Perfeito Oposto

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Aviso rápido: deixei uma sinalização para o início da música no capítulo :)

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O amor é fácil, amar é difícil. Amar alguém significa ter certeza sem provas, reciprocidade sem cobrança e zelo infinito. Amar alguém é, muitas vezes, se deixar vulnerável a quem pode te destruir, sem nutrir qualquer arrependimento disso. Não é fácil amar, mas o amor é fácil o suficiente para você ser capaz de amar alguém uma vida inteira.

Sana tinha noção de que tinha se tornado o centro das atenções - de novo. Sentia perfeitamente os pares de olhos acompanhando os movimentos nervosos e as expressões cheias de tensão que contrariavam seu bom humor diário, o modo como o cenário inteiro se converteu num palco de diversão para uns, aflição para outros e tragédia para todos.

Ela bateu o pé contra a mesa ao aliviar o estresse em mais um dobrar de pernas incômodo - quanta infelicidade! - e segurou a respiração ciente de que aquele pequeníssimo acidente renderia outra crítica. E ela estava certa.

- As mesas não foram feitas para serem chutadas, senhorita Minatozaki.

Sana fechou os olhos à procura do Nirvana tão difundido em seu país natal e que ela com certeza não alcançaria naquele atual estado de espírito. Honestamente? Estava bem na porta do inferno e sem medo algum de chutá-la com toda a força que podia.

Não valia a pena. Não valia a pena. Não valia a pena.

Voltou a abrir os olhos, um último fio de paciência se esvaindo pelas beiras, e fitou a mulher sentada à mesa completamente imersa na pilha de folhas que se espalhava sobre a madeira cara. Tzuyu podia ser uma diretora foda, muito, muito mesmo; podia ser competente e responsável pela gorda margem de lucro da empresa; podia, até, ser a razão pela qual a desenvolvedora de jogos estava ganhando a atenção de outros mercados fora a Ásia, mas isso não anulava o fato de ser uma completa idiota. Isso mesmo: Chou Tzuyu era uma idiota e nenhum feito incrível seria capaz de reduzir o seu julgamento.

- Devo pedir desculpas à sua mesa, senhorita Chou?

Não valia a pena, mas quem suporta aquela mulher daquele jeito? (In)felizmente, a acidez em sua voz fez com que Tzuyu esquecesse os malditos papéis por enquanto e dirigisse a ela o rancorzinho imaturo ao qual estavam mais que acostumadas. Foda-se, sabe? Sana também nutria ressentimento. 

E ao contrário do que se imagina, a pergunta não pesou o ambiente. Ele já estava pesado desde o momento em que as duas entraram nele e se sentaram frente à frente para discutir o projeto em curso. Reunião fora dos planos, então Sana estava contente com o dinheiro extra, mas não entendia qual a sua necessidade ali. O que teria para traduzir se era apenas a equipe da empresa encarregada do projeto discutindo outras abordagens que agradassem mais à chefe? Bem, ela não fazia ideia e estaria pouco se importando se a outra mulher a deixasse fazer o seu trabalho (ou o que quer que estivesse fazendo) em paz.

- Quer dizer algo com isso, Minatozaki? - Tzuyu pergunta, e a caneta que antes se mexia entre seus dedos para como se só esperando ser atirada de lado assim que a taiwanesa explodir.

- Apenas me perguntando se acidentes são tolerados nessa empresa. - responde com um sorriso mal feito pela falsa simpatia, o jeito mais civilizado que encontrou para aturar sua chefe e antigo amor, mantendo a cabeça tão erguida quanto a dela.

Os cochichos em volta não passaram despercebidos por nenhuma das duas, considerando toda a falta de discrição que tinham em fazê-los. A equipe parecia animada em ter algum outro assunto que não fosse o tédio imensurável da papelada após a discussão agitada sobre estratégias com cálculos horrendos que Dahyun, quem geralmente fazia a ponte entre o marketing e o financeiro da empresa, amava. Sana também estaria entediada se fosse eles, mas ela era ela e, gostando ou não, a responsável pelo coração partido daquela mulher.

OrfeuOnde histórias criam vida. Descubra agora