Capítulo 16
Enzo
Não, não, não!
Estou desabando. Minha fachada que demorei anos para ser construída está sendo derrubado por uma bola de canhão, barra, Manuela!
Estamos numa mesa no centro da biblioteca, renovando o selo que fica catalogado na biblioteca. Vamos ficar fazendo isso até que todos os livros acabem.
E aqui tem mais de dois mil livros.
Apoio meu rosto na mão e fico observando a Manuela.
Feia.
Gorda.
Preta.
Maravilhosa.
Arg! Porra, vai pro inferno esses pensamentos! Como eu posso achar uma menina como a Manuela atraente?! Ela é...
Tudo de feio!
Meu sempre me disse: as branquinhas são as melhores. As rosinhas são perfeitas.
Aí eu olho para a Manuela. Pretinha.
Ô inferno!
Acho que ela estava mascando chiclete de melancia, o cheiro tá invadindo minhas narinas.
Eu quero espremer os cravos dela.
Eu quero morder essa bochecha gordinha.
Eu quero...
Que alguém apague meu fogo no cu, inferno!
O que tá acontecendo comigo, Deus? Foco, Enzo, foco. Pensa em coisas aleatórias.
Err...
Não consigo pensar em nada.
NADA!
— Enzo, pelo amor de Deus, para de fazer essa cara de ódio pra mim, tô ficando com medo. — murmura. Pisco algumas vezes, só aí notando a situação.
— É pra por medo mesmo, baleia. Você é lerda, faz isso mais rápido. Quero ir pra casa.
— Se você me ajudasse, seria bem mais rápido, sabia? — bufa. Sinto vontade de rir.
Reparo no corpo dela. Mano, como a Manu consegue ter tanto peito? Parecem duas melancias enormes. Ou um airbag daqueles veem potentes. Eu poderia dizer que são feitos de silicone, mas a Manu nunca teria dinheiro para pagar por isso. E se tivesse dinheiro para cirurgia plástica, seria óbvio que iria preferir fazer uma redução de estômago.
— Enzo, para, por favor. — noto que estou me aproximando demais dela. Dou uma risadinha. Me afasto e resolvo ajudá-la a catalogar os livros.
Quando o sinal do intervalo bate, pensamos que poderemos sair e ir para sala de aula, mas não, a diretora aparece e diz que vamos ficar aqui até acabar com isso.
Minha vontade é de jogar uma cadeira nela.
E eu vou acabar jogando.
E lá vamos nós, por mais um tempão fazendo isso.
Noto que a Manu está quase dormindo sentada. Dou uma risadinha. Que fofa.
— Qual tipo de animal gigante que hiberna você é? — revira os olhos de chocolate. — Não dorme, gorda. Não vou ficar fazendo essas coisas sozinho.
— Eu não vou dormir. — boceja.
— Saco. — resmungo. Me levanto. — Vou mijar.
No banheiro, me escondo numa das cabines. Meu coração está a mil.
Chega uma mensagem do Daniel:
Daniel: Depois do almoço, você cuida da academia. Vou ficar na loja pra mãe resolver uns assuntos. Seja legal com a Manu :)
Enzo: Tá.
Como o Daniel consegue ser tão diferente de mim? Ele é... arg. Idiota.
Ele tá comovido com a historinha da Manu. Bem, eu também fiquei meio mexido com isso. MAS não é problema nosso! A mãe se mata de trabalhar na loja que temos pra pagar as contas! Sem contar o dinheiro que eu e o Daniel conseguimos ajudando Alexandre na academia. É o nosso sustento. MAS agora, com a Manu em casa, vai ser mais uma boca para comer, mais gastos. Ou seja, minha mãe trabalhando mais para alimentar um filho que não é dela.
Depois de mijar, saio do banheiro e vou para a biblioteca. Encontro uma cena fofa, que derrete meu coração em instantes:
A Manu usando os braços de travesseiro e dormindo, tranquilamente, como um anjinho.
O vento da porta parece incomodá-la, então tiro meu casaco e coloco em suas costas. Me sento ao seu lado.
Você mexe demais com a minha cabeça, menina.
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É o MEU corpo!
Roman d'amourSinopse Manuela é uma garota que sofre sempre. É chamada de gorda por todos - baleia é seu apelido número um -, é preta, cabelo afro, estrias e celulite. Claro, ela é uma mulher completamente normal. Mas não aos olhos das outras pessoas. Manuela se...