0.19 ☽ ᴇᴛéʀᴇᴏ, Qᴜᴀꜱᴇ ꜰᴀɴᴛᴀꜱᴍᴀɢóʀɪᴄᴏ

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Han Jisung adentrou na escuridão com a confiança de quem já a conhecia como a palma de sua mão.

Todavia, o Detetive estava certo de que o jovem, assim como ele próprio, nunca havia estado ali antes. Pelo menos, não presencialmente, pensou ao vê-lo quase tropeçar na sutil elevação que havia entre a porta e o interior vasto de um studio iluminado apenas pelas três largas janelas que percorriam a parede oposta à porta.

Felizmente, por ter cômodos integrados, era fácil verificar com apenas um olhar - da pequena cozinha até o espaço com sofá e TV próximos às janelas - que Felix não se encontrava ali. Jisung desceu os dois degraus que levavam do balcão da cozinha até o espaço mais largo que seria a sala, acendendo as luzes pelo seu caminho até uma das pouquíssimas portas do recinto, o banheiro.

Chan, silenciosamente, também desceu. Agora, com o cômodo iluminado por luzes artificiais, não pôde ignorar os rastros esporádicos de sangue. Ele os seguiu a passos firmes, com o coração comprimido em seu peito.

— Ele não está no banheiro, então deve...

Han não completou, seu olhar inquieto pousou sobre o Detetive parado em frente às portas duplas de correr que funcionavam quase como uma parede, uma luz azulada escapando pelos vidros turvos delas.

A luz expandiu-se no momento em que as portas foram abertas, revelando o quarto banhado em uma galáxia de azul escuro e pontos arroxeados. Seria lindo, as cores vibrantes e pontos estelares que advinham do pequeno projetor ligado no chão, se apenas há poucos metros dele não estivesse um corpo desacordado.

— Merda!

Han Jisung passou por ele com passos apressados antes mesmo que ele pudesse desviar o olhar da garrafa vazia de soju caída ao lado de algumas peças de roupas. Chan observou quase atônito o Facilitador colocar-se de joelhos ao lado do loiro, virando seu corpo de barriga para cima enquanto suas mãos desesperadamente alcançavam o rosto sardento irresponsivo. Do batente, só era possível ver a parte superior do corpo do garoto, mas o olhar esporádico de Han para a direção ocultada pela cama deixava claro que o problema estava em algum lugar dos membros inferiores.

— Felix? — Han o chamou, dando-lhe tapinhas sonoros na bochecha, após ter afastado os fios loiros do rosto úmido. — Felix!

As sobrancelhas de Felix se franziram e seu rosto pendeu desajeitadamente para o lado oposto à voz que falava com ele.

Uhm... Cai fora, porra.

Chan forçou-se a inspirar novamente, até então nem tendo notado que havia segurado a respiração ou os músculos enrijecidos de seu corpo tenso. Han, por sua vez, soltou uma respiração risonha.

— Você sonha — suspirou — Alguém tem que consertar suas merdas, não é?

Felix não o respondeu, talvez não houvesse nem mesmo ouvido. Chan abaixou-se para pegar do chão a mochila que Han deixou cair ao correr e, ligando o interruptor da luz para que pudessem enxergar melhor, levou-a até o Facilitador.

As peças de roupas no chão, no fim das contas, não eram apenas o casaco do Emissário, mas também suas calças. E, com a luz tipicamente branca da lâmpada quebrando os vislumbres de galáxias que escondiam tons avermelhados, seus olhos rapidamente pousaram sobre as pernas nuas do garoto no chão. Ele sabia, pela abrupta aspiração ruidosamente quebrada de Han, que não era o único a fitar a coxa ensanguentada e os grampos que, grotescamente, mantinham as bordas da carne cortada juntas.

— Felix... Que porra você estava pensando?

Chan sabia que se olhasse em volta, provavelmente acharia em meio às roupas descartadas desajeitadamente um grampeador cirúrgico e o simples fato do garoto ter algo do tipo em sua casa era o suficiente para deixar sua boca abruptamente seca.

Solivagant • chanlixOnde histórias criam vida. Descubra agora