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DIZEM QUE O LUTO TEM SUAS FASES, cada um sente de um jeito, é claro. Lexie foi mais rápida, ela entrou em negação, ela era boa em negar, depois de um tempo ela começou a chorar toda noite quando ninguém via, depois ela ia no túmulo do Robin praticamente todo dia, até que começou a ir com menos frequência, até que parou de falar com ele. Ela não tinha esquecido, ela nunca esqueceria, afinal, olhar pra Alice e Finney lembrava ela disso todos os dias. Mas ela aprendeu a lidar. Eles também faziam ela se sentir melhor, por estarem vivos.

Finney teve os seus próprios problemas, ele também ia no túmulo do Robin, conversar, contar as novidades. Ele fez isso depois do primeiro encontro de verdade com Alice, fez isso no aniversário dele, fez isso muitas vezes. Ele se sentia culpado, mesmo que a culpa não fosse dele. Ele ficava atento toda vez que o telefone tocava, lembrando da sua última ligação com Robin. Ele sentia falta do melhor amigo, ele se sentia culpado, e sinceramente ele ainda não sabia de onde tinha tirado forças pra sobreviver. Ou talvez soubesse, ela tinha cabelos vermelhos inconfundíveis. O ponto é, ele era um tanto popular agora, todo mundo sabia quem ele era e os garotos não mexiam mais com ele, e mesmo assim, ele só imaginava o que Robin acharia disso. Mas de certo modo, ele seguiu em frente, com pesadelos e ansiedade, mas ele seguiu.

E Alice, ela foi a pior de todas. Ela sempre foi intensa, e sentir o luto foi tão intenso quanto tudo que ela fazia. Primeiro, ela ainda se assustava quando alguém encostava nela sem pedir, ela ficou com isso, por vários motivos, o abuso, ou o fato de ter ficado horas numa cova com um cadáver. Ela também não conseguia ficar em lugares fechados como elevadores por muito tempo, e ela tinha pesadelos, as vezes ela ainda sentia o sequestrador em cima dela, as vezes ela ainda se sentia dentro daquela cova, e ela acordava assustada praticamente toda noite. Em uma dessas noite ela foi no quarto do Vance, ela lembrava de fazer muito isso quando era menor, em noites ruins. Mas ele não estava lá dessa vez, ele não ia dizer "É só um pesadelo" e ajudar ela a dormir. Isso não ia acontecer. Até porque agora era só um pesadelo, mas já tinha sido bem real.

Seu pai também estava de luto, no começo ele foi calmo, depois ele voltou a beber, ele já não gritava com ela, mas ele estava paralisado. Isso não ajudou ela, porque quando ele entrou em estado de negação, ele quis guardar todas as coisas do Vance no sótão e Alice começou a gritar com ele, foi uma discussão feia. Ela se trancou no quarto do irmão por horas, o pai podia ouvir ela chorando. Depois disso, ela pediu desculpas, ele só começou a deixar o quarto como estava, mas a porta sempre fechada.

Alice teve sua negação, ela ignorou a morte deles, de todos eles. Ela passava horas na rua tentando voltar a andar de skate de maneira normal, o pé dela estava normal, ele só doía no frio e se ela ficasse muito tempo em pé ou caminhasse muito, as vezes ele inchava, as vezes ela mancava com ele dolorido após fazer esforço, mas no geral ficou tudo bem, e na maioria das vezes, ela levava Finn com ela pra praça. Ela até tentou ensinar ele a andar de skate, mas ele era muito desengonçado pra isso. O que arrancou risadas deles. Finney era a única pessoa que fazia Alice realmente esquecer do resto.

Ela também teve a culpa e a depressão, por um tempo, ela achou que não merecia ter sobrevivido. Ela sempre lidou melhor com as coisas quando estava com raiva, naquele mês ela pegou 5 detenções e 3 suspensões por brigar com estudantes. A desculpa era sempre a mesma, eles me irritaram, alguns realmente fizeram. Mas ela também meio que queria, inconscientemente, provar que ainda era a mesma, que não era uma coitada, que ela podia brigar e não ia mais se deixar cair.

Mas é óbvio que ela caiu, teve a semana que ela não foi pra escola e ficou trancada em seu quarto e mal queria comer. Depressão pura. Foi a semana que Finney foi até a casa dela. O pai dela não sabia o que fazer, ele nunca sabia. O garoto só tentou ficar do lado dela, e ela deixou. Ele era a única pessoa que fazia ela esquecer tudo isso, que fazia ela querer melhorar.

ATLANTIS ; the black phoneOnde histórias criam vida. Descubra agora