Correligionário

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— O que houve com a sua mão? — Beatrice me tira dos meus pensamentos, levanto a cabeça em sua direção, ela deixa as mãos relaxadas ao lado do corpo, até sua postura está melhor do que há uma semana.

— Nada de mais. — ela senta ao meu lado.

— Ganhamos.

— É, parabéns. — falo sincera.

— Você também fez isso no seu ano de iniciação? — pergunta me olhando com seus grandes olhos verdes.

— Sim, foi bem divertido, minha equipe ganhou. — sorrio ao lembrar.

— Quatro era da sua equipe?

— Sim, era. — aquele dia foi incrível, uma saudade invade meu peito. Naquela época não tinha tanta preocupação, não era tão infeliz assim.

— Vocês são amigos? — franzo o cenho, imaginando o porquê dessas perguntas.

— Não. — éramos muito mais que amigos. Essa resposta amarga minha boca e eu tenho que me controlar para não cuspir. — Você e Christina são amigas?

— Acho que sim. Ela é bem sincera, então se não gostasse de mim já tinha falado na minha cara. — ela ri.

— Franqueza é abominável. — dou risada também.

— Mas eu gosto dela. Ela é legal, na maioria das vezes. — dá de ombros.

— Não deixa nada atrapalhar isso. Ter amizades por aqui é bom. — Shauna e Tori são tudo o que tenho aqui, não me imagino sem elas. E infelizmente estou me afastando, não posso fazer isso. Não com elas. — Bom, eu vou dar uma volta.

Levanto e ela faz o mesmo.

— Mas nós já estamos indo. — aponta para os outros que estão pegando tudo para ir aos trilhos do trem.

— Não se preocupe, eu vou logo atrás de vocês. — sorrio e caminho em direção oposta.

Fico atrás de uns brinquedos antigos, observando todos irem embora, Eric se vira procurando por mim, talvez. Beatrice diz algo a ele e se encolhe logo depois como se tivesse levado uma bronca, Quatro se coloca no meio e parece tranquilizar a situação. Eles se afastam indo embora e agradeço em silêncio por terem mentido por mim. Não vou voltar para o Complexo hoje. Não para dentro dele. Vou dar um jeito de escalar e dormir no meu lugar de paz. Os guardas não podem me ver chegando mais de cinco da manhã.

Olho o relógio. Duas da manhã, bem como imaginei. Vou para a roda gigante, me arrumo, guardando corretamente os itens que irei precisar. Caminho pelo lugar esperando que a hora passe rápido.

— Boa noite. — ouço uma voz fina, um pouco suave. Me viro em sua direção, respirando fundo.

— Boa noite, Evelyn. — sorrio. — É ótimo ver você aqui.

— Fiquei curiosa para saber quem era. Eu lembro de você. — seus olhos são tão enigmáticos quanto os do seu filho.

— Sim, acho que você lembra de mim.

— Você estava espiando quando encontrei com meu filho na plataforma. — franzo o cenho e dou risada, parece que meu esconderijo não era tão bom assim.

— Achei que lembrasse de mim da Abnegação. Sou uma Prior. — ela levanta as sobrancelhas.

— Ah, mas é claro. A mais velha dos Prior. — sorri. — Não me impressiona que seja da Audácia agora.

Sorrio ao escutar isso.

— Mas então, vamos direto ao ponto. Espero que ninguém mais saiba dessa reunião, eu tenho pessoas ao meu lado, se pensa que pode fazer alguma coisa contra mim. — sua voz soa aspera agora, ameaçadora. Ela está vestida com um casaco maior do que ela, presumo que seja da Amizade e uma calça preta. A lua permite que eu veja todo o seu rosto. Sombrio e misterioso, conheço alguém assim.

Subversivo (1.1 Divergente) Onde histórias criam vida. Descubra agora