08. CPI das pesquisas

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- Obrigada por trazer meu almoço. Eu estava faminta e muito enjoada.

- Deve ser o vinho mãe.

- Que vinho Fernanda?

- Mãe, tem duas taças sujas de vinho no banheiro, você estava bebendo com quem?

Simone terminou de mastigar e virou para o computador a sua frente tentando parecer o mais desinteressada possível na resposta: - Soraya.

- Ah sim... péssima ideia de vocês de beber sem almoçar, por isso ficou assim enjoada.

- Já me sinto melhor, obrigada pelo almoço meu bem.

- Mãe, são quase 17 horas pode considerar um jantar - riu Fernanda.

Simone sorriu para sua filha e voltou a mexer no computador, estava contratando uma nova equipe de marketing para gerenciar suas redes. Não queria deixar um milhão de seguidores sem conteúdo, mesmo assim não conseguia tirar aquele beijo da sua cabeça.

- Ela vai apoiar o bolsonaro né?

- Oi? Quem?

- A Soraya, quem mais? vai apoiar ele.

- Não meu bem, ela se isentou.

- Isso é bem pior não é?

- Sim filha, na minha opinião sim. - Simone não queria aprofundar o assunto ficava nervosa quando alguém da sua família comentava sobre Soraya, mas sua filha não dava indícios de que pararia o assunto.

- Se bem que ela se uniu aos bolsonaristas para a CPI das pesquisas eleitorais.

- Como? Não existe uma CPI idiota dessas.

- Aaaaahhhhh, mas vai existir, e a Soraya deu o nome dela, deve estar "fechada com bolsonaro" de novo. - riu a adolescente vendo a expressao de espanto de sua mãe.

- Onde você viu isso Fernanda?

- Nas notícias.

Simone pegou o seu celular e digitou no Google, leu metade de uma matéria e se levantou furiosa...

Simone pegou o seu celular e digitou no Google, leu metade de uma matéria e se levantou furiosa

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- Mãe, onde você vai?

- Não saia daqui Fernanda, volto já.

Saiu da sua Ala a caminho do gabinete de Soraya, bateu na porta mas entrou antes de ser atendida.

- Pois não? - questionou a senadora espantada com a atitude de sua companheira de trabalho.

- Que história é essa de CPI das pesquisas Soraya? Você tá louca?

Soraya franziu a testa e balançou os ombros: - Qual o problema? vamos investigar essas instituições.

- É uma ideia ridícula, é queimar dinheiro público, você sabe disso e ainda faz um aceno ao bolsonarismo. Outra vez decidiu apoiar ele depois de tudo que passamos na CPI da covid e na campanha eleitoral?

- Não, você sabe que eu não estou apoiando nenhum dos dois.

- Não joga essa para cima de mim. - respondeu Simone visivelmente irritada. - Se for pra se isentar, faz direito, não fica acenando pro inimigo.

- Ôôôô Simone, vê se eu invado o seu gabinete pra palpitar sobre suas escolhas de CPI, tenha santa paciência né?

- Não, pra isso não, você só invade o meu gabinete para dar em cima de mim eme beijar.

- Ahhhhh me poupe Simone. - disse a onça revoltada. - Não tem nada mais para dizer, sai daqui por favor.

Tebet respirou fundo e começou a caminhar pra sair dali, ambas estavam alteradas, horas antes se beijavam com loucura no gabinete de Simone e agora brigam no gabinete de Soraya, não era pra ser assim, ou 8 ou 80%.

Antes de girar a maçaneta e sair dalí se virou mais uma vez para olhar Soraya que agora estava de pé com os braços cruzados.

- Escuta, é sério. Precisamos ser estratégicas, essa ideia acena para o bolsonaro outra vez, não é boa ideia Soraya. Repense. Por favor! É para o seu bem aqui dentro, se trata da sua continuidade na política.

Simone usava um tom amistoso, conciliador e preocupado, diferente da voz irada usada no começo da conversa.

Soraya caminhou na direção dela ainda com os braços cruzados, era impossível não ter em mente o fato de terem protagonizado um beijo extremamente sensual horas atras... mas agora Tebet aparecia em seu gabinete com um pedido desses, e com expressão de preocupação, como se realmente se importasse com ela.

- As pesquisas erraram Simone, você não acha estranho? - tentou com cautela, coisa que jamais faria com um oponente.

- As pesquisas acertaram exatamente os 0,5% de votos que você teria. Porque vai atrás disso? Não é para ser um problema seu... aliás quem tá te pedindo isso?

- Simone, para de se intrometer nas minhas decisões.

- Isso não é ideia sua e só vai te prejudicar aqui dentro. - Tebet segurou a mão de Soraya e a viu fechar os olhos para se concentrar naquele tato. - promete pra mim que você vai repensar?

Aquele carinho e olhar atencioso de Tebet era aconchegante demais, a senadora estava disposta a fazer o que ela pedisse mas se contentou em afirmar com a cabeça. Não disse nenhuma palavra.

Soltaram as mãos e Simone se virou novamente pra abrir a porta e sair dalí a caminho de sua ala, onde sua filha aguardava.

A política era um jogo de interesses, sempre foi assim mas o amor nunca foi um desses interesses. Soraya deu o dia por finalizado, saiu do gabinete e pegou o carro para voltar pra casa, pensou no beijo de Tebet e no seu pedido. Porque ela se importava tanto com a sua imagem agora? Afinal, as pautas de Soraya sempre foram pautas da Extrema direita, ela não ia mudar isso só pelo pedido de Tebet... era tentador, claro, ainda mais ela pedindo daquele jeitinho...

Adorou o tom de preocupação de Simone, qual deveria ser o signo dela?

Aproveitou que o carro estava parado no sinal vermelho e abriu o site para pesquisar os signos de sua ex professora.

- Peixes! Claro, tinha que ser! - Sorriu para si mesma.

Bastava agora abrir o personare.com e ver se combinava com gêmeos, seu signo, mas resolveu deixar isso para outro dia... afinal, parecia lésbico demais fazer isso.

Amor sem democraciaOnde histórias criam vida. Descubra agora