Falling

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Passou o restante da noite fitando o teto, fingindo dormir.

Pensando na mulher do outro lado do corredor e em como chegara perto de tê-la em sua cama. Droga.

Ou fizera a melhor decisão de sua vida esta noite ou a pior. Finalmente, às 6h, desistiu e foi para o escritório.

Ligou o computador, trabalhou um pouco no livro, seguindo a rotina matutina tradicional de escrever uma cena antes de checar os e-mails. Aprendera, há muito tempo, que a internet era um bom jeito de perder tempo, então a melhor coisa a fazer era trabalhar um pouco e depois premiar-se vendo as mensagens.

— Bom dia.

Virou-se na cadeira, encontrando uma Lena amarrotada e sensual como nunca.

— Bom dia.

Sorriu.

— Uau.
— O-quê?
— Você está... Linda.
— E você é cego. Eu sou horrível de manhã.
— Se isso é horrível, então preciso checar meu dicionário, porque estive usando essa palavra de maneira errada.

Hesitou. Uma mulher não dormia em sua casa desde...  Sempre. Estranho, nem começaria a descrever a sensação, mas, junto com ela, vinha um sentimento caseiro, de completude.

Os alarmes soaram em sua cabeça.

Estava se aproximando de uma zona perigosa, que prometera não adentrar. Lena entrou no escritório.

— O que você está fazendo?
— Trabalhando. Tentando, pelo menos. Mais perdendo tempo até checar meus e-mails.

Ela riu.

— Faço a mesma coisa. Só que comigo, é café. Ficaria tomando a cafeteira inteira e não trabalharia nada se não me apressasse.
— Se quer café, há uma cafeteira logo ali.

Sorriu.

— Tenho o mesmo problema. Então trouxe a cafeteira até mim. Sem mais desculpas para ficar na cozinha e não trabalhar.

Ela riu e serviu-se com uma caneca.

Enquanto isso se virou para o computador.

Agora ele estava empacado. Era a parte na qual a detetive deveria reagir à cena terrível do crime. Uma família assassinada, que ela não conhecia, mas despertava lembranças do passado.

E, até agora, a escrita da manhã tinha sido... Terrível. Tão emotiva quanto uma planta. Digitou algumas palavras.

Odiou. Apagou-as.

Digitou outras, odiou mais ainda, apagou novamente. Desviou o olhar para Lena.

— Pode me ajudar por um segundo?

Ela parou de colocar açúcar no café e fitou-o, o cabelo desgrenhado quase implorando que alguém passasse os dedos por ele.

— Claro. Do que precisa?

Você. Eu. Sozinhos por um longo fim de semana. Pigarreou.

— Se você visse dois corpos mortos num quarto, com as gargantas cortadas, as entranhas nas paredes, e já tivesse visto o trabalho desse assassino antes, quando era...

Ela empalideceu.

— Hum... Do que estamos falando?
— Desculpe. Do livro.
— Ah. Por um segundo, fiquei preocupada. É um pouco cedo para entranhas nas paredes.

Ele riu.

— Esqueci que nem todo mundo vive em meu mundo.

Foi até ele, com a garrafa na mão, e encheu a caneca de Karl sem que ele pedisse. Recostou-se, impressionado com aquele pequeno gesto, e como o fazia sentir bem cuidado.

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