Troca

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A pequena autonomia conquistada por Carol era motivo de imensa alegria. Ainda não conseguia ficar muito tempo em pé e nem caminhar como gostaria, mas definitivamente conseguia dar pequenos passos para se sentar na cadeira de rodas, na cadeira de banho e entrar e sair do carro sem ser carregada. Pensando nessa vitória fez os exames pedidos pela médica, ansiosa pelo retorno agendado para a semana seguinte.

Nos últimos dias a presença de Bruna e Laura era frequente como nunca fora antes. Mal acordava e já via Bruna velando pelo seu sono. Era comum Carol chegar ao clube e já encontrar Laura nas dependências da instituição. Mas naquele dia, faltando menos de 5 dias para o prazo de Rosa terminar, a curiosidade de Carol falou mais alto. O que fez ela questionar Laura "faz dias que vocês estão super presentes, o que tá acontecendo?". Mesmo distraída, mexendo em seu inseparável tablet Laura não se privou em responder "estamos cuidando dos seus interesses pirilampa" e vendo a diretora do time feminino do Minas chegar acompanhada de Bruna abriu um sorriso para sua sobrinha, que vinha meio trotando, meio saltitando em direção das duas "nosso plano está dando certo tia, só sucesso" afirmou a pequena fazendo um gesto de positivo com os polegares e sentando no colo de Carol e beijando sua bochecha, no comportamento já conhecido. Carol revirou os olhos e questionou mentalmente "vocês estão bem grudentas ultimamente uai, não me deixam sozinha". O questionamento fez Bruna se levantar e responder exatamente como a tia fez, parecendo até que combinaram "estamos cuidando dos seus interesses florzinha".

Ignorando a presença das mentoras espirituais Keyla chegou perto de Carol e a cumprimentou, se curvando para lhe beijar a face "como anda minha capitã?" Carol gostava muito de Keyla Monadjemi. Admirava sua forma de administrar o time feminino do Minas, seu tino para os negócios e a facilidade de conseguir patrocinadores. Nessas nove temporadas no clube já tinha passado por poucas e boas em termos de contusões e sempre teve o respaldo da diretoria para se recuperar. Inclusive o Minas tinha implantado um sistema multidisciplinar, incluindo médicos, psicólogos e fisioterapeutas que interagiam com a comissão técnica e garantia o bem-estar das atletas. "Uma vitória por vez Keyla. Agora que consegui ficar de pé estamos tentando resolver o problema do contrato da Rosa". A administradora fez sinal de positivo com a cabeça "Rosa é campeã mundial, joga na Europa e ganha em euros. Infelizmente eu pouco posso fazer para ajudar. Ela está em uma prateleira que meus pés não alcançam, entende?" perguntou para Carol, como justificativa para não se interpor no problema. Carol sabia disso e jamais exigiria do Minas algo dessa magnitude. Quando iria responder para Keyla, o celular da dirigente tocou e ela pediu licença, sendo acompanhada por Laura. Quando a tia se afastou Bruna falou "fui" e sumiu deixando Carol desconfiada.

Carol aguardava junto com sheilla o treino começar e sheilla atualizava a capitã das estatísticas do Minas nas últimas rodadas, já que Carol preferia não acompanhar os jogos no ginásio, para não chamar atenção desnecessária e para preservar um pouco do orgulho próprio. A única vez que esteve presente em um jogo, recebeu uma atenção exagerada dos fãs e da mídia. E os olhares de piedade que recebeu a deixou triste, o que fez a central se abster em comparecer nos outros jogos. Então a auxiliar técnica comentava as estatísticas para Carol se sentir mais parte do time "os números estão excelentes. Thaisa, Kisy e Júlia estão com números acima da média. Pri está liderando as estatísticas na recepção e Nyeme nas defesas. O único ponto que precisamos melhorar é o saque, que caiu na última partida, mas hoje vou esfolar elas no treinamento, cê vai ver" arrancando uma risada da central "cê tá certa, não pode relaxar um minuto, mas se os números estão tão bons porque cê tá tão preocupada?". Sheilla olhou Carol por um tempo mais longo do que o normal e reclamou "como você pode me conhece tão bem assim? Estou preocupada porque a temporada nem começou direito e já estamos sendo assediadas por clubes europeus sondando as atletas. Você já deve se preparar pra Júlia ir pra Europa próxima temporada, porque não vamos conseguir segurar ela aqui. Não com a montanha de dinheiro que estão oferecendo por ela. Na verdade, o assédio está grande com a Kisy também". Claro que Gattaz desconfiava que aquilo poderia acontecer. Elas eram campeãs mundiais, jovens e talentosas e seria impossível segurar o elenco completo para a próxima temporada. Com o coração apertado por pensar em Júlia longe, sozinha na Europa, Carol viu o time entrar em quadra para treinar. Era sua deixa, já que a fisioterapia costumava ficar vazia nesse horário e ela aproveitava a equipe de fisioterapeutas e massagistas para fazer seu tratamento.

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