Revolta

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Escuto barulhos de sapatos por todo o corredor, um som repetido como se estivessem marchando. Minha cabeça está doendo muito, as lembranças voltam aos poucos e eu sinto vergonha e raiva ao mesmo tempo. Surtei ao ver Beatrice beijando o idiota do Tobias, fiz um show. Ainda bem que ninguém além das minhas amigas escutaram o que falei.

Bufo e troco de roupa rapidamente para ver o que droga está acontecendo lá fora. Abro a porta discretamente e vejo meus vizinhos em fileira, saindo do corredor indo em direção à escadaria.

Vou atrás deles e encontro mais pessoas assim.

— Oi? — pergunto para Henri, o cara que mora ao lado do meu apartamento. Ele nem olha para mim, apenas continua andando. Sua boca está semiaberta pois parece que seus músculos faciais estão muito relaxados, anda de forma estranha e seus olhos estão tão vidrados seguindo os outros que me impressiona ele não tropeçar. Todos estão assim, agindo como robôs. Hipnotizados. Toco meu pescoço me recordando de uma das várias coisas que aconteceu ontem. O novo soro.

Sinto meu corpo gelar. O soro não deve ter funcionado em mim. Não deve ter funcionado em nenhum divergente. Mesmo que desconfie que as câmeras tenham me flagrado, começo a andar como eles e segui-los para onde quer que estejam indo. Começo um pouco desajeitada, mas logo consigo acompanhar o ritmo.

Descemos a escadaria e viramos à direita, Max está no corredor, nos observando. Sinto seus olhos sobre mim e o ignoro como todos os outros. Me seguro para não apertar a mandíbula com raiva, eu não acredito que não previ isso. Começou. O que quer que Jeanine tenha planejado, começou agora e não sei se estou preparada para isso.

Subimos um lance de escadas e seguimos no mesmo ritmo por quatro corredores. De repente, o corredor se abre em uma enorme caverna. Dentro dela, há uma multidão de integrantes da Audácia. Há fileiras de mesas com montes pretos sobre elas. Não consigo ver o que há nas pilhas até que eu estou a meio metro delas. Armas. Claro. Eu faço o mesmo que todos, pego uma arma, um coldre e um cinto fazendo exatamente os mesmo gestos de Henri. Depois disso andamos em direção a saída. Mesmo estando escuro, aproveito para olhar ao redor a procura de mais alguém acordado... Espero que Beatrice esteja bem.

Sinto-me mal por Tori, Zeke e Shauna, eu vou tirá-los dessa, vai ficar tudo bem.

Provavelmente vamos até a Abnegação. Somos fantoches nas mãos da Erudição, indo lutar para eles. Não irei compactuar com isso, mesmo que eu morra ainda assim juro levar Jeanine comigo. Não vou permitir que toque em minha família, não me importo de morrer por eles.

Preciso encontrá-los, preciso saber se estão bem. Mesmo depois de tudo o que aconteceu ontem – o que não sai da minha cabeça – ainda me importo. Eu prometi proteger os dois e é isso que farei.

Paramos em frente aos trilhos do trem, que por sua vez está parado, uma pessoa está em cima ajudando todas as outras a subirem. Consigo identificar mais dois líderes da Audácia acordados perto do vagão do trem, tenho medo que me vejam olhando para os lados então me atento a manter meu olhar fixo me contentando apenas com a visão periférica.

Seguro o braço do rapaz em cima do vagão com o mínimo de esforço possível, me estabilizo rapidamente e vejo Tobias com o rosto tão inexpressivo quanto todos os outros, Beatrice está ao seu lado e sei que por um segundo ela desviou o olhar para mim. Não demoro mais e me posiciono ao lado de Tobias, sei que devo permanecer com eles. Nós daremos um jeito de sairmos daqui.

Nos organizamos em quatro fileiras, com ombros alinhados. Algo arranha minha mão e logo após dedos se entrelaçam nos meus, mesmo sabendo que ele também não está sendo controlado sinto um alívio enorme, ele acaricia minha mão como sempre fazia para me acalmar. Lágrimas se acumulam em meus olhos enquanto o trem começa a se mover.

Subversivo (1.1 Divergente) Onde histórias criam vida. Descubra agora