Tzuyu não esperava estar em plena manhã de domingo procurando por um par de anéis dentro de um trem em movimento, e pior: sendo o motivo pelo qual duas pessoas se machucaram.
Não tomava toda a culpa para si, entretanto. Quando Nayeon sentou ao seu lado com a empolgação contida, a Chou estranhou. A coreana não tinha escrúpulos para a maior parte dos assuntos e isso rendia reações bem diferentes, sobretudo quando falava besteiras fora do círculo de amizades.
Ela ajudou Tzuyu a interagir com menos dificuldade e se aproximou mesmo com a tendência antissocial da mais nova mas, em certas circunstâncias, Nayeon perdia completamente a mão. E foi por causa disso que os passageiros naquele trem presenciaram a Im desmaiar e Sicheng sangrar como um animal abatido.
Quando foi que Nayeon considerou uma boa ideia perguntar sobre ela e Sana num local tão exposto? E por que Sicheng tinha de ser tão criança para enfiar a cabeça por cima dos assentos, provavelmente para contar alguma besteira que vira no celular, mas sem perder a chance de assustar a amiga e fazer com que ela se levantasse num sobressalto, atingindo o nariz do garoto no processo?
Teria sido capaz de responder a segunda pergunta, mas não saberia o que dizer a respeito da primeira. Sua relação com a Minatozaki estava tão indefinida que poderia chamar de maleável. Sim, maleável. Se Sana quisesse voltar atrás e manter tudo na amizade, teria aceitado. Apesar de desejar mais do que estava sentindo, Tzuyu não sabia se era uma boa ideia se envolver romanticamente com uma das poucas pessoas que a faziam se sentir confortável e a impulsionavam para muito além de seus limites pessoais. Mas se Sana quisesse mergulhar fundo naquilo... queria que sua mente ficasse quieta por um instante para saber o que fazer com aquela possibilidade.
Desejava a todo custo era manter a japonesa por perto. Não podia explicar com exatidão o que mal entendia, detalhar a natureza do impulso violento que nascera em seu âmago e o quanto ele a fazia ansiar pela presença contínua de Sana, mesmo que fosse apenas uma pequena parte como quando escutava a voz dela ao telefone nas ligações de Mina ou Nayeon para pertubar a japonesa.
Desde que se conheceram, o olhar brilhante e vivo de Sana não saíra de sua cabeça. Ele sempre encontrava alguma forma de se tornar lembrado no seu dia a dia, um detalhe que se tornara permanente. Fora tudo tão cheio de sutileza, silencioso até, mal percebera o significado daquilo.
Era uma das falhas que mais a desagradava. As coisas aconteciam por baixo do seu nariz e sua mente ignorava por algum tempo até resolver ligar um sinal ao outro e ela... clicar.
De qualquer forma, não era o momento ideal para divagações.
Para sua sorte, Jeongyeon já tinha Nayeon nos braços e estava tomando os cuidados necessários para a recuperação da parceira. Mina, conforme a taiwanesa orientara, havia passado para a parte final do vagão a fim de conseguir cubos de gelo e pano limpo que Sicheng precisava no serviço simples de mesa. Decidiu colocar Sana para vigiar o garoto, aliás, antes que qualquer outro acidente ocorresse.
A movimentação foi organizada o bastante para que ninguém reclamasse de sono interrompido ou estresse adicional de viagem, mas lidar com incovenientes definitivamente não era uma função que a taiwanesa gostaria de assumir no futuro. Lembrou então da caixinha de veludo vermelho que Nayeon lhe mostrara, caixinha essa que Tzuyu (sem querer) chutou ao impedir que a Im caísse no chão.
Com resquícios de irritação, deu uma última olhada no melhor amigo e apontou com o indicador da mesma maneira que sua mãe costumava fazer para repreender os dois pelas travessuras de infância.
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Orfeu
FanfictionSe Tzuyu pudesse definir sua vida em poucas palavras, ela a chamaria de previsível, fácil e segura. Gostava disso, era confortável. Então, quando aceitou de última hora o convite do melhor amigo para um intercâmbio na Coréia do Sul, achou que tivess...