Reencontro

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Pov Rosamaria/Pov Plano Espiritual

Esperar... Esse era o meu destino nos últimos 3 dias. Esperar que o corpo de Carol se recuperasse o suficiente para ela ser declarada sem risco de morte. Esperar que retirassem aquele tubo horroroso de sua boca. Esperar que ela acordasse. Esperar que ela saia daquela UTI e fosse para um quarto e assim poder ficar o tempo que quisesse ao seu lado. Essa espera estava me transformando em algo irreconhecível.

Deitada no quarto do hotel minha cabeça estava em um "looping" obsessivo em só pensar em esperar. Não sentia dor, fome, sono ou vontade de interagir com ninguém. Respondia as intermináveis chamadas e mensagens em um automatismo, sabendo que não podia negligencias os amigos e familiares, sejam meus ou de Carol, só esperando dar a hora para mais uma visita ao hospital e ver que as coisas ainda permaneciam onde estavam, em compasso de espera.

Na tarde do terceiro dia Marcela me despertou dos pensamentos sombrios que pairavam na minha mente, para irmos em mais uma visita ao hospital e começou a fazer comentários para me animar um pouco "ia ser incrível se hoje a gente tivesse uma notícia boa. O médico disse que as primeiras 48 horas seriam fundamentais e ela já passou disso reagindo bem". Sabia que ela estava sofrendo tanto ou mais do que eu e aquilo me incomodou um pouco. Será que não deveria ser o contrário? Eu deveria estar consolando a irmã de Carol e não o contrário.

Mas infelizmente nossa mente cria labirintos que são difíceis de vencer "o que mais tá me matando é essa espera Má, três dias e nada muda". Marcela concordou com a cabeça, mas atalhou "você tem razão, nenhuma mudança, nem positiva e nem negativa, acho que os polos estão neutros então, certo? Enquanto estiver assim eu prefiro pensar pelo lado positivo, porque a alternativa seria o fim"

Aquelas palavras me atingiram como um tapa na cara. Parei tão repentinamente de andar que Marcela, que estava vindo atrás de mim no corredor do hotel, se chocou comigo, reclamando da minha atitude e passando a mão na barriga, dolorida pelo encontrão. Me voltei para ela e encarrei seus olhos. Ficamos meio que competindo para ver quem desviada primeiro. Marcela tinha os olhos da irmã e neles eu ví dor, sofrimento e cansaço, mas ví também muita esperança, certeza que o polo positivo da vida estava sendo alimentado pela sua esperança e aquilo me despertou como se alguém tivesse tirado um véu de meus olhos, que neste momento já estavam marejados. Sem querer perder mais um minuto para também carregar o polo positivo dessa corrente puxei a irmã de Carol para um abraço apertado e juntas choramos. Chorei principalmente por perceber que todos estavam sofrendo e que cada um tem um papel fundamental nessa engrenagem, nem que seja só por um pensamento positivo em meio ao caos.

Quando chegamos na UTI fomos recebidos pelo Dr. Lineu e por algo que nunca havia visto. Ele estava sorrindo, não a ponto de mostrar os dentes, mas definitivamente estava satisfeito com alguma coisa. Ao olhar para Carol, meu coração parou uma batida, ao ver que ela não tinha mais a boca preenchida pelos aparelhos que respiravam por ela. Os tubos e o respirador mecânicos não se encontravam mais com ela na UTI. Eu sabia que aquilo era importante e corri para abraçar e beijar o que podia de seu rosto "oi meu amor, tú tá vencendo essa guerra e quero que continue assim, estamos quase nos vendo de novo". Enquanto conversava com Carol o médico esclarecia "vencemos uma etapa importante e tela teve uma melhora significativa na última noite a ponto de retirarmos a intubação e suspendermos os sedativos, estamos esperando ela acordar nas próximas horas".

Se naquela manhã meu sentimento era de letargia, agora uma felicidade absurda se apossou de meu coração. Pela primeira vez naquele absurdo eu estava realmente com esperanças que Carol voltaria para mim e novamente me ví abraçada com Marcela e D. Cida, que havia se juntado a nós no revezamento da UTI. Mas as notícias boas não pararam por aí. A Dra. Carla permitiu, pela primeira vez que nós cinco, os pais de Carol, suas irmãs e eu ficássemos juntos ao lado de Gattaz na UTI, para saber que além de respirar por conta própria os exames mostravam que a área afetada no cérebro era menor do que eles previram anteriormente.

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