Namoradas

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Rosa acordou com a claridade do sol incomodando seus olhos e se lembrou onde estava. Pela primeira vez em dias tinha dormido em uma cama confortável. No dia anterior, depois de Carol muito insistir para ela ir descansar, argumentando que passaria a noite dormindo por conta dos remédios e da presença da mãe para auxiliar caso precisasse de ajuda. Ela se convenceu que precisava de um bom banho e de uma cama e rumou para o hotel reservado por Marcela. No cansaço em que se encontrava esqueceu de fechar a cortina da janela, foco do clarão que a acordou. Quando pegou o celular, que havia ficado na cabeceira da cama carregando viu que tinha uma mensagem de voz da mãe de Caroline.

De um salto se levantou da cama, desesperada para ouvir a mensagem e se recriminou quando viu que já era 10:00 da manhã e que havia perdido a hora. Mas foi com alívio que escutou a mãe de Gattaz relatar que a Dra. Carla havia passado em revista pelo quarto e informado que Carol estava evoluído satisfatoriamente e, se continuasse assim, receberia alta em poucos dias, porque o tratamento seria continuado em casa, com medicamentos e fisioterapia.

Aquilo era uma notícia muito boa. A melhor que poderia vir depois daqueles dias tenebrosos, porque há exatamente uma semana atrás Rosamaria tinha quase certeza que Carol não resistiria aos ferimentos do acidente. Com as esperanças renovadas tomou um banho relaxante e rumou para o hospital, parando em uma padaria próxima para tomar um café/almoço reforçado, já que estava enjoada da comida da lanchonete do hospital. Percebeu que além de Carol ela mesma havia perdido um pouco de peso, com certeza massa muscular, porque atletas de alto rendimento são assim, ganham e perdem massa muscular muito rápido.

Quando entrou no quarto encontrou Carol de banho tomado, usando um pijama de seda azul com pequenas margaridas amarelas e a cena aqueceu seu coração. Marcela esclareceu que um auxiliar havia ajudado, mas a mãe havia se responsabilizado em dar o banho e trocar a filha. Mas o que chamou a atenção de rosa foi o humor de Carol, que estava péssimo. Marcela não perdeu a oportunidade de alfinetar a irmã "ela quer tomar coca-cola Rosa, vê se pode? Jumenta mesmo viu" e rosa viu a jogadora mais velha bufar contrariada "eu não guento mais essa comida sem sal, sem sabor e quando eu peço uma coquinha, uma mísera coquinha, a Dra. Carla quase surtou". Rosa não se conteve e teve que gargalhar alto, levando a cabeça pra trás em diversão, fazendo Carol aumentar ainda mais o bico. "Tu não devia tá de bico Carol. Tu sabe que não pode comer nada que contenha muito sódio ou cafeína, o que a mísera coquinha tá cheia" disse a mais jovem, retirando o elástico que prendia o cabelo da mais velha em um rabo de cavalo e começou a fazer um cafuné, fazendo Carol fechar os olhos de contentamento.

Carol sabia que não podia comer chocolate, produtos com cafeína ou sal em excesso por causa da concussão. Até alí ela tinha se mantido resignada com a situação. Deixava os auxiliares a manipularem quando tinha que trocar a frauda, deixava ser erguida para se locomover para a cadeira de banho, deixava fazer todos os exames e aplicações quase que intermináveis de medicação. Mas a comida estava chegando em um ponto crítico, em que ela não conseguia nem mais sentir o cheiro sem ter ânsia de vômito "eu tô com fome, mas se me trouxerem aquela gororoba de novo vou vomitar em cima de vocês" fez drama enquanto rosa passava a fazer uma trança em seus cabelos, remodelando o rabo de cavalo feito pela mãe da central após o banho.

Rosa e Marcela se entreolharam sabendo que de fato a comida de hospital era ruim e, no caso de Carol pior ainda, porque sua dieta era cheia de restrições. Apiedada pela condição da irmã, Marcela saiu para tentar conversar com a Dra. Carla sobre alternativas de alimentação, deixando Rosa e Carol sozinhas, já que a mãe da central havia retornado ao hotel para descansar.

Era raro esses momentos de privacidade, já que elas estavam sempre acompanhadas. Sempre alguém estava com elas. Podia ser a mãe de Carol ou Marcela, um enfermeiro, médico, nutricionista, fisioterapeuta ou um dos vários auxiliares entrando no quarto para medir sinais vitais, fazer atividades, checar dados ou aplicar a medicação. Então Carol aproveitou para tocar no assunto que estava povoando sua mente "durante o banho aquela enfermeira falou que você era minha namorada. Perguntei pra Má e ela falou que eu tinha que perguntar para você?" Carol foi direta, então Rosa soltou um suspiro longo e se sentou na poltrona que ficava em frente ao leito "eu fiz uma coisa no dia que você sofreu o acidente, que gerou uma série de consequências", falou a ponteira de cabeça baixa.

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