- Eu não posso acreditar que está deixando nosso encontro de lado para ir se encontrar com aquela mulherzinha.
O resmungo foi um uso vago do tempo para Tzuyu que respirou fundo, massageando as têmporas enquanto procurava as chaves do carro na bolsa mais uma vez, tentando se lembrar de onde a tinha abandonado.
- Você pode comparecer à reunião com os acionistas sem mim. É uma partida noturna de golfe, Minho, e eu odeio golfe. Além disso, eu só vou parabenizá-la na festa de aniversário, não se trata de um maldito encontro. - rebate com as mãos nos quadris, igualmente resmungando - Viu as minhas chaves?
- Somos praticamente casados, Tzuyu! O que eles vão pensar ao ver o diretor da empresa sem a esposa?
Para evitar um bufar brusco de impaciência, ela fechou os olhos e deu as costas. Era possível que ainda estivessem presos nessa discussão boba depois de toda a explicação que tinha dado?
Independente do passado, Tzuyu queria comparecer ao aniversário de uma pessoa por quem tinha consideração. Se ele podia se reunir com ex-namoradas em eventos cheios de futilidade, ela poderia aparecer de última hora numa confraternização significativa. Porra, Sana tinha ganhado o caso! Como ela ignoraria isso?!
Depois de passar uma semana inteira acompanhando o julgamento por um canal japonês de televisão, entendendo muito pouco do que se era dito e tendo acesso a menos material que gostaria, o juiz decretara a sentença naquele caso infeliz e libertara Sana de um peso que ela provavelmente carregava há anos; aquilo sim era motivo de comemoração.
- Eles já viram demais a diretora sem o noivo, acho que consegue dar conta de lançar algumas bolas com seus amigos pelo campo. - responde, meio distraída com a ausência da chave no lugar de sempre.
- Está se escutando? Você nunca soou tão ridícula quanto agora.
Tzuyu o encarou duramente. Tudo parecia um inferno dentro de casa, perdeu as contas de quantas noites passou na empresa para não escutar aqueles comentários. Por mais que Minho estivesse inseguro, ele ainda devia reconhecer os limites das cobranças. Aquilo era abuso, porcaria, e ela estava cansada de ceder para deixá-lo confortável.
Com várias propostas rejeitadas, ela até concordou em transar com ele aquela manhã para tentar diminuir o ciúme doentio, mas Minho realmente detestava Sana e os efeitos de uns minutos de sexo não duraram muito.
O real problema era que esse ciúme se estendia muito além, ele odiava qualquer um que se aproximasse demais da mulher que já era considerada esposa. Até os encontros na casa do casal preferido de Tzuyu diminuíram de frequência uma vez que as paranóias tomaram proporções descabíveis - e nem precisava mencionar Sicheng que, aliás, devia estar a esperando no hall de entrada.
- Vou fingir que não ouvi isso. - diz, seca.
- Assim como tem fingido que o trabalho não tem sido apenas uma maneira de me evitar? Parece que sou um estorvo, Tzuyu, um terceiro na história, alguém que está ocupando espaço, e eu não aceito ser tratado assim.
- Minho, podemos conversar sobre isso outra hora? Eu realmente preciso ir.
Ele deu de ombros, um sorriso falso representando o total oposto do que suas palavras diziam, afastando-se apenas para que ela continuasse a procura.
Tzuyu gostaria de entender como eles se perderam tanto assim, tornando-se familiares desconhecidos dividindo a mesma casa. Minho sempre a tratara bem, dando-lhe flores no fim do mês e a levando para lugares incríveis, mas, depois de refletir um pouco, ela chegou à conclusão de que seu primeiro namorado também fazia as mesmas coisas e nunca chegou perto de fisgar seu coração.
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Orfeu
FanfictionSe Tzuyu pudesse definir sua vida em poucas palavras, ela a chamaria de previsível, fácil e segura. Gostava disso, era confortável. Então, quando aceitou de última hora o convite do melhor amigo para um intercâmbio na Coréia do Sul, achou que tivess...