menina tão linda chorar? —minha cabeça está baixa. Sinto que ele está sendo falso. Ninguém em pura consciência diria que sou linda.

— Não sou linda, Daniel. Eu nasci nesse corpo horrível. — murmurou. — Eu queria mudar de corpo...

— Ei, ei. Deixa eu te contar uma coisa. — segura minha mãe. — É o seu corpo, então é lindo. Todo tipo de corpo é lindo. Desde os mais magros, aos mais gordos.

— Mas magros não sofrem.

— Eu tinha um apelido no sexto ano: perna de saracura. Era meio triste ser chamado assim.

— Como você pode ter sofrido bullying? Você é tão bonito.

Você não falou isso, Manuela!

— Oh, obrigada, Manu. — mais um sorriso de lado. — Enfim, corpos não importam, o coração é a parte mais importante. E seu coração é lindo.

Esse é o menino mais incrível que já conheci em minha vida toda.

— Então, Manu. O que faz perdida nesse bairro às duas da manhã? — cruzo os braços, me encolhendo. — Se não quiser, não precisa falar.

— Teve uma reunião de família lá em casa. Está horrível, como sempre. Ate que ficou pior do que nunca. — limpo uma lágrima que cai. — Meu tio invadiu meu quarto e tentou me agarrar. Minha tia pensou que eu estava seduzindo ele e me atacou. Por isso eu fugi. Estava procurando a cara do Edu, mas me perdi. Não faço a menor ideia de onde eu esteja.

— Isso é um grande problema. Você não pode voltar para casa já. — suspira.

— Vou dormir no ponto de ônibus.

— De jeito nenhum! — Se levanta e me leva junto. — Tenho certeza que a mamãe não vai se incomodar se você passar a noite lá em casa.

— Quê?! Mas...

— Vem logo, antes que algum bandido apareça. — andamos rapidamente pelo bairro, até chegar numa casa modesta, entramos. — Mãe!

— Daniel, finalmente chegou! Já estava quase mandando o Enzo ir te procurar. — ela me vê atrás dele. — Manu?

— Oi, tia Mira.

— Não me diga que ela sofreu mais um ataque racista?! — suspiro.

— Ela foi atacada pelo tio e fugiu. Achei ela na frente de uma padaria, chorando. Mãe, você se importa se ela passar a noite com a gente? Só até as coisas na cabeça dela esfriarem.

— Claro! Querida, se importa de dividir a cama comigo?

— Não, tia.

— Que barulho todo é esse? — Meu sangue gela quando vejo Enzo aparecendo na porta da cozinha. Me olha de cima a baixo, parando os olhos nos meus seios. Esqueci que meu pijama é meio transparente!

É estranho sentir malícia no olhar dele?

— A Manu vai dormir aqui.

— Ah... pera, quê? Não me diga que ela é sua namorada? Mãe! Você não proibiu a gente de trazer namoradas para dormir aqui?

— A Manu não é minha namorada. Mas poderia ser. — Meu rosto cora. — Você fica uma gracinha vermelha.

— Que idiotice. Vou dormir que ganho mais. — some no corredor.

Um tempo depois, Mira já arrumou a cama para dormimos juntas.

Descobri que Daniel e Enzo dividem quarto.

No meio da noite, sinto sede e resolvo ir beber um copo d'água. Pego a água e me sento.

Queria entender o que está acontecendo na minha vida. Todos parecem me odiar. É terrível. Eu só tenho quinze anos, dou preta e gorda, isso é motivo para que eu sofra?

Segundo os brancos, sim, é motivo.

Eu sofro ataques racistas desde pequenas, principalmente por causa do meu cabelo "bombril"

Ah... Eu queria ter nascido diferente.

— Manuela. — levo um susto ao ouvir a voz do Enzo. — Quero que saia dessa casa agora mesmo.

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