Levou mais tempo que o necessário para se arrumar e descer até a recepção, aproveitando para verificar a caixa de entrada no caminho. Tzuyu não era muito conectada ao mundo virtual, mas considerando que seu orientador era um ser humano extraordinário que tinha o péssimo costume de entrar em contato no meio da madrugada para responder emails, precisou priorizar demais o celular.
Que aquele homem ainda esteja aproveitando as férias.
Havia um grande arco que separava o salão principal da recepção dos corredores amplos, e foi nele onde se recostou para procurar os colegas de viagem. Encontrou seu grupo, ou melhor, o grupo de Cheng sentado na lateral do salão prestando atenção em alguma outra história maluca de Jackson. Como ela sabia disso? Resumidamente, a noite anterior foi preenchida por aprendizados enriquecedores como saber que sim, era possível ingerir um litro de álcool em quinze segundos e não, você não deve considerar o telhado como primeira opção para fugir de um sogro enciumado.
Depois que se resolvera com Sana, não demorou muito para que a japonesa fosse sugada pelo grupo assim que elas voltaram para dentro do salão. Tzuyu até pensou em subir, se enrolar nos cobertores e obter algum descanso, mas o pensamento se dissipou tão rápido quanto surgiu no momento em que foi puxada às pressas pela mais velha até a roda de amigos. Quem sabe esse espírito de criança fosse consequência de dar aulas para o jardim de infância, ou talvez fosse algo próprio da natureza dela. O que sabia, de fato, era que o ar brincalhão, curioso e com um toque de ingenuidade cercava a mulher com um brilho único.
E belo, muito belo.
Se precisasse classificar, essa era a qualidade de Sana que mais gostava. Apesar da maturidade nos assuntos e da postura digna de um nascimento elevado, Sana não conseguia conter o jeito doce e sapeca de menina. Jeito esse que aquecia o peito de Tzuyu e soprava qualquer bloqueio como se eles não passassem de um castelo de cartas.
Ainda estava parada no portal quando foi abordada por Nayeon, que tinha uma prancheta em mãos e Jeongyeon atrás de si. Era impossível deixar de notar o quanto as duas eram próximas pelo modo com que andavam sempre juntas e compartilhavam as manias.
- Bom dia, Miss Taiwan! Vai ficar com Sana ou Jackson?
O duplo sentido fez Tzuyu recuar dois passos, sentindo-se embaraçada pela pergunta.
- Nayeon, para de constranger as pessoas. - impaciente, Jeongyeon repreende, fazendo com que a Im revire os olhos e dê um tapinha na parceira.
- É só uma brincadeira, ya!
Era mesmo claro a proximidade entre elas porque depois da repreensão, Nayeon recuperou o bom humor enquanto massageava o braço atingido de Jeongyeon, como se as discussões fossem uma parte boba e comum do dia a dia delas. Tzuyu, no entanto, continuava sem entender o que lhe fora sugerido e isso a incomodava. Nunca gostou de ficar às cegas.
- Foi necessário dividir os intercambistas mais uma vez. Eu sei que você não gosta muito de ficar com o resto do pessoal, então como o passeio exige subunidades, consegui guardar um lugar para você nas panelinhas. Quem você prefere?
- Sana. - responde sem pensar.
- Tem certeza? Seu amigo ficou com Jackson.
- Quero ficar com a Sana.
A onda repentina de nervosismo levou suas mãos direto para o lugar de segurança, mais conhecido como bolso do casaco. Tinha respondido com duplo sentido? Não, sua cabeça estava maliciando porque Nayeon fizera isso primeiro. Nem uma brincadeira era, apesar de que já tinha construído intimidade o bastante com Sana para essas coisas e, a julgar pela personalidade da japonesa, era capaz que tivesse gostado de tal bobagem.
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Orfeu
Fiksi PenggemarSe Tzuyu pudesse definir sua vida em poucas palavras, ela a chamaria de previsível, fácil e segura. Gostava disso, era confortável. Então, quando aceitou de última hora o convite do melhor amigo para um intercâmbio na Coréia do Sul, achou que tivess...