Capital Letters

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— Depende do que ele disser para ela.

Ela estava perguntando se estava interessado. Sabia. Pelo jeito que o observava, e não ao livro. Perguntando se desistira de beijá-la porque não gostava dela ou porque gostava o estava tentando ser um cara legal.

— Porque, até agora, ele não contou há ela muito sobre nada, não é?
— Não. Talvez ele só não saiba o que dizer.

Prendeu o olhar dela.

— Ou talvez não quisesse mudar as regras do jogo.
— Alguma coisa certamente mudou Lena.

Respondeu ela, gesticulando na direção das páginas.

— Porque, cinco minutos atrás, sua heroína era loira de olhos azuis. Agora é morena de olhos verdes. Parece alguém que você conhece?

O que esteve pensando?

Como aquilo acontecera?

— Eu...

A voz de Karl falhou. Não tinha resposta. Lena se levantou e caminhou em direção à porta.

— Talvez precisemos tirar a mente do mundo ficcional. Porque o que acontece aí não é verdadeiro. Sou uma mãe solteira, Karl, e se há algo que tenho em abundância, é realidade. E isso significa que não tenho tempo para virar as próximas cem páginas para descobrir como alguém se sente.

Então foi embora, deixando Karl com os personagens imaginários de seu livro ficcional, que estavam em tanto conflito quanto ele.

Hora do almoço.

Karl não ansiava por uma refeição assim desde... Sempre. Teria se esquecido do almoço se Lena não tivesse feito chili, cozinhando, sem querer, a refeição favorita dele.

Sentira o aroma apimentado do escritório e não conseguira resistir à tentação do prato de carne e a seu estômago roncando. Ela estava sentada à mesa, e o bebê, num braço, com a mamadeira encaixada na boca.

Uma tigela de chili estava na sua frente, soltando fumaça. Outra estava no lugar dele, acompanhada de dois pedaços de pão de milho. Pão de milho também? Ah, estava perdido.

— Você me trata bem demais.

Ela sorriu, e o sol pareceu nascer naquele rosto.

Se havia algo em Lena que Karl gostava era que ela perdoava facilmente.

A tensão da noite passada estava esquecida, e Lena já tinha voltado à sua felicidade usual.

— Na verdade, deveria agradecer. Com esse tempo longe do trabalho, finalmente tenho a oportunidade de me envolver com uma das minhas paixões.

A palavra trouxe à memória quão perto esteve de beijá-la.

E o desejo de terminar o que começara.

— Ah, é? Que paixão?

Perguntou ele, esperando que ela mencionasse a coisa na qual estava pensando.

— Cozinhar. Adoro cozinhar. Nunca tenho tempo, porque, quando chego em casa, tenho que alimentar Hope, dar banho nela, prepará-la para dormir, e então já estou exausta. Ainda mais, para que cozinhar se...

Aquela voz falhou.

— Se...?
— Se vou cozinhar só para mim mesma?
— Bom, sempre que você desejar envolver-se com...

Queria dizer “qualquer uma das suas paixões”, mas impediu-se.

—... A cozinha sabe onde moro e sabe que provavelmente comi porcaria o dia todo. Meu estômago é seu, minha dama.

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