•𝐓𝐇𝐄𝐎 𝐋𝐄𝐁𝐋𝐀𝐍𝐂•
Estaciono minha moto em frente ao Fire. O motor silencia, mas dentro de mim, tudo continua barulhento. Tranco a roda e olho para o letreiro brilhando em vermelho. O nome é tão pretensioso quanto o ambiente: um buraco cheio de gente vazia. Respiro fundo, ajusto o casaco e entro no bar.
O cheiro me atinge como um soco no estômago: álcool barato, cigarro velho e o suor de quem perdeu o rumo da vida. Não sei por que continuo vindo aqui. Talvez porque seja o único lugar onde posso me sentir um pouco pior do que já me sinto, um reflexo distorcido de mim mesmo.
— Um copo de Royal Salute, sem gelo — digo para Donna, sem sequer olhá-la.
— Boa noite para o senhor também, Theodor Lenblanc — responde ela, arrastando as palavras.
Levanto os olhos e a encaro. Só pelo meu olhar, ela sabe que pisou no calo errado.
— Não me chama assim — resmungo.
Donna sabe que odeio ouvir meu nome completo. Para ela, isso é apenas um jogo.
Ela sorri, mordendo os lábios num gesto carregado de provocação. Donna e eu tivemos uma história, se é que posso chamar assim. Foi uma noite, uma distração, e desde então ela não me deixa em paz. Para ela, sou algum tipo de desafio. Para mim, ela é apenas alguém que insiste em ultrapassar limites.
— Ah, Theo, não precisa me olhar assim. Eu sinto sua falta, sabia? — Ela se inclina sobre o balcão, deixando à mostra mais do que deveria.
Reviro os olhos, cansado.
— Já disse que não quero nada com você. Só me dá a droga da bebida.
Donna solta um riso debochado.
— E eu também não quero nada sério. Estamos alinhados, não acha? Somos perfeitos um para o outro.
— Perfeitos? — lanço um olhar frio. — Então procure outro para ocupar seu tempo. Quem sabe um otário cheio da grana para aplacar essa sua carência.
Ela revira os olhos, percebendo que hoje não vai conseguir nada de mim. Deixa o copo na minha frente e murmura algo antes de se afastar para atender outro cliente.
Dou o primeiro gole, sentindo o uísque descer queimando, uma sensação que, de algum jeito, me mantém vivo. Olho ao redor, observando as figuras de sempre: homens bebendo como se estivessem afogando suas almas, mulheres tentando esquecer a vida com gargalhadas forçadas e aqueles que vêm aqui apenas para provar que são piores do que já aparentam ser.
Minha distração é interrompida quando vejo Chase Fire se aproximando.
— Olha só quem decidiu aparecer! A que devo a honra, senhor Lenblanc? — diz ele com um sorriso exagerado.
Chase é um dos donos do bar. Conheço-o desde o ensino médio, mas nunca fomos amigos. Ele sempre teve uma obsessão em me observar, como se quisesse entender algo sobre mim que nem eu mesmo entendo.
— Apenas marcando presença — respondo, seco, sem dar muita abertura.
Chase ri, mas antes que possa continuar a conversa, o sino da porta toca. Um homem alto entra, vestindo uma touca preta e um moletom cinza, e cumprimenta Chase com um sorriso estranho.
Algo no jeito dele me incomoda. Observo enquanto ele se senta ao lado de outro homem já no balcão. Chase serve os dois e se afasta. Finjo estar entretido com meu copo, mas movo um pouco para mais perto, ouvindo a conversa.
— Então, ainda está de pé a oferta? — pergunta o homem que já estava no bar, sua voz trêmula.
— Está sim. Já falou com ela? — responde o da touca preta.
— Não... eu... não consegui ainda. — A voz do homem falha, como se ele estivesse engolindo as palavras.
— Preciso dela amanhã. Não quero esperar mais.
Minha coluna se enrijece. O que está acontecendo?
— Olha, eu amo minha filha, tá? Só... só não machuquem ela...
Meu sangue gela. Eu ouvi isso certo? Ele está negociando a própria filha?
— Ela vai estar no melhor lugar possível — insiste o da touca. — Ao meu lado.
O homem abaixa a cabeça, derrotado.
— Eu só... não sei se consigo. Isso não é certo.
O da touca, impaciente, aperta o braço dele.
— Para com isso. Estou te oferecendo uma grana muito boa. Acha que ela não merece uma vida melhor?
Os dois ficam em silêncio por um momento, até que o homem suspira.
— Tudo bem... pode buscá-la. Onde está o dinheiro?
O da touca tira um maço de notas e o empurra pela mesa. Eles apertam as mãos.
Eu fecho o punho. Meu coração bate pesado no peito. Ele vendeu a própria filha.
Dou outro gole no uísque, tentando não sair dali agora mesmo e fazer uma cena. Respiro fundo. Edgar, agora eu sei seu nome. Hoje, Edgar, você vai pagar pelo que acabou de fazer.
Enquanto o homem afunda na bebida e começa a perder o controle, gritando com Donna e jogando garrafas, minha raiva só aumenta. Donna tenta lidar com ele, mas Chase, como sempre, não move um dedo. Para ele, funcionários são descartáveis, mas clientes sempre têm razão.
Chega um momento em que Edgar começa a encurralar Donna, falando absurdos e a tocando de forma invasiva.
Não vou permitir mais isso.
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𝐖𝐡𝐞𝐧 𝐰𝐞 𝐦𝐞𝐞𝐭
RomantizmEle carrega um segredo sombrio, um crime que mudou para sempre o destino de duas vidas. Por um capricho cruel do destino, ele se apaixonou pela única pessoa que jamais poderia perdoá-lo: a filha de sua vítima. Agora, preso entre o amor e a culpa, v...