27. Mudanças Climáticas

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- É a terceira vez que o farol abre... vai... vamos... antes que alguém pare atrás de nós e comece a buzinar. - disse Soraya acabando com o silêncio naquele carro.

- Soraya... O que você quer de mim afinal? - Tebet olhou pra ela com os olhos inchados e curiosos.

- Nada! Bom, sei lá Simone... eu estava irritada...

- Irritada porque?

- Simone, você está vendo esse monte de vídeos que estão fazendo? você e a Janja como casalzinho apaixonado... eu... sei lá... me irritei.

- Já te falei, não tenho nada com ela. Olha, preste atenção, eu não quero ser a pessoa que fica se explicando ou... ou fica pedindo desculpas ou fica correndo atrás da outra cada vez que algo acontece, tipo essas montagens idiotas.... esperava mais maturidade da sua parte.

- Se me acha imatura porque está aqui? eu não te chamei, não pedi pra vir....

Simone recostou a cabeça no banco e olhou pra frente... era a quarta vez que o sinal fechava e não havia ninguém na rua, parecia só existir as duas naquele bairro.

- Eu vim porque eu estou apaixonada por você! - respondeu de uma só vez.

Soraya olhou pra ela, abriu a boca duas ou três vezes mas nenhum som saiu... logo ela que sempre foi tão impulsiva e espontânea nas palavras agora tinha ficado muda. Sabia rebater qualquer argumento, calar qualquer adversário, Soraya desde muito nova só sabia falar de guerra, só se comunicava assim... desconhecia a linguagem do amor.

Simone interpretou o silêncio como rejeição, engoliu o orgulho restante, endireitou a postura e voltou a dirigir, deu a volta poucos metros dali e conduziu até a casa de Soraya que observava a janela do passageiro e roía as unhas desconcertada.

Estacionou na frente do prédio da senadora e destravou a porta, o silêncio aumentava a angústia de ambas.

- Pode descer.

- Simone eu... eu não... não sei o que dizer...

- "Não receber mensagem também é mensagem". Não precisa dizer nada, eu não deveria nem ter vindo.

- Não chore, por favor!

- Desça do carro!!!

- Não precisa ser grosseira.

- Desça do carro!!! Por favor!

- Não fique irritada comigo Simone.

- Claro, só você pode ficar irritada, né? Só você pode ser grosseira!

- Não... bom... olha... vamos la.. Me desculpe ter te bloqueado... Simone, eu... Eu não sei fazer isso... - Soraya virou novamente pra janela do passageiro, o que deveria fazer, pedir mais desculpas? como confessar também estar apaixonada? Nao seria ir longe demais? minutos antes pensava que Simone era uma "pegadora de casadas", "soca forte", "Don Juan" como todos os vídeos diziam.... agora ela está na sua frente e acabou de confessar seus sentimentos... - Eu.... não sei fazer isso, não vou, tipo... - voltou a olhar pra Simone e as lentas lágrimas que desciam de seu rosto sério. - Droga, eu estou confusa, me desculpe.

- Por favor, saia do meu carro!

- Simone... não pens...

- Por favor!

Uma leve chuva começou a cair e Soraya abriu a porta, sentia as gotas geladas alcançarem parte do seu corpo como se a despertasse, a acordasse...

Saiu do carro, bateu a porta e respirou profundamente sentindo raiva de sí mesma... estava frio e as gotas engrossavam, geladas e pesadas! Sentiu o cheiro da chuva e olhou pro chão, queria chorar tambem mas não conseguia, estava irritada, como sempre irritada.

Amor sem democraciaOnde histórias criam vida. Descubra agora