Acalento ao desespero do coração

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YAY! Sob algumas ameaças, trouxe a atualização antes que minha integridade física, psíquica e moral fique comprometida. Brincadeiras à parte, aproveitem o capítulo!

(A foto original não quis carregar, então promovo uma alternativa como nota de repúdio a este aplicativo).

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Tique-taque, tique-taque, tique-taque. 

Ala norte, divisão B, saguão interno do hospital geral. 

Dez e vinte da manhã, trinta e duas horas depois. 

Sana tinha um café em mãos enquanto acompanhava as notícias do jornal, mais deixando os dedos queimarem com o papelão fino que ingerindo a bebida. Seu corpo cansado se retesou quando a foto de quem chamava de pai apareceu na televisão, quase como se ele pudesse voltar dos mortos para realizar seu último desejo em vida. Ela podia jurar sentir dedos fantasmagóricos sobre a pele. 

Esticou as pernas, uma careta de dor surgindo quando a tração puxou as linhas da costura em seu corte, ainda demoraria um tempo para se curar, um longo tempo. Dentre todas as cicatrizes que já tinha, quem sabe essa ficaria menos repugnante ao olhar já que toda a equipe do hospital fez um bom trabalho com seus machucados, até mesmo no rosto. Um bom descanso, algumas pomadas e logo estaria de volta aos trilhos como se nada tivesse acontecido. 

Vestida de preto dos pés à cabeça, parecia que Sana tinha acabado de voltar de um funeral e esperava o próximo, algo que ela detestou assim que percebeu, mas precisava manter as aparências para facilitar sua vida, segundo Osamu. Com seu pai morto, a atenção da mídia já atiçada pelo relatório policial cairia em cima dela e, como se isso não bastasse, Mina estava sozinha no Japão a preparar o posicionamento oficial enquanto herdeira do império Minatozaki.  

Elas só… tinham que aguentar um pouco mais. Feições tristes, palavras calculadas e um luto fingido, o teatro familiar finalmente chegaria ao fim. Sana reconhecia o sentimento de alívio em todos envolvidos naquela trama, eles enfim poderiam dizer que ela estava segura e longe de qualquer ameaça, com o caminho livre para seguir em frente, mas Sana não sentia tanta liberdade assim.

Hayato ainda parecia real mesmo que não mais presente entre eles, feito um fantasma disposto a acompanhar cada um de seus passos para sempre. Aquilo a fez tremer, o que chamou a atenção da segurança que arrumou o sobretudo negro em volta de seus ombros, certificando-se de que não era o frio. Claro que não, Momo reconhecia alguém marcado pela maldade quando via. 

— Precisa de algo?

Desde que foi liberada na emergência, essa era uma das coisas que mais escutava da agente. Não foi preciso muito para entender que havia uma culpa ali por ter falhado em sua proteção, mas, honestamente, em nenhum momento Sana pensou em associar aquela tragédia à Momo. 

De acordo com a sua equipe-de-segurança-maior-que-o-esperado, um dos homens que acompanhava Hayato tinha um bloqueador de sinal que interferiu na comunicação entre a segurança dentro do prédio e a central, estabelecida próxima a onde elas estavam. Então, no fim, tudo se resumia num demônio em forma de pai usando todos os recursos que sobraram para destruir a filha.

— Um calmante, talvez. 

— Sana, — ela abre a boca, sem poder fazer o que gostaria — eu não tenho recomendação médica para isso, sinto muito. 

Sorriu, no entanto, um gesto fraco que refletia seu estado de espírito. Olhou para a mão de Momo repousar em sua coxa, uma proximidade criada em tão pouco tempo que entregava a intensidade de tudo. Sana não era uma cliente qualquer, a mais velha realmente se afeiçoou com todo o passado da mulher, então não foi surpresa descobrir que a Hirai mantinha um olhar atencioso sobre ela desde o momento em que Osamu a apresentou como futura esposa. 

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